4 de outubro de 2024

Dona de clínica se passou por médica para entrar em hospital e aplicar injeção em influencer que morreu após colocar PMMA no bumbum, diz polícia

Aline Maria Ferreira pagou R$ 3 mil para fazer o procedimento estético. Grazielly da Silva Barbosa, dona da clínica, foi indiciada por homicídio. Grazielly da Silva Barbosa, dona da clínica estética Ame-se, e a modelo Aline Maria Ferreira
Reprodução/Redes Sociais
A empresária Grazielly da Silva Barbosa se identificou como médica para entrar no hospital onde a influencer Aline Maria Ferreira estava internada e aplicou uma injeção de anticoagulante na mulher, segundo a delegada Débora Melo. A influencer morreu após passar mal e ser internada devido ao procedimento estético com PMMA no bumbum realizado na clínica de Grazielly Barbosa.
“Ela adentrou o hospital identificando-se como médica, aplicou uma injeção de um medicamento anticoagulante em Aline”, disse a delegada.
O g1 entrou em contato com o hospital onde a mulher estava internada para pedir um posicionamento, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
Grazielly da Silva Barbosa foi indiciada por homicídio. De acordo com a delegada Débora Melo, a dona da clínica foi para uma festa e não dormiu na noite anterior à aplicação de PMMA nos glúteos de Aline.
“Tudo indica que naquela noite ela não dormiu. Ela foi para uma festa, ficou até 2h, 3h da manhã nessa festa, depois foi para casa e continuou em casa com convidados, com o namorado e outras pessoas em contexto de festa”, detalha a delegada.
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Ainda segundo a polícia, influenciadora de 33 anos pagou R$ 3 mil pelo procedimento estético para aumentar o bumbum. Ao g1, o advogado Thiago Huascar informou nesta quinta-feira que a defesa de Grazielly não irá se pronunciar sobre o indiciamento. Na época da prisão preventiva, em 3 de julho, a defesa da empresária disse que ela jamais quis esse resultado, se referindo à morte de Aline, e expressou solidariedade à família da modelo. Grazielly teve a prisão convertida para domiciliar.
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Riscos no procedimento
A delegada Débora Melo afirmou que a perícia encontrou a presença de PMMA no corpo de Aline. Ela também revelou que Grazielly Barbosa, dona da clínica Ame-se, declarou à polícia que, embora não quisesse realizar o procedimento, acabou o fazendo.
“Na época ela não nos contou [sobre não ter dormido], mas ela sabia de tudo isso e ainda assim assumiu o risco de realizar o procedimento”, explicou a delegada.
Outro ponto destacado pela polícia foi que, apesar de não ter qualificação técnica para comprar e manusear o PMMA, Grazielly “tinha conhecimento do alto grau de risco da substância, classificada como de risco máximo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.
“O celular dela tem provas de que pelo menos desde 2022 ela já se informava a respeito dessa substância. Fazia pesquisa a respeito da substância, mas não executava. Comentava com parceiros. Ela decidiu utilizar e sabia dos riscos relacionados. Tanto da substância em si, quanto da própria aplicação”, disse.
Morte de influencer
Influenciadora Aline Maria Ferreira morreu após fazer cirurgia estética.
Reprodução/Redes Sociais
Aline saiu de Brasília e foi para Goiânia para passar pelo procedimento no dia 23 de junho. O marido da influenciadora disse à polícia que a aplicação foi rápida e eles retornaram para Brasília no mesmo dia, com Aline aparentando estar bem, apesar de já sentir muitas dores. Com o passar dos dias, segundo a delegada, as dores não diminuíram e a influencer passou a apresentar fraqueza e febre.
Mesmo medicada, a influenciadora continuou com febre, e no dia 26, começou a sentir dores na barriga. No dia 27, Aline piorou e desmaiou. O marido a levou ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde ficou por um dia e depois foi transferida para um hospital particular da Asa Sul. Lá, precisou ser entubada na UTI e teve duas paradas cardíacas.
Pablo ainda disse que, após o procedimento, Aline sentiu dores de barriga, febre, desmaiou e teve uma parada cardíaca. Ele ainda contou à polícia que Grazielly chegou a tentar convencê-lo a não levar a mulher ao hospital. Conforme o depoimento do marido, quando ele e a esposa estavam no hospital, Grazielly foi até a unidade para verificar os locais das injeções no corpo de Aline e, em seguida, aplicou um remédio na veia da paciente, dizendo que era para evitar trombose.
Pablo Batista contou ainda que os médicos conseguiram reanimar Aline após ela ter uma parada cardíaca. No entanto, ele detalhou que a esposa piorou e teve os pulmões, os rins e o coração comprometidos.
Aline morreu dia 2 de julho e o corpo dela foi velado e sepultado no dia 4, no cemitério Campo da Esperança do Gama. Segundo o marido da influencer Aline Maria Ferreira, Pablo Batista, o procedimento feito com a dona da clínica Ame-se durou cerca de 15 minutos.
Sem graduação
Grazielly da Silva Barbosa e a clínica em que ela atuava, em Goiânia
Divulgação/Polícia Civil
Grazielly se apresentava como biomédica, mas, para a polícia, explicou que cursou somente três semestres de medicina no Paraguai, além de ter feito cursos livres na área. Segundo a delegada Débora Melo, Grazielly não apresentou nenhum certificado que comprove a conclusão desses cursos até a tarde de quinta-feira (4). E, portanto, ao que tudo indica, não tem competência para atuar na área.
Durante buscas feitas na clínica, os policiais não encontraram contratos de prestação de serviços, prontuários ou qualquer documento que registrasse a entrevista com pacientes. Isso, segundo a polícia, indica que não houve checagem se Aline tinha alguma condição de risco. Essa etapa deveria ser a primeira a ser feita antes da realização de qualquer procedimento.
Clínica Ame-se, localizada em Goiânia
Divulgação/Polícia Civil
No dia do procedimento, segundo a delegada, a região do bumbum da influenciadora foi higienizada e, em seguida, Grazielly fez marcações de onde o produto seria aplicado. O marido da influenciadora, que acompanhou a realização do procedimento, diz que foi feita a aplicação de 30ml de PMMA em cada glúteo. A polícia disse que Aline pagou R$ 3 mil para a realização de três sessões de aplicação do produto, mas a influenciadora morreu depois da primeira.
Em nota, a fabricante do PMMA, MTC Medical, informou que as investigações do caso apontam que produto que foi injetado foi retirado de potes da bolsa da falsa biomédica e que as seringas foram então enchidas com esse material. Esse manejo, segundo a fabricante, é totalmente distinto do PMMA legítimo, o qual é vendido exclusivamente a médicos (veja nota completa abaixo).
Nota da fabricante de PMMA:
‘”Os fabricantes das marcas de PMMA no Brasil informam que: O PMMA possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, o qual é obtido somente após rigorosa análise da agência acerca das boas práticas de fabricação e estudos clínicos de segurança e eficácia. Apenas médicos estão autorizados a ofertar procedimentos de preenchimento com PMMA.
O modus operandi dos clandestinos para atrair vítimas consiste em anunciar procedimentos com PMMA, porém com um valor muito aquém de qualquer serviço minimamente seguro, o que por si só é capaz de levantar a suspeita de uso de produtos adulterados, falsificados ou totalmente incompatíveis com o uso médico, como é o caso do silicone industrial.
As investigações do caso da morte da influencer ALINE MARIA FERREIRA apontam que produto que lhe foi injetado foi retirado de potes da bolsa da falsa biomédica e que as seringas foram então enchidas com esse material, cuja apresentação é totalmente distinta do PMMA legítimo, o qual é vendido exclusivamente a médicos.
É perceptível que o óbito ocorreu em razão do mercado clandestino de estética e não do produto PMMA, pois (1) a influencer se submeteu aos cuidados de uma pessoa sem qualquer formação na área de saúde; (2) a clínica não possuía alvará sanitário; (3) o valor pago pelo procedimento, conforme depoimento do viúvo estava muito aquém de qualquer procedimento que pudesse ser feito por estetas e (4) o marido da vítima e outra testemunha já confirmaram não ter sido PMMA o produto utilizado, em razão da apresentação do mesmo.
Lamentamos profundamente que mais uma jovem tenha perdido a vida para o mercado clandestino de procedimentos estéticos e alertamos a população que apenas médicos devidamente habilitados e que demonstrem possuir alvará sanitário estão autorizados a comprar PMMA.
Ressaltamos ainda o nosso compromisso com a verdade baseada em ciência e evidências e combatemos fortemente o uso do nome do produto PMMA em fake News que induz a população a erro e pânico, submetendo-se cada vez mais a procedimentos clandestinos colocando a vida e a saúde em risco.
Brasil, 11 de julho de 2024
MTC Medical
Lebon Farma”.
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