Município teve a maior enchente da história da cidade. O nível do Rio Acre chegou a 15,56 metros, e encobriu 80% de Brasiléia, que fica na fronteira com a Bolívia. Ivone Figueira está vivendo em um abrigo improvisado em Brasileia após perder a casa
Asscom/ Prefeitura de Brasiléia
Enquanto estende as roupas em um varal improvisado nos corredores da escola onde está abrigada, a acreana Ivone Figueira pensa bastante. No filho de 13 anos e nas parcelas da casa que perdeu antes mesmo de poder quitá-la.
Ivone é uma das 100 pessoas que não têm mais uma casa para onde voltar após a enchente histórica que atingiu o município de Brasiléia, a mais de 230 km da capital Rio Branco. As moradias desabaram durante a cheia ou foram condenadas pela Defesa Civil Municipal após a baixa do Rio Acre.
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O grupo está dividido entre cinco escolas da cidade que foram transformadas em abrigos. Lá, os abrigados têm recebido assistência, alimentação e foram cadastrados pela Secretaria de Assistência Social de Brasiléia para serem colocadas no programa de aluguel social do município até que uma solução definitiva seja encontrada. A cidade fica na fronteira com a Bolívia.
“Desde que a água baixou e eu fui lá na minha casa, foi uma equipe [da Prefeitura] comigo limpar e foi verificado que na parte de madeira não tem como eu voltar pra dentro. Eu tive que ficar aqui esperando”, contou.
Ivone Figueira não tem nem previsão de quando poderá sair do abrigo
Asscom/ Prefeitura de Brasiléia
Até a enchente, ela vivia no bairro Leonardo Barbosa, o mesmo que por pouco não foi apartado do território brasileiro e ‘virou’ boliviano. De acordo com ela, a casa onde viviam ela e o filho havia sido comprada através de um empréstimo que ela continua pagando.
E como se essas dificuldades não fossem suficientes, ela ainda tem enfrentado problemas de saúde. “Eu não posso fazer nada, né. Eu não posso mexer os braços porque tô cirurgiada e é muito complicado. Aí eu tô aqui com o que sobrou, junto com meu filho de 13 anos”, disse ela que já está há 17 dias vivendo no abrigo.
Vizinho de bairro de Ivone, Alan Rodrigues, também teve a casa destruída. “Se a gente entrar pra dentro a casa cai em cima da gente, tá muito perigoso. Não sei pra onde vou, mas Deus está aí”, relatou ele, que está há 20 dias no local.
Enquanto aguardam por uma resposta, os dois dizem sonhar. “Espero ter uma melhor moradia, pra gente não ter que ficar correndo assim, acabando com o pouco das coisas que [a gente] tem, porque tudo que a gente constrói é com sacrifício, quem ganha um salário mínimo sabe”, disse Ivone.
“Daqui uns tempos eu vou ter que construir outra casinha, porque não tem outra opção, vou ter correr atrás”, conclui Rodrigues.
Alan está há 20 dias no abrigo e pretende construir uma casa posteriormente
Asscom/ Prefeitura de Brasiléia
Maior cheia da história
O trecho do Rio Acre que corta o município de Brasiléia, no interior do Acre, alcançou uma nova marca histórica e deixou a cidade debaixo d’água. Pelo menos 80% da cidade ficou inundada neste ano. O município tem 26 mil habitantes, segundo o IBGE.
No dia 28 de fevereiro, o nível do Rio Acre chegou a 15,56 metros no município. Com isso, superou a marca registrada em 2015 em Brasiléia, de 15,55 metros, naquela que até então era a pior cheia da história da cidade, quando as águas do manancial cobriram 100% da área urbana
Com a cidade tomada pelas águas, quase 4 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas, segundo a prefeitura do município. Os moradores de Brasiléia e de Epitaciolândia, cidade vizinha, fizeram filas para aguardar as embarcações que faziam o transporte de moradores para transitar na região;
Em 29 de fevereiro, esse trecho do rio em Brasiléia, começou a apresentar os primeiros sinais de que estava secando. Houve uma diminuição do rio em 38 centímetros e a partir daí, escoou até abaixo da cota de alerta. Agora, o nível do rio já está abaixo dos 6 metros na cidade.
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