19 de setembro de 2024

Em depoimentos no STF, assassinos confessos de Marielle discordam sobre origem da arma usada para o crime

Élcio de Queiroz, motorista do carro, disse, em depoimento, que a MP5 era de Ronnie Lessa, que contou que o armamento foi cedido por um miliciano e por um assessor de Domingos Brazão Em depoimentos no STF, assassinos confessos de Marielle discordam sobre arma usada para o crime
Réus confessos pelo assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz deram versões diferentes em seus depoimentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Élcio teve seu primeiro dia de depoimento nesta sexta-feira (30).
Um dos pontos dos depoimentos que divergem foi a origem da arma utilizada no crime: a submetralhadora MP5, de calibre nove milímetros. Em seu relato, Lessa diz que recebeu a MP5 das mãos de Edmílson Oliveira da Silva, o Macalé. Ela, segundo Lessa, foi adquirida junto ao assessor de Brazão, Robson Calixto da Fonseca, o Peixe.
“Ele só aceitaria (a MP5) se ele verificasse a arma em todos os sentidos. Inclusive, se tinha munição”, disse Élcio.
No processo que trata sobre os supostos mandantes da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Macalé foi um intermediário entre Lessa e os supostos mandantes, Domingos de Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o deputado federal Chiquinho Brazão.
Já Élcio de Queiroz, motorista do Cobalt prata, usado no crime contou uma outra história: que a MP5 era de Lessa e que havia sido adquirida meses antes do crime. “Ele tinha muito carinho pela arma”.
Até no descarte da MP-5, a história contada na audiência é diferente. Lessa fala que viu Macalé entregando a arma ao miliciano Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho, em Rio das Pedras. Já Élcio diz que Lessa lhe contou que serrou a arma e jogou no mar da Barra da Tijuca.
Nesta sexta-feira (30), foi o primeiro dia de depoimento de Elcio de Queiroz no STF e o 15º dia de depoimentos na audiência de instrução e julgamento do caso Marielle no tribunal. Os depoimentos acontecem por videoconferência.
Ronnie Lessa em depoimento nesta terça-feira (27) no STF
Reprodução
Outro ponto de discordância entre Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz é que Élcio falou que ouviu de Lessa que o crime era de cunho “pessoal”. Questionado pelo representante da PGR, o promotor Olavo Pezzotti, Élcio conta que isso só faria sentido se houvesse algum caso de afronta de Marielle com Lessa:
“Nunca ouvi nada da senhora Marielle. Não sabia que ele iria praticar o homicídio. Me senti enganado”, revela Élcio.
Já Lessa chegou a dizer que estava há meses atrás de Marielle. Ele também conta que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão infiltraram uma pessoa no PSOL, Laerte Silva de Lima para passar informações sobre a vereadora.
Aumento de patrimônio
Élcio conta que após o crime percebeu o amigo de 30 anos ter um aumento patrimonial. Segundo ele, Lessa comprou uma lanche após destruir a quem tinha em um acidente, comprou um carro novo para a mulher e colocou blindagem nova, além de viajar para os Estados Unidos.
“Confrontei o Ronnie. Falei: ‘olha, a madrinha (era como Élcio chamava Elaine, mulher de Lessa) está incomodada por você pagar dois alugueis e ter tanto gasto’. Eu percebo que não tem lastro. Tudo bem, tinha gatonet, máquinas, salário da PM, mas não dava. Passei a desconfiar”, contou Élcio.
Ronnie Lessa, em sua delação, contou que receberia como recompensa dois terrenos no alto de um morro no bairro do Tanque, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade.
O ex-policial também era conhecido por comercializar armas. Ele responde um processo, em sigilo, na Justiça Federal. Horas depois de ser preso, a Polícia Civil apreendeu 117 fuzis M-16 incompletos na casa de um amigo de Lessa. O armamento era falsificado, mas se montado seria capaz de atirar.
Antes de Élcio, outras nove testemunhas prestaram depoimento chamadas pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Élcio volta a depor na segunda-feira (2). A partir de 9 de setembro começam os depoimentos das testemunhas escolhidas pelas defesas e aprovadas pelo juiz relator, o ministro Alexandre de Moraes.

Mais Notícias