9 de janeiro de 2025

Economia verde: restos de alimentos viram biogás em restaurante da ilha do Combu, polo do turismo gastronômico em Belém

Uma usina de biodigestores instalado no restaurante Saldosa Maloca transforma o que sobra de alimentos em gás de cozinha e biofertilizante. O sistema é pioneiro na Amazônia e desperta a consciência ambiental. Restaurante Saldosa Maloca, na ilha do Combu, em Belém.
Reprodução/@saldosamaloca
Nesta quarta-feira (5), quando se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, a população ribeirinha da ilha do Combu é exemplo na busca de soluções em busca de uma econ9omia verde e um turismo menos predatório na Amazônia.
O sistema de biodigestores é um modelo de sustentabilidade que produz gás a partir de restos de alimentos de um restaurante na ilha . O lugar é um dos principais polos do turismo gastronômico e ecológico da cidade, que será a sede da Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas, em 2025, a COP-30.
A ilha do Combu tem mais de 30 restaurantes erguidos com a arquitetura de palafitas e que recebem milhares de visitantes aos fins de semana. Fica distante a menos de 10 minutos do continente, numa viagem feita em lanchas e pequenas embarcações que partem do Terminal Hidroviário Rui Barata, localizado na Praça Princesa Isabel, bairro da Condor.
O lugar é pitoresco. Revela o contraste entre um pedaço da Amazônia, que precisa ser preservado, com a paisagem urbana da capital paraense, que se transforma com a verticalização imobiliária.
Descrições a parte, as famílias que moram na ilha do Combu estão preocupadas com as consequências da atividade turística.
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Um bom exemplo partiu da dona Prazeres Quaresma que implantou uma usina de biogás no restaurante da família dela. O empreendimento é um dos mais antigos e tradicionais do Combu: o Saldosa Maloca.
Essa usina utiliza biodigestores foi pioneiro na região amazônica. Para ser implantado, foi necessária a construção de uma palafita no quintal do restaurante.
O sistema é formado por um conjunto de bolsas gigantes, onde são despejados os restos de alimentos do restaurante. Durante a decomposição, esses alimentos liberam gases que são usados na cozinha do restaurante.
Biodigestores instalados sobre palafita, transformam restos de alimentos em biogás e biofertilizantes.
Reprodução/@saldosamaloca
Em síntese, o reaproveitamento dos restos de comida do restaurante, que é tudo aquilo que sobra nos pratos e não é consumido pelos clientes, vira biogás e também biofertilizantes – uma espécie de adubo orgânico.
“Tudo o que for orgânico pode ser usado neste sistema. O cardápio do restaurante tem o peixe como carro-chefe e o que sobra do peixe pode virar biogás”, explica a ribeirinha.
Cada bolsa custou R$ 5.900 e tem uma vida útil estimada em 25 anos. O volume de biogás produzido por elas vai depender da quantidade de restos de comida despejada nas bolsas.
O biogás produzido pela decomposição dos alimentos chega até o fogão por meio de uma espécie de encanamento, com mangueiras ligando as bolsas da usina ao fogão.
“Estas bolsas tem a capacidade para produzir até treze quilos de gás. Com esse modelo eu não me preocupo em comprar botijões de gás de cozinha e nem me preocupo sobre onde jogar os restos de alimentos do restaurante”, comemora Prazeres.
Por outra tubulação, escorre um líquido produzido pela decomposição dos alimentos e que não é chorume. Este líquido se torna biofertilizante, uma espécie de adubo, usado na horta do restaurante.
Dona Prazeres Quaresma é empreendedora na ilha do Combu e está preocupada com a sustentabilidade
Reprodução/@saldosamaloca
Segundo Prazeres, para a usina funcione corretamente, é fundamental que nas bolsas não sejam misturados os restos de alimentos de origem animal (peixes, carne vermelha e frango) com os restos de alimentos de origem vegetal. Isto porque os restos de alimentos de origem animal viram biogás, já os de origem vegetal viram biofertilizantes.
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A questão do lixo e dos resíduos arrastados do continente (área urbana) até a ilha do Combu, pela correnteza dos rios, também preocupa a população ribeirinha.
Garrafas, embalagens, plásticos, isopor e outros materiais que levam anos para se decompor e que são despejados irregularmente nas ruas e canais de Belém, acabam indo para as ilhas 39 ilhas que cercam a cidade, entre elas a do Combu.
Horta sustentável
Uma das alternativas adotadas pela dona Prazeres Quaresma, foi a reutilização dos resíduos plásticos para confecção de vasos usados no plantio de sementes e mudas.
“Tudo a gente reutiliza e jamais despeja na natureza. São materiais que todo mundo tem em casa e que muita gente não reaproveita”, destaca Prazeres, ao apontar para as mudas e sementes dentro do vaso feito em caixas de leite, pacotes de café e garrafas pet.
Garrafas plásticas viram vasos para o plantio de sementes e mudas.
Reprodução/@saldosamaloca
A horta é suspensa em canoas que não servem mais para a navegação de pessoas e viram canteiros para a produção de hortaliças e temperos.
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