20 de setembro de 2024

El Niño perde força, mas deixa marcas em muitas famílias brasileiras

Especialistas fazem um alerta: é preciso preparar as cidades para os impactos que o fenômeno causa na vida das pessoas e, assim, reduzir o sofrimento da população no futuro. El Niño perde força, mas deixa marcas em muitas famílias brasileiras
O fenômeno El Niño está perdendo força, mas deixou marcas em muitas cidades e em muitas famílias brasileiras — com vidas perdidas, com prejuízos enormes.
Um piquenique, uma tarde com as crianças, enfim, um passeio de outono no parque com clima, finalmente, mais ameno. Os frequentadores esperaram muito por isso.
“Que bom que deu uma refrescada e espero que as próximas semanas refresquem ainda mais”, comenta a advogada Gabrielle de Oliveira Ribon.
“A gente não está acostumado aqui em São Paulo com esse calor, 35 ºC, até dentro de casa é difícil, na rua é difícil, a gente acaba querendo um lugar mais fechado com ar-condicionado, ventilador, essas coisas”, diz o enfermeiro Lucas Vinicius Alves.
E foram várias as ondas de calor desde o segundo semestre de 2023 até dias atrás. Tudo provocado pelo El Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. O Tércio Ambrizzi, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, explica que o fenômeno têm ficado mais intenso por conta das mudanças climáticas.
“Ele vem dentro de um momento em que a atmosfera do planeta está muito mais aquecida, 2023 bateu recordes de temperatura no mundo inteiro. Os oceanos absorveram esse calor extra da atmosfera, estavam muito mais quentes. Então, você alia esses dois fatores fazem com que esses eventos e os sinais que o El Niño já traria sejam intensificados”, diz ele.
E o país inteiro sentiu. Em setembro, tempestades no Rio Grande do Sul causaram enchentes e dezenas de mortes. Em outubro, a seca em parte da Amazônia fez o Rio Negro praticamente secar em vários pontos. Em novembro, foi São Paulo que sofreu com chuva e vendavais, que deixaram milhões de pessoas sem energia elétrica. E, no primeiros meses de 2024, tempestades tropicais provocaram estragos em várias cidades.
O El Niño está de partida, para alívio dos brasileiros, e deixa um alerta que, segundo os especialistas, não pode ser esquecido. Eles dizem que é preciso preparar as cidades para os impactos que o fenômeno deixa na vida das pessoas e, assim, reduzir o sofrimento da população no futuro.
O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas Guarany Osório diz que as providências precisam começar já, em áreas como habitação, por exemplo.
“A gente tem problemas em verão, não é? Desabamento, pessoas que morrem, pessoas que perdem suas moradias. Vai acontecer com mais severidade. Então, é uma decisão que o decisor público não vai se arrepender, é ele tratar do planejamento urbano da cidade, por exemplo, retirar as pessoas de área de risco e colocar essas pessoas em áreas com menor vulnerabilidade social, econômica e física. A gente tem que ter políticas consolidadas que durem ao longo do tempo e não sejam só as sazonais. A gente tem que ter preparado e mais resiliente frente esses eventos que vão ser mais frequentes e extremos no Brasil como um todo”, explica Osório.
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