Agropecuária cresceu 11,3%. A indústria ficou praticamente estável, com uma queda de 0,1%. O consumo das famílias aumentou 1,5%. Economia brasileira cresce 0,8% no primeiro trimestre do ano
A economia brasileira cresceu 0,8% no primeiro trimestre, com a colaboração fundamental do setor de serviços.
Um PIB movido a sonhos, conquistas e apertos de mão. A economia do país pegou carona no carro do advogado Pedro Maia e de muitos outros brasileiros que começaram o ano repetindo esse gesto.
O Produto Interno Bruto, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país num determinado período, avançou 0,8% no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. Mas também é possível comparar a velocidade atual com o ritmo da economia no início de 2023. E aí o avanço é ainda maior: o crescimento foi de 2,5% em relação ao primeiro trimestre de 2023.
Um dos principais responsáveis por esse resultado foi o setor de serviços, que cresceu 1,4% de um trimestre para o outro. Esse setor engloba o comércio, que cresceu 3%, com destaque para os bens duráveis, como o carro do Pedro.
“É um setor que depende de crédito. Então, o crédito para aquisição de veículos mostrou uma retomada, ou seja, tivemos aí uma queda da taxa de juros, ainda pequena, mas tivemos”, diz Silvia Matos, economista FGV IBRE.
Com inflação menor e juros menores, Pedro fez as contas e conseguiu trocar de carro e de financiamento.
“Consegui alcançar o meu objetivo. De não me onerar a mais do que eu gostaria. O que o consumidor final busca no final das contas é valor de parcela”, diz o advogado Pedro Maia.
O crescimento do PIB pode ser comparado com o aumento da velocidade de um carro. Mas essa velocidade não depende só da vontade do motorista. A economia brasileira é tão complexa quanto o trânsito de uma grande cidade. Muitos fatores precisam se combinar para que os carros e o PIB sigam em frente a acelerando.
Assim como os carros, os tratores também não podem parar. A agropecuária cresceu 11,3%. A indústria ficou praticamente estável, com uma queda de 0,1%. O consumo das famílias aumentou 1,5%.
“A gente já tinha visto, desde o ano passado, uma recuperação muito forte do mercado de trabalho, do emprego e da renda. Isso é muito importante, são mais pessoas trabalhando, e algo que chama atenção é o emprego formal. Mas teve também uma ajuda do governo. A gente tem agora reajuste real do salário mínimo. Então foi uma ajuda muito grande e foi direto, digamos assim, para o consumo, não só de serviços mas de bens também”, afirma a economista Silvia Matos.
Agro indústria
A batedeira mistura a farinha. A massa é sovada, modelada e, no fim, o produto é o pãozinho para vender congelado – 75 mil por hora. O PIB também é o produto final de uma grande engrenagem. As famílias aumentaram o consumo e aceleraram o ritmo das fábricas.
“Iniciamos o terceiro turno de atividade aqui na empresa. É um mercado extremamente crescente”, diz Jaime Luiz Shervis, sócio da empresa.
É por isso que o desempenho da indústria no primeiro trimestre foi 2,8% maior na comparação com o mesmo período de 2023 – ainda que tenha andado de lado olhando para o trimestre anterior. O destaque foi a indústria de transformação, puxada pela produção de alimentos e bebidas.
A empresa sentiu que tem espaço para mais. Toda uma área está reservada para uma linha de produção igual a que já existe, ou seja: vai poder fabricar o dobro de pãezinhos. O IBGE também monitora esses investimentos que foram feitos para aumentar a capacidade da economia no futuro. E eles subiram bastante no primeiro trimestre. Os equipamentos nesta e em outras fábricas foram comprados de fora – o que ajuda a explicar a alta nas importações.
O pesquisador da FGV Agro, Felippe Serigati, diz que investimento e crescimento andam juntos.
“Um setor que tem crescido a taxas aceleradas já faz algum tempo, mais do que isso, que tem conseguido ampliar suas exportações. Não tem como registrar esses números sem expansão da sua capacidade instalada, sem investimento na sua estrutura produtiva”, afirma.
Longe das fábricas, no campo, o começo do ano também trouxe boas notícias. O setor agropecuário cresceu 11,3% em relação ao último trimestre de 2023. Na comparação com o primeiro trimestre de 2023, o recuo foi de 3%. Não foi surpresa porque a safra tinha sido recorde, como lembra o produtor do Mato Grosso do Sul.
“Foi um ano bom relativamente em questão do clima”, diz o produtor rural João Carlos Matos.
“O universo agro é uma fábrica a céu aberto, sempre vai ter ano bom, ano ruim, ano com safra cheia, ano com quebra de safra. Isso é normal”, afirma Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro.
O agro é parte da engrenagem que produz o PIB. Muito mais que um número. Para a coordenadora de recursos humanos Vanessa Alves é um emprego novo na fábrica em expansão.
“A empresa expande para as famílias, para um país. Então, a gente quer estar fazendo parte de tudo isso”, diz.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou que o resultado do PIB foi o que o governo previa. Ele disse que a projeção de crescimento anual de 2,5% está mantida, mas que o governo está avaliando o possível impacto das enchentes do Rio Grande do Sul nesse resultado.
O presidente Lula comemorou o resultado do PIB. Ele destacou que o consumo das famílias e o setor de serviços puxaram o desempenho e disse que a melhora na previsão do Fundo Monetário Internacional para o crescimento do Brasil vai fazer o país subir para a oitava posição na lista de maiores economias.