24 de outubro de 2024

Em turnê inédita em Belém, grupo Cabokaji, da Bahia, mistura rap, pop e cultura afroindígena

Banda se apresenta pela primeira vez no Pará em dois shows com entrada franca. Cabokaji: elementos do rap, música eletrônica, pop e da nova MPB em melodias que celebram as percussões afro indígenas
José de Holanda
Entre a ancestralidade e o futurismo, a musicalidade indígena e negra ocupa Belém esta semana. O “CIRCUITO ARETÉ – Tempo de Festa” traz shows inéditos em programação gratuita nesta quinta-feira (24), às 20h, no Na Figueiredo, e dia 27, às 19h, no Espaço Cultural Apoena.
O projeto traz a turnê do grupo Cabokaji, vindo da Bahia, que leva para a cena brasileira uma sonoridade única, com elementos do rap, música eletrônica, pop e da nova MPB em melodias que celebram as percussões afro indígenas – um manifesto que se inspira na sabedoria da floresta e nos caboclos. Os espetáculos contam com as participações dos artistas paraenses Flor de Mururé, músico trans da periferia da Amazônia; e Jeff Moraes, cantor e compositor afroamazônico.
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Em uma insurgência pelo reconhecimento das identidades brasileiras, o Circuito apresenta a cultura cabocla como forma de salvaguardar a memória dos povos originários. Criado em 2019 por Caboclo de Cobre, ISSA, Ejigbo e Mayale Pitanga, a banda Cabokaji celebra as raízes indígenas e afro-brasileiras presentes no Nordeste do Brasil.
A banda lançou o primeiro disco através do Natura Musical. Com participações do Cacique Idyarrury, Guerreiro Idyarony (ambos do Coletivo Wetçãmy, de Palmeiras dos índios/AL) e das artistas baianas Eloá Puri e Elaine Ramos, as apresentações integram a turnê do novo EP “Salvaguarda”.
Cabokaji: aquilombamento contemporâneo
José de Holanda
Com muitos termos em línguas originárias, as letras versam sobre o amor preto e tupi, espiritualidade, até os protestos sociais e políticos. Citam as vielas brasileiras e os caminhos das matas, falam de personagens das ruas e também dos personagens ancestrais, como os Orixás.
Para o Cabokaji, é urgente que a juventude se conecte com sua racialidade mestiça, que traz consigo a cultura indígena e negra, para a construção de um aquilombamento contemporâneo. “A gente até entende que a palavra ‘resgate’ seja a primeira a vir na nossa cabeça quando se trata de cultura indígena e africana. Pra promover essa igualdade racial é necessário ter esse olhar cuidadoso e holístico com tudo que envolve a vida dos indígenas e das pessoas negras, não somente a representatividade na mídia”, afirma Issa Malumba.
O Circuito é patrocinado pela Petrobras, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
Flor de Mururé e Jeff Moraes
Divulgação
Intercâmbio Norte/Nordeste
A proposta do Circuito é fomentar um intercâmbio cultural entre o Norte e Nordeste, dando protagonismo a estes dois territórios originários. “Um projeto como esse é super importante porque conecta duas regiões poderosíssimas do Brasil. Há