Entenda como agem os principais medicamentos para tratar a alopecia androgenética, quais suas indicações e riscos. Finasterida e minoxidil funcionam bem, mas não fazem crescer de volta o seu cabelo
A queda de cabelo é uma preocupação comum que leva muita gente a buscar as mais diversas soluções. No entanto, o mercado de produtos de beleza está cheio de tratamentos duvidosos que prometem resultados incríveis para os calvos, mas que geralmente não cumprem o que garantem.
No caso da alopecia androgenética, aquele tipo que herdamos de nossos pais e avós, existem, porém, opções eficazes, como o minoxidil, disponível como loção para aplicação direta no couro cabeludo, e a finasterida, que é tomada por via oral.
Mas aqui vale um alerta: eles não são os únicos, não vão fazer o seu cabelo crescer todinho de volta e precisam de acompanhamento médico, que vai avaliar o seu quadro detalhadamente e ver qual é de fato a melhor opção de tratamento para sua calvície.
“Hoje a gente tem um uma gama de tratamento que a gente não tinha alguns anos atrás que evita a progressão da doença”, destaca Violeta Tortelly, Dermatologista do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Por isso, se você está procurando por uma “cura” da calvície, sinto lhe informar, mas ela não existe.
(Esta reportagem faz parte de uma série do g1 sobre calvície que explica mitos comuns sobre a condição; além de mostrar quais medicamentos funcionam para tratar o quadro; e como são feitos os transplantes capilares.)
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Mas o que de fato existe?
Nathan Valle Soubihe Junior, cardiologista clínico do Hcor, explica que ao longo da história, muitos tratamentos foram propostos contra a calvície.
“Remédios, loções e até poções foram e, provavelmente, ainda vêm sendo recomendadas”, diz.
Hoje em dia, embora não sejam uma solução completa para recuperar o cabelo perdido, alguns medicamentos são melhores do que nada e ajudam a evitar que a queda piore. Especialmente nos homens, a finasterida e o minoxidil têm mostrado resultados muito positivos.
Minoxidil
No caso do minoxidil, ele foi desenvolvido na década de 70, como um medicamento para baixar a pressão arterial.
Isso porque ele age dilatando diretamente as artérias, o que resulta na redução da pressão sanguínea dentro dos vasos.
Logo após o início do uso, porém, médicos começaram a ouvir de seus pacientes relatos que estavam crescendo pelos no corpo, uma situação desconfortável, especialmente para as mulheres. Esse efeito colateral levou então a pesquisas sobre seu potencial para tratar a perda de cabelo e a calvície.
Tratamentos para calvície não crescem cabelo
Barbara Miranda/Arte g1
Hoje em dia, os especialistas também sabem que além de mexer com a circulação ao redor dos folículos capilares, entregando mais oxigênio e nutrientes aos fios, o minoxidil atua também prolongando a fase de crescimento do ciclo do cabelo, chamada tecnicamente de anágena.
No entanto, o mecanismo exato pelo qual ele proporciona esses benefícios ainda não é totalmente conhecido.
Há vários anos, a utilização de minoxidil para uso tópico sobre o couro cabeludo e/ou regiões com quedas de cabelo, como falhas na barba, parece estar consagrado e ter resultados comprovados sem efeitos colaterais significativos.
Finasterida
Já finasterida surgiu em 1992 como um tratamento para a hiperplasia prostática benigna, uma doença que causa o aumento da próstata. Mas só foi mais tarde, em 1997, que ela foi aprovada nos Estados Unidos para tratar a perda de cabelo masculina a uma dose de 1 mg.
Isso porque médicos também passaram a ouvir relatados do mesmo efeito colateral: uma melhora notável na aparência do cabelo de seus pacientes. Mas por causa de um mecanismo diferente.
A finasterida age inibindo uma série de enzimas chamadas 5-alfa-redutase, impedindo o corpo de converter a testosterona em DHT, um hormônio que leva ao crescimento da próstata e à calvície.
“Inibindo essa conversão, conseguimos então diminuir a influência do hormônio sobre o fio de cabelo e, consequentemente, retardar a queda”, diz Carolina Milanez, médica dermatologista do Hospital Heliópolis.
Ou seja, assim como o minoxidil, o medicamento NÃO vai fazer crescer de volta aquele cabelo que você já perdeu. Ele funciona mais como um botão de pausa.
