Seduc disse que demissão estava relacionada à convocação de aprovados em um concurso público. Mas à Defensoria Pública admitiu que o vazamento das fotos íntimas influenciou no desligamento. Documento aponta vazamento de fotos íntimas de professora como motivo de demissão
Acervo pessoal
Embora tenha negado ao g1 que a demissão da professora Bruna Flor de Macedo Barcelos estivesse relacionada ao vazamento de fotos íntimas dela, a Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc) confirmou à Defensoria Pública, em documento assinado pela Superintendência de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, que o vazamento das fotos foi, realmente, o que motivou o desligamento da profissional de uma escola estadual, em Alto Paraíso de Goiás.
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A reportagem entrou em contato com a Seduc Goiás por e-mail e solicitou um novo posicionamento a respeito do caso, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
As fotos nuas, segundo a professora, foram vazadas por estudantes que tiveram acesso a uma pasta privada do celular pessoal dela. Bruna tinha emprestado o aparelho para que os alunos tirassem fotos de um evento escolar que, posteriormente, seriam usadas em uma atividade pedagógica.
Após o ocorrido, Bruna diz ter sido destratada pela gestão da escola e também por outros educadores. Ela tinha um acordo com o governo estadual, em que trabalharia por 5 anos como professora temporária na Escola Estadual Doutor Gerson De Faria Pereira. Mas, com apenas oito meses de contrato, foi demitida.
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No documento, ao qual o g1 teve acesso com exclusividade, a Seduc afirma que a divulgação das fotos íntimas da professora causaram “grande constrangimento” e que os estudantes estavam “extremamente envergonhados, sem jeito de assistirem as aulas da professora”. Diz ainda que a situação se tornou um “perigo iminente de prejuízo educacional”.
“No aparente dilema entre o princípio da presunção da inocência da acusada e o princípio da proteção integral da criança e do adolescente, deve prevalecer a proteção”, diz o texto.
Por outro lado, como mostrou uma reportagem do g1, vários estudantes procuraram Bruna para mandar mensagens de apoio e agradecimento após descobrirem sobre a demissão dela.
O documento ainda reforça que o contrato vigente com a professora pode, sim, ser rescindido em caso de “conveniência da administração” ou “quando assim recomendar o interesse público”.
Outra versão
O documento foi assinado em 16 de fevereiro deste ano e enviado em resposta à Defensoria Pública de Goiás, que tinha questionado o motivo da demissão de Bruna à Seduc. Porém, em nota enviada ao g1 em 26 de março deste ano, a pasta deu motivação diferente para a demissão da professora.
De acordo com a nota, Bruna foi contratada em regime emergencial para suprir uma demanda da unidade escolar e o desligamento dela se deu “devido à convocação de novos professores aprovados no concurso público realizado em 2022, que assumiram, de forma efetiva, em 2023, vagas dos contratos especiais na rede pública estadual de ensino”.
Na ocasião, a Seduc Goiás não deu nenhuma declaração a respeito do vazamento das fotos e da denúncia da professora de que foi destratada por colegas e pela gestão da escola.
Na nota enviada à reportagem, a pasta se resumiu a dizer que, sobre a conduta de Bruna, “segue a legislação de proteção à criança e adolescente, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)”.
Fotos nuas vazadas
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Bruna conta que se sentiu exposta e muito constrangida com o vazamento das fotos. A Polícia Civil investiga o caso e informou que os estudantes que teriam acessado as mídias já foram identificados. Caso fique comprovado a ação, eles poderão responder por ato infracional análogo ao crime de divulgação de cena de nudez sem o consentimento da vítima. Não foi informado quantos alunos são.
“Me senti violada, violentada. Na sequência, a gestão da escola criou um ofício dizendo que os estudantes se sentiam constrangidos de assistirem às minhas aulas por terem visto minha foto nua. Uma inversão de quem foi vítima na situação”, disse a professora.
A Delegacia de Polícia de Alto Paraíso também já colheu depoimento da vítima, da diretora da escola e de professores. “A PCGO informa que acompanha o caso detidamente, com prioridade, e já prestou as orientações devidas à vítima”, informou.
A gestão da escola soube do ocorrido após uma coordenadora ver diversos estudantes reunidos e, ao se aproximar, ver que eles estavam olhando uma foto da professora nua. Mesmo assim, a gestão permitiu que ela trabalhasse até o final do dia com todos já sabendo do vazamento, exceto ela.
“Eu trabalhei até o quinto horário normalmente, sem saber de nada. Enquanto estava todo mundo já sabendo da situação, eu só vim a saber às 18 horas, quando a diretora, no final do dia, me chamou para uma reunião, dizendo que era [uma conversa] só eu entre mim e ela. Mas tinham seis pessoas na sala, me senti inibida e é onde ela me passou o fato. Fiquei estarrecida”, relembrou a professora.
Escola Estadual Doutor Gerson de Faria Pereira, em Alto Paraíso de Goiás
Reprodução/Google Street View
Bruna defende que o celular foi emprestado porque a escola não tinha aparelhos que fizessem filmagem e que o registro do evento, que fazia parte do Mês da Consciência Negra, era importante.
“Solicitar que estudantes façam o registro de uma atividade é dotá-los de autonomia tem valor imprescindível para um ser humano livre e cidadão”, afirmou.
‘Sem dinheiro para me alimentar’
A professora de história desabafou dizendo que, desde que foi demitida, em 2 de novembro do ano passado, tem vivido de favor na casa de pessoas porque não tem mais condições de pagar aluguel.
“Eu fui demitida em novembro, mas as consequências disso estão até hoje, porque eu fiquei sem como pagar o aluguel, estou vivendo na casa de pessoas, de 20 em 20 dias eu troco de casa. Tenho recebido muita humilhação, não estou tendo dinheiro para me alimentar, um constrangimento muito grande”, lamenta a professora.
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