Polícia procura Cleber Silva e Terezinha Conceição desde 26 de agosto. Eles são acusados de dar remédios a Jarmo Santana em Cotia, Grande SP. Monitor Matheus Pinto está preso por agredir paciente. Laudo da morte aponta ‘fármacos psiquiátricos e ‘trauma abdominal’. Casal Cleber Silva e Terezinha Conceição são donos de clínica de terapia em Cotia, onde paciente foi torturado e depois morreu
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A Polícia Civil procura há uma semana os dois donos da clínica de terapia para usuários de drogas em Cotia, na Grande São Paulo, acusados de torturar um paciente até a morte em julho. Eles são considerados foragidos da Justiça. Até esta segunda-feira (2) não tinham sido presos ou se entregaram.
A Vara Criminal de Cotia decretou no último dia 26 de agosto, segunda-feira retrasada, as prisões preventivas de Cleber Fabiano da Silva e de Terezinha de Cássia de Souza Lopes da Conceição. Eles são proprietários da Comunidade Terapêutica Efatá. Os dois ainda são enfermeiros e casados.
A Justiça ainda tornou Cleber e Terezinha réus por participarem da tortura e morte de Jarmo Celestino de Santana. O monitor da clínica, Matheus de Camargo Pinto, também é réu no mesmo processo e já está preso preventivamente desde julho. Prisões preventivas costumam durar até o eventual julgamento dos acusados.
De acordo com o Ministério Público (MP), os enfermeiros deram para Jarmo um coquetel de medicamentos. O objetivo, segundo eles, seria o de sedar o paciente que teria chegado agitado e agressivo à clínica. O casal já havia respondido a um processo anterior por maus-tratos contra internos em outra clínica que tinham na mesma cidade. Mas não foram responsabilizados nesse caso.
O monitor foi acusado pela Promotoria de agredir o paciente. Ele chegou a filmar e compartilhar um vídeo nas redes sociais que mostra a vítima com os braços para trás, amarrados com corda, e presos a uma cadeira. Nas imagens é possível ver outras pessoas rindo e zombando do paciente.
Matheus ainda enviou uma mensagem de voz para uma outra pessoa confirmando ter agredido o interno: “Cobri no cacete”. Em outros vídeos gravados, ele aparece rezando no local com mais internos antes do crime (veja abaixo). Jarmo não aparece nas imagens.
Paciente é torturado e morto em clínica na Grande SP
Laudo do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que Jarmo morreu por causa dos 11 tipos diferentes de remédios que foi obrigado a tomar e pelas agressões que sofreu. A vítima tinha 55 anos.
Segundo o documento da Superintendência da Polícia Técnico-Científica, o paciente faleceu em decorrência de “fármacos psiquiátricos” e “trauma abdominal”. Ele apanhou com socos e pontapés e ainda tomou um composto com comprimidos apelidado de “Danoninho”.
O g1 procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) para saber se os mandados de prisões contra Cleber e Terezinha foram cumpridos e aguarda um retorno.
Policiais ouvidos pela reportagem disseram que quem tiver informações sobre o paradeiro dos procurados pode ligar para o telefone 181 do Disque-Denúncia. Não é preciso se identificar.
O que os citados dizem
Paciente Jarmo Celestino de Santana aparece amarrado e torturado. Laudo do IML concluiu que ele morreu por causa das agressões que sofreu e dos remédios que foi obrigado a tomar na clínica
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Procurada na última terça-feira (27) pelo g1, a advogada Terezinha Cordeiro de Azevedo, que defende os donos da clínica, informou que não comentaria a decisão da Justiça que tornou seus clientes réus e decretou suas prisões.
“Nada a declarar”, disse Terezinha nesta terça.
Em outras ocasiões, antes da decisão judicial desta segunda, ela havia dito que “futuramente será devidamente comprovada a inocência do casal”.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa do monitor para tratar do caso. Matheus trabalhava como monitor da clínica havia duas semanas. Quando foi interrogado pelos policiais, confessou que bateu em Jarmo para contê-lo porque o paciente estava “transtornado psicologicamente” e em “surto”.
Internação de paciente
Preso por torturar paciente grava oração com outros internos
Jarmo havia sido internado na clínica em 5 de julho, quando foi levado à força para a Efatá por funcionários a pedido da família dele. A morte do paciente acabou confirmada em 8 de julho, quando deu entrada ferido num hospital em Vargem Grande Paulista, outro município da região metropolitana.
Quem o levou ao hospital foram outros monitores da Efatá. Jarmo apresentava diversas lesões de agressões pelo corpo e não resistiu aos ferimentos, segundo os médicos.
Conselho de Enfermagem
Enfermaria da clínica onde paciente foi obrigado a tomar 11 remédios diferentes; ao lado foto no celular de um dos investigados mostra que Jarmo Santana tomou composto chamado de ‘Danoninho’
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O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) também investiga se Cleber e Terezinha, que são enfermeiros, cometeram alguma infração ética e profissional em relação à clínica e ao próprio paciente morto.
As punições previstas, em caso de confirmação da infração são: advertência, multa, censura, suspensão temporária do exercício profissional ou cassação do exercício profissional pelo Conselho Federal de Enfermagem.
Segundo a Prefeitura de Cotia, a clínica de terapia era clandestina. Uma equipe da Vigilância Sanitária esteve no endereço, interditou o local e atestou que a clínica particular não tem nenhum tipo de autorização para funcionamento. Os donos alegam o contrário: de que estariam regularizados para funcionar.