13 de janeiro de 2025

Em ilhas do Guaíba, barcos se transformam em moradia de quem perdeu o teto na enchente

Navegando pelo Guaíba, é possível ver o que sobrou de barcos e casas: 4 das 16 ilhas foram as mais afetadas pela inundação. Moradores da região das ilhas, em Porto Alegre, vivem em barcos há mais de trinta dias
Alguns gaúchos expulsos de casa pelas águas estão há mais de um mês sem um lugar em terra firme.
É como se os barcos tivessem formado um condomínio ao redor das ilhas. Quem perdeu a casa ou ainda não conseguiu voltar para ela, buscou refúgio sobre as águas.
“Aqui tem três, ali no outro tem mais três. Aqui, todo mundo se apoia, todo mundo se conhece”, conta o pescador Diego Luis Vasconcelos.
O gerador do marinheiro Marcio Silva foi, por semanas, a única fonte de energia para as famílias de pescadores.
“Foi essencial o gerador para nós, pelo menos para ter um pouquinho de descanso quando anoitecia”, diz.
Um casal assistiu da janela do barco a destruição da oficina que era o sustento da família.
“Eu tenho um estaleirinho de barco que eu tinha ali, mas ele foi todo soterrado com a areia, as ferramentas, tudo. A máquina de solda que eu tinha pendurado para não molhar…”, conta o mecânico de barcos Pablo Silveira.
Em ilhas do Guaíba, barcos se transformam em moradia de quem perdeu o teto na enchente
Jornal Nacional/ Reprodução
Pelos cálculos do Pablo e da pescadora Carla Drover, eles estão vivendo dentro do barco há 38 dias. Quarto, cozinha, um espaço bastante pequeno. Tem a pia, o fogão. Mas parte da família teve que ficar na casa de parentes em uma cidade vizinha.
“Minha filha pequena tem 7 anos e tenho filho de 17 também. O mais difícil é ficar longe deles. E se saber se vão voltar para casa, o que vamos fazer? Se nossa casa não sobrou nada, nada que possa dizer, ah, sobrou isso. Não tem, não sobrou nada”, lamenta Carla.
Navegando pelo Guaíba, se depara com o que sobrou de barcos e casas: quatro das 16 ilhas foram as mais afetadas pela inundação. O pescador Éder Ribeiro perdeu a casa pela segunda vez. A mulher e os filhos estão em um abrigo na capital.
“Tu olha a casa, vê e pensa, e vê de novo. Não te dá a força para botar a mão”, diz.
Ao desembarcar na Ilha da Pintada, encontra-se muita areia. O abastecimento de água começa a ser reestabelecido aos poucos, o que permite a limpeza das casas. A prefeitura instalou um posto avançado de atendimento para facilitar o acesso dos moradores aos benefícios sociais. A esteticista Cristiane Coelho não sabe quando vai poder sair do barco para casa, mas tem uma certeza:
“Para mim, o mais difícil já passou. A gente vai trabalhando e vai conquistando tudo de novo, vai correndo atrás”, afirma.

Mais Notícias