28 de dezembro de 2024

Economia brasileira cresce 0,9% no terceiro trimestre


Houve uma pequena desaceleração em relação ao segundo trimestre, que foi de 1,4%. Economia brasileira cresce 0,9%, no terceiro trimestre
A economia brasileira cresceu 0,9%, no terceiro trimestre.
A Sofia Tavares, de 10 anos, é uma menina muito alegre e que gosta de:
“Eu gosto de brincar, eu gosto de falar muito, eu gosto de conversar e gosto também muito de sorvete, ainda mais o daqui, eu amo muito”, diz Sofia.
Mas o que essa fofa está fazendo em uma reportagem de PIB? A Sofia pede o sorvete, o paizão paga, a empresa fatura, paga impostos, mantém três funcionários com carteira assinada. E esse movimento abre outro círculo igual na fábrica, uma outra empresa, onde os sorvetes são feitos.
E tudo o que essas empresas geram entra nas contas do PIB, que soma tudo o que o país produz em um determinado período. A reportagem trata das contas do terceiro trimestre, que foram divulgadas nesta terça-feira (3) pelo IBGE.
O crescimento teve uma pequena desaceleração: foi de 0,9% em relação ao segundo trimestre, que foi de 1,4%. Se a gente comparar com o mesmo período de 2023, o resultado é forte: 4% de crescimento.
No acumulado do ano, o PIB já cresceu 3,1% em relação a 2023. O índice já é quase o mesmo do PIB total de 2023, que nesta terça-feira (3) foi revisado pelo IBGE de 2,9 para 3,2%. No ranking com 62 países, o Brasil aparece em décimo lugar, atrás da Dinamarca e do México.
“Primeiro aspecto que o PIB foi um crescimento forte depois de crescer dois trimestres bastante. Então continuou mostrando um crescimento robusto e também mostrou uma característica interessante de ser espalhado pelos setores. Houve um crescimento muito mais generalizado e muito diferente do que foi lá em 23”, afirma Silvia Matos, pesquisadora do FGV Ibre.
Realmente aconteceu. Pela ótica da oferta, a agropecuária recuou por causa da seca. Mas veja a compensação que os desempenhos da indústria e dos serviços trouxeram.
Esse movimento espalhado seguiu por todos os outros setores. O consumo das famílias – por exemplo – teve uma expansão de 1,5%. Segundo o IBGE, o décimo quarto trimestre seguido de crescimento.
A Sílvia destaca: é claro que crescer é muito bom. Consumir, também. Mas ela alerta que a capacidade de produção do país pode não acompanhar uma demanda forte, alimentada pelos programas sociais e pelo aumento da oferta de emprego.
“A gente gostaria de crescer sempre, mas não com inflação. Nesse sentido, o que a gente diz, a nossa capacidade produtiva ela mostra um crescimento mais próximo de 2, talvez na melhor das hipóteses 2,5, mas 3, 3,5 é muito acima da nossa capacidade produtiva. Tanto que as empresas não estão encontrando trabalhadores, estão tendo dificuldade”.
Vamos para o consumo do governo que, mesmo deficitário, aumentou os gastos. As exportações caíram. E as importações subiram em um ritmo bem menor.
Mas o sinal de que o setor produtivo está crescendo, mesmo com os juros em alta, está aqui: os investimentos tiveram o quarto aumento seguido. Olha o caso da Marceli. Juntou as economias da vida e em setembro inaugurou uma bela sorveteria no Méier, zona norte do Rio. Ela teve que investir em equipamentos caros e em até energia solar pra reduzir a conta de luz.
Esse é o primeiro emprego do Marlon, mais uma vez, é a roda da economia girando.
“Uma coisa foi puxando a outra e terminou que não foi só positivo para gente o impacto, mas para os comércios ao redor, temos um café aqui do lado, tem cada vez mais clientes frequentando e os outros comércios também”, comenta Marlon Sampaio, funcionário da sorveteria.
E em uma tacada só, a Marceli contribuiu para dois setores do PIB: serviços e investimento.
“Está dando mais do que certo. O que a gente tinha planejado para 20 dias em 12 dias a gente alcançou, e a gente está muito feliz”, ressalta Marceli Correa Joaquim, empresária.
Um crescimento que poderia ser mais sustentável, segundo a economista.
“Na prática a gente tem menos condições para aumentar esse investimento. Infelizmente, o governo nesse caso que deveria estar poupando ele é deficitário, por isso que a gente relaciona muito os problemas fiscais com problema que a gente está vivendo hoje. Se nós tivéssemos um governo digamos superavitário, talvez a gente pudesse estar crescendo em um ritmo mais elevado, ainda com capacidade de mais investimento sem gerar essa pressão inflacionaria”, destaca.
Economia brasileira cresce 0,9% no terceiro trimestre
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Investimento na indústria
E agora mais cenas do último capítulo da economia brasileira: a perda de ritmo da construção. Das empresas de eletricidade, gás, água e esgoto. O zero a zero das indústrias extrativas. E a resiliência da indústria de transformação.
É a protagonista do setor, em que muita coisa começa. Há uma década, uma fábrica não produzia uma máquina dessas — feita pra grandes obras e orçamentos. Só pode ser encomenda de empresário que está construindo o futuro.
“Quem compra nossa máquina é um produto que ele está investindo, não é consumo. Então, nossa máquina é como você comprar um carro para sua família, você compra para usar em médio e longo prazo”, afirma Marcelo de Araújo Bois, diretor da empresa.
Está aí a tradução do que o IBGE chama de formação bruta de capital fixo. Alta de 10,8% na comparação anual.
“O crescimento do investimento surpreendeu esse ano, principalmente, quando a gente olha a taxa de juros. Parte desse investimento em infraestrutura no Brasil vem sendo puxado pelas concessões e privatizações — como saneamento e energia elétrica. Outra parte importante foi o desenvolvimento de software. É um investimento mais dinâmico e também cresce independente da gente ter taxa de juros muito elevadas”, diz Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.
A economista-chefe do Inter lembra a necessidade de equilíbrio entre o que o país gasta e arrecada.
“Um dos problemas para taxa de investimento subir um pouco mais é manter uma taxa de juros mais baixa, e aí a gente volta para questão fiscal. A gente precisa ter um pouco mais de previsibilidade no fiscal para que os juros no Brasil caiam um pouco mais e aí sim, com juros menores, você volta a estimular o investimento”, conta Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.
A produção chegando ao limite da capacidade das fábricas. Os times pressionados pela falta de mão de obra qualificada no mercado. A atividade em um galpão que vai ficando apertado.
São outras cenas da dinâmica do país que falam da necessidade de investir mais em tecnologia, infraestrutura, educação. É nítido que o Brasil vive uma retomada dos ciclos de investimento, mas isso ainda é pouco para o tamanho potencial da economia.
A taxa de investimento no Brasil passou de 16,4% para 17,6% do PIB, no terceiro trimestre. Mas isso é menos que o nível de investimento da Argentina, Peru, Rússia, Canadá, México, Índia ou Coreia do Sul.
No Brasil, a vontade de crescer vai atrás de alternativas. Para a falta de espaço, veio a empilhadeira nova.
“Acabou a área horizontal, agora só área vertical na empresa. Então, a gente está empilhando tanto matéria-prima quanto estoque para gente conseguir aumentar a velocidade de produção. A gente tem que ter estoque,”, ressalta Rafael Bois, sócio-diretor da empresa.
Para escassez de mão de obra, a aposta no Nilson. No fim do turno, ele vai para a faculdade de engenharia.
“Engenheiro, né? Projetando, ajudando a conseguir soluções. É um futuro promissor”, diz Nielson dos Santos, coordenador de manutenção.
A história mostra que o futuro das nações só se faz com investimento em maquinas e pessoas.
“O problema da economia brasileira é justamente que parece que não existe um roteiro, um plano de longo prazo para realizar os investimentos, o que acaba comprometendo justamente todo o nosso futuro. Então ao invés de criarmos um ciclo virtuoso de crescimento para a população e para a economia como um todo, nós acabamos sempre estando como se fosse o cachorro correndo atrás do rabo, ou seja, nós só vamos atender aquela demanda depois que ela chegou, e não se preparar para atender uma demanda futura, o que acaba causando inclusive inflação não só pra agora, mas para as futuras gerações”, ressalta o professor de Finanças da FGV, Ricardo Rochman.
A taxa de investimento no Brasil passou de 16,4% para 17,6% do PIB, no terceiro trimestre
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Repercussão política
O presidente Lula comentou o resultado do PIB em uma rede social. Ele disse que o crescimento significa mais emprego e renda nas mãos dos brasileiros.
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