3 de outubro de 2024

Dólar opera em alta, com temores crescentes com o Oriente Médio; Ibovespa cai

No dia anterior, a moeda norte-americana caiu 0,36%, cotada a R$ 5,4441. Já o principal índice de ações da bolsa fechou em alta de 0,77%, aos 133.515 pontos. Foto mostra edifícios destruídos após ataque de Israel aos subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, em 3 de outubro de 2024.
Reuters/Mohamed Azakir
O dólar abriu em alta nesta quinta-feira (3), refletindo uma maior aversão aos riscos dos mercado globais, com a escalada dos conflitos no Oriente Médio. Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em queda, influenciada pelos mesmo motivos.
Enquanto o mundo aguarda atento um contra-ataque de Israel ao Irã, após o país árabe lançar centenas de mísseis contra o território israelense na terça-feira (1), o preço do petróleo não para de subir, gerando preocupação com a inflação.
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Por se tratar da principal fonte de energia para a maioria dos países, uma alta acelerada nos preços da commodity — que já subiu cerca de 6% desde a última sexta-feira (27) — tem força para pressionar a inflação de curto prazo pelo mundo, com o encarecimento dos combustíveis.
Isso em um momento em que os Estados Unidos acabaram de iniciar um ciclo de cortes em suas taxas de juros, com perspectivas de que o ambiente inflacionário está mais controlado, reforça a visão do mercado de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve reduzir o tamanho das quedas em suas próximas reuniões.
Hoje, as taxas americanas estão entre 4,75% e 5,00% ao ano, depois do Fed cortar os juros em 0,50 ponto percentual em setembro.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
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Dólar
Às 10h20, o dólar subia 0,50%, cotado a R$ 5,4714. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda caiu 0,36%, cotada a R$ 5,4441.
Com o resultado, acumulou:
alta de 0,14% na semana;
queda de 0,05% no mês;
ganho de 12,19% no ano.

O
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa caía 1,22%, aos 131.886 pontos.
Na véspera, o índice subiu 0,77%, aos 133.515 pontos.
Com o resultado, acumulou:
ganhos de 0,59% na semana;
alta de 1,29% no mês; e
queda de 0,50% no ano.

O que está mexendo com os mercados
A escalada dos conflitos no Oriente Médio trouxe um sentimento de maior aversão aos riscos para o mercado nesta quinta-feira (3).
Depois de quase um ano dos ataques do grupo terrorista Hamas aos israelenses, e de uma guerra que devastou a Palestina, o enfrentamento vinha escalando com a entrada do grupo extremista Hezbollah — que nasceu no Líbano, é financiado pelo Irã e aliado do Hamas.
O avanço nas tensões na região começou há duas semanas, quando pagers e walkie talkies de integrantes do grupo extremista Hezbollah explodiram em série, o que o grupo atribui a Israel.
Nos dias seguintes, Israel passou a atacar regiões do Líbano mirando alvos do Hezbollah e, na última sexta-feira (27) matou o chefe do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah e outros líderes.
Israel, na segunda-feira (30), iniciou uma incursão por terra no Líbano, no que classificaram como uma operação limitada contra alvos do Hezbollah.
No sábado (28), o líder supremo do Irã, que apoia e financia o Hezbollah, disse que a morte de Nasrallah não ficaria “sem vingança”. Depois disso, na terça-feira (1), o Irã disparou centenas de mísseis contra Israel, que prometeu retaliação.
Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, também disse que vai retaliar o Irã pelo ataque promovido contra o país.
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E na iminência de contra-atacar o Irã, Israel continua bombardeando o Líbano, ainda sob a alegação de desmantelar o Hezbollah. O país lançou nesta quinta-feira (3) novos bombardeios no centro de Beirute, no Líbano, segundo testemunhas ouvidas pela agência de notícias Reuters. Explosões também aconteceram nos subúrbios da capital libanesa.
Os ataques deixaram nove pessoas mortas e outras 14 feridas, segundo o governo local — no total, mais de 1.000 pessoas morreram no Líbano em quase duas semanas de bombardeios de Israel.
Essas tensões, que geram preocupação com a escalada do conflito para uma guerra total no Oriente Médio, já fizeram o preço do petróleo disparar cerca de 6% deste a última sexta-feira.
A região é a mais importante do mundo na exportação da commodity e qualquer conflito lá pode gerar problemas de oferta e desabastecimento para o mundo todo, que tem o petróleo como principal fonte de combustível e energia.
Além disso, os temores também direcionam os investidores para o dólar, considerada a moeda mais segura do mundo, em busca de proteção contra os ativos de risco — como mercado de ações e moedas de países emergentes, como o Brasil —, que tendem a apresentar mais volatilidade, principalmente em momentos de incertezas política e econômica.
Ainda no exterior, os dados de emprego marcam a semana nos Estados Unidos.
Hoje, o Departamento do Trabalho divulgou que o número de pedidos iniciais por seguro-desemprego subiu para 225 mil na semana passada, acima das projeções de 222 mil e também mais do que os 219 mil registrados na semana anterior.
Nesta quarta, o Relatório Nacional de Empregos da ADP mostrou a criação de 143 mil novas vagas privadas não-agrícolas no país em setembro, bem acima da projeção de 124 mil e dos 103 mil novos postos registrados em agosto.
Os vieram acima das projeções e em linha com o resultado do relatório de ofertas de emprego JOLTS, divulgado na terça, que é uma pesquisa do Departamento do Trabalho americano que monitora e mede o número de empregos, demissões e novas vagas no país.
Segundo o JOLTS, o país gerou 8,04 milhões de vagas em agosto, uma aceleração em relação aos 7,673 milhões registrados em julho e acima das projeções.
Jerome Powell , presidente do Fed, reforçou a intenção da instituição em acompanhar de perto esses números e que não está “com pressa para cortar as taxas de juros”.
Nesta segunda (30), o Powell disse que o BC vai reduzir os juros em mais 0,50 ponto percentual daqui até o fim do ano — 0,25 em cada uma das reuniões que ainda restam em 2024 —, e somente se os dados econômicos, com destaque para inflação e mercado de trabalho, vierem em linha com o esperado.
E numa semana marcada por diversas divulgações, o dado mais aguardado só chega na sexta-feira, com o relatório de empregos mais popular dos Estados Unidos, o payroll. A expectativa do mercado financeiro é que a taxa de desemprego tenha se mantido em 4,2% em setembro, com uma geração de 144 mil empregos não-agrícolas.
No Brasil, o dia é de agenda econômica vazia, mas investidores seguem repercutindo a elevação da nota de crédito do Brasil pela agência classificadora de riscos Moody’s, de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva. Isso colocou o Brasil a um passo do grau de investimento, um selo que classifica o país como um bom pagador e com baixo risco de calote.
A nota Ba1 ainda indica um grau especulativo. Ou seja, o país está menos vulnerável aos riscos no curto prazo, principalmente pelo crescimento do PIB, que subiu 1,8% no segundo trimestre, mas com incertezas importantes no radar, com destaque para os riscos fiscais
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, diz que, em um momento em que o mundo toda enfrenta problemas com dívidas altas, o Brasil “não é diferente disso”.
“Há, sim, um problema de pressão fiscal na economia brasileira. O governo está gastando muito”, diz Gala. “A Moody’s reconhece a luta do Ministério da Fazenda para honrar o arcabouço fiscal, mas tem desafios que não são pequenos”.
No entanto, reforça a visão de que as perspectivas são positivas para o país, o que pode levar a uma nova elevação da nota mais para frente, e que, entre os pares emergentes, a situação do Brasil gera mais confiança entre os investidores. “O país demanda cuidados, mas não tantos cuidados assim”.
Na segunda, o Banco Central (BC) divulgou que as contas do setor público do país tiveram um déficit primário de R$ 21,4 bilhões em agosto. O déficit primário acontece quando as receitas com impostos ficam abaixo das despesas, desconsiderando os juros da dívida pública.
O Governo Federal foi o único ente da pesquisa que teve um déficit, de R$ 22,3 bilhões. Os estados e municípios tiverem um superávit de R$ 435 milhões, enquanto as empresas estatais apresentaram superávit de R$ 469 milhões.
Já no acumulado do ano até aqui, as contas públicas apresentaram um resultado negativo de R$ 86,2 bilhões, o equivalente a 1,14% do PIB. Para 2024, a meta fiscal, fixada pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), é de um déficit de até R$ 13,31 bilhões.

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