Hoje em dia, os especialistas também sabem que além de mexer com a circulação ao redor dos folículos capilares, entregando mais oxigênio e nutrientes aos fios, o minoxidil atua também prolongando a fase de crescimento do ciclo do cabelo, chamada tecnicamente de anágena.
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Quem pode usar esses medicamentos?
⚠️ A finasterida e o minoxidil são os tratamentos mais comuns para a calvície masculina, mas apenas o minoxidil é recomendado para o tratamento da calvície feminina.
Isso ocorre devido à precaução necessária com a finasterida em mulheres grávidas ou aquelas que planejam engravidar, uma vez que a finasterida é capaz de inibir a conversão da testosterona em DHT, o que pode resultar em anomalias na genitália externa de fetos do sexo masculino.
“Nas mulheres os resultados não são tão consistentes, além disso essas drogas não são seguras na gestação”, diz o dermatologista Paulo Müller Ramos, especialista no tratamento de doenças dos cabelos e em transplante capilar.
Eles deixam o homem impotente?
De acordo com a dermatologista Rita Fernanda Cortez De Almeida, o minoxidil não está relacionado à impotência sexual, ao contrário da finasterida, que é um inibidor da 5-alfa-redutase e pode ter esse efeito colateral.
É importante ressaltar aqui, porém, que apenas uma pequena porcentagem de pacientes experimenta esses efeitos, com cerca de 2% dos homens relatando redução da libido e até mesmo impotência sexual como resultado do uso da finasterida.
Além disso, a disfunção sexual associada à finasterida, embora considerada rara, inclui perda de desejo sexual, disfunção erétil e ejaculatória, e ainda há controvérsias sobre a persistência desses sintomas após a interrupção do medicamento, uma vez que não existem estudos conclusivos sobre o assunto até o momento.
E o minoxidil oral?
Essa é uma controvérsia recente. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e a Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri) têm opiniões divergentes sobre seu uso. A SBD defende uma “prescrição criteriosa” de baixas dosagens de minoxidil oral para pacientes selecionados com alopecia, enquanto a SBTri contraindica totalmente o uso oral do minoxidil para a calvície.
Já a Anvisa declara que o minoxidil oral não está registrado no Brasil e não é recomendado para uso.
Uma das razões dessa controvérsia é o fato que o minoxidil oral possui maior eficácia clínica e facilidade de uso em relação a sua forma tópica, que muitas das vezes tem baixa adesão de uso pelos pacientes.
Mas aqui vale lembrar que o minoxidil foi originalmente desenvolvido como um medicamento para reduzir a pressão arterial. Claro, ele funciona estimulando o crescimento capilar, aumentando a espessura dos fios e prolongando a fase de crescimento. No entanto, o uso oral do minoxidil tem gerado preocupações devido aos potenciais riscos cardíacos.
O minoxidil oral possui maior eficácia clínica e facilidade de uso em relação a sua forma tópica, que muitas das vezes tem baixa adesão de uso pelos pacientes.
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Nathan Valle Soubihe Junior, cardiologista clínico do Hcor, avalia a situação e destaca os efeitos colaterais potenciais da droga, como taquicardia e pericardite.
Por isso, a SBD enfatiza a importância de uma avaliação criteriosa por parte de um médico dermatologista antes de iniciar o tratamento com minoxidil oral, levando em consideração as condições clínicas do paciente e a possibilidade de interações medicamentosas.
“Temos atendido com certa frequência pacientes (principalmente mulheres) que vêm encaminhadas de outros colegas solicitando avaliação cardiológica quanto à ‘liberação’ do uso de minoxidil por via oral, no tratamento da calvície”, diz Soubihe Junior.
“Sendo assim, procuramos nos deter à avaliação de risco de sua utilização mediante as condições clínicas cardiológicas do paciente que veio nos consultar”, acrescenta.
Em resumo, diante dos possíveis riscos associados ao uso do minoxidil oral, a recomendação é que os pacientes busquem orientação médica adequada com um profissional especializado, evitando a automedicação e garantindo um tratamento seguro e eficaz para a calvície.
“Antes da “liberação”, é importante a realização de uma história clínica detalhada na tentativa de identificar situações clínicas claramente antagônicas à utilização do fármaco, além da realização de exames complementares”, acrescenta o médico.
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