A área queimada este ano no Pantanal ultrapassa os 1,6 milhões hectares, o que corresponde a 10% do bioma; número de animais mortos ainda não foi contabilizado. Onça com as patas queimadas pelos incêndios no Pantanal
Gustavo Escobar/ Divulgação
Desde o início da temporada de incêndios no Pantanal, em maio — que começou mais cedo do que o habitual devido ao tempo seco e às mudanças climáticas — até o domingo (11), foram resgatados 564 animais silvestres afetados pelo fogo. O número de animais mortos ainda não foi calculado.
A área queimada neste ano no Pantanal ultrapassa os 1,6 milhões hectares (404,850 em MT e 1.249,475 em MS), o que corresponde a 10% do bioma, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ).
Os animais
O Biólogo Gustavo Figueiroa, diretor do Instituto SOS Pantanal, explica que a quantidade de animais resgatados costuma ser muito menor do que a de mortos.
Um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, universidades e ONGs estimou que, em 2020, ao menos 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas no Pantanal.
“A gente sabe historicamente quais são os grupos que mais sofrem. Os répteis e os anfíbios são os animais que mais morrem, eles têm a maior dificuldade de locomoção, então eles são os que mais sofrem”, disse Figueiroa.
Na segunda-feira (15), uma onça-pintada que recebeu o nome de “Miranda” foi resgatada no Pantanal com as patas queimadas. Figueiroa reforça que este não é um caso isolado.
“O pessoal tem encontrado antas queimadas; enfim, encontraram catetos, já viram tamanduás e, geralmente, os que são encontrados ainda com vida têm queimaduras nas patas. Eles andam por esse solo que está queimado e, geralmente, tem fogo de turfa, que é um fogo que corre por debaixo do solo, então eles queimam as patas. Então, geralmente, os animais que estão sendo encontrados são encontrados com os membros queimados”.
Animal no meio da vegetação queimada
ICMBio
O biólogo explica que o cenário caótico provocado pelo avanço do fogo muda completamente o comportamento dos animais.
“Recentemente, foi registrado lá na Caiman uma onça-pintada e uma jaguatirica dividindo uma manilha para passagem de água, que é de concreto, embaixo de uma estrada. Eles encontraram ali um abrigo seguro. Então, imagine uma onça e uma jaguatirica dividindo o mesmo espaço sem se atacar. Vimos relatos e cenas parecidas em 2020 durante os grandes incêndios. A gente via diversos animais reunidos ali para tomar água nos pontos de dessedentação, como catetos, lontras, cachorro-do-mato, todos juntos e próximos. Era uma cena que não aconteceria normalmente, mas, em um cenário de desastre, percebemos que o comportamento muda; eles realmente ficam no modo sobrevivência, apenas buscando o recurso que precisam”.
O trabalho de resgate
Gustavo Figueiroa durante resgate de sucuri no Pantanal
Muitos desses resgates ficam marcados na memória de quem atua na linha de frente do combate aos incêndios no Pantanal. Figueiroa lembra de um resgate feito durante os incêndios florestais de 2021, no Parque Estadual ao Encontro das Águas, quando o fogo se aproximava de uma sucuri amarela.
“Foi meio loucura! Eu pulei dentro do lago para pegar ela, tudo cheio de lama. A gente saiu, eu saí com ela, levei-a até o rio, e ela ficou bem depois. Então, esse resgate me marcou positivamente; foi muito tenso, mas deu certo.”
Existe um grupo técnico formado por 12 diferentes instituições de Mato Grosso do Sul que trabalha diretamente com a proteção dos animais em locais de risco e também com o aporte nutricional para que os bichos possam continuar se alimentando até que as áreas afetadas pelo fogo se regenerem.
A médica veterinária e coordenadora operacional do Grupo de Resgate Técnico Animal de Mato Grosso do Sul (Gretap/MS), Paula Helena Santa Rita, lembra que este ano o grupo já participou de dois resgates de animais, uma onça-pintada e dois veados, todos na região de Miranda.
“Técnicos ainda estão atuando em áreas de risco com ações preventivas para o afugentamento de animais de locais com risco de fogo. Há também o aporte nutricional que foi feito em alguns casos específicos para primatas na região de Corumbá. Os médicos-veterinários de diferentes instituições que integram o Gretap também estão atuando com o atendimento de animais domésticos em áreas que foram atingidas pelo fogo. É um conjunto de trabalho que ainda não tem prazo para ser encerrado”.
A onça resgatada na quinta-feira (15), está no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande. Ela já se alimentou e continua sob monitoramento.
Onça resgatada durante incêndios no Pantanal recebeu o nome de Miranda
Divulgação
Focos de incêndio
Conforme o Corpo de Bombeiros, há 12 focos de incêndio ativos nesta sexta-feira (16) no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Um novo foco foi detectado no Porto Esperança, próximo à estação ferroviária, nas proximidades da cidade de Corumbá (MT).
Há também dois focos ao sul do estado do Mato Grosso e um foco no mesmo estado, na divisa com Mato Grosso do Sul, próximo aos municípios de Costa Rica e Alcinópolis, na região do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari (PENT).
Incêndios no Pantanal avançam em áreas que ainda não tinham sido atingidas
Reprodução/TV Globo
Estão ativos também um foco que atingem a região do município de Miranda, próximo à Salobra, e que se estendeu até a BR-262, um foco na região da Serra do Amolar e nas proximidades de Paiaguás, além de focos de calor nas imediações do Passo da Lontra, na Estrada Parque.
Já na região de Naviraí, o foco está localizado próximo à divisa com o estado do Paraná, na região de Nabileque e nas proximidades da comunidade indígena Kadiwéu.
Todos os focos foram identificados por meio de monitoramento por satélites e as equipes de combate prontamente mobilizadas para combater/monitorar o fogo e prevenir a expansão dos incêndios.