A cerimônia da abertura do sepulcro de Jesus Cristo é tradição de Quinta-feira Santa há mais de 150 anos para os habitantes de Sabará, em Minas Gerais. Em Minas Gerais, uma cerimônia popular na Semana Santa reúne católicos há mais de um século
Em Minas Gerais, uma celebração popular antecipa a Sexta-feira da Paixão.
Toda Quinta-feira Santa moradoras de Sabará, em Minas Gerais, têm uma missão especial: dona Lázara perfuma a Igreja de São Francisco, de 1722, com erva-cidreira e mirra.
“É um cheiro diferenciado, de respeito, de amor, de carinho, de agradecimento”, disse pedagoga Lázara da Piedade.
E a missão da dona Efigênia é preparar a imagem de Cristo, é uma tradição de família.
“Esse lençol aqui mesmo, se você for olhar, ele tem mais de 200 anos que foi feito. A minha família já tem muitos anos que tá mexendo. Minha bisavó, a minha vó, a minha mãe, e agora eu”, contou a idosa.
A imagem fica protegida até que a matraca convoca a comunidade. A igreja fica cheia e o grupo musical da cidade toca composições históricas.
“Elas são do século 18, foram feitas em Sabará, por compositores mineiros da época barroca, e inspiradas na Semana Santa”, afirmou a flautista Susana Noronha.
É hora de abrir o sepulcro.
Ritual da abertura do sepulcro simula velório de Jesus Cristo em Sabará, Minas Gerais.
Reprodução/Jornal Nacional
“É uma preparação para ele ser crucificado. Como se fosse um velório antecipado. Rezar para Deus a preparação do dia da morte dele, por isso que a gente fala que é uma atividade, uma cerimônia muito popular”, explicou o historiador José Bouzas.
Depois que o sepulcro é aberto, os fiéis vão ao encontro da imagem de Cristo. A comunidade de Sabará segue este ritual há 150 anos. E sempre assim, na Quinta-feira Santa, curiosamente, não na Sexta da Paixão
“Sexta-feira, como é um dia de recolhimento, de jejum, de oração, aqui em Sabará, criou-se o costume, há muito tempo, de fazer abertura, desprezando-se o fator cronológico, na quinta-feira”, disse o padre Eribaldo Pereira Santos.
Anderson Morato viajou 3 horas pelos interiores de Minas para este encontro.
“Para mim é tanto uma questão de fé quanto de tradição, cultura, identidade. Identidade mineira. Minas está aqui celebrando a Paixão à sua maneira”, disse Anderson.
Depois das homenagens, o altar é isolado e o corpo de Cristo velado por 24 horas, por fiéis, em luto.
“O pessoal vai trocando, fazendo, mantendo a vigília constante. Estamos sempre com ele”, disse Wanderlei Pita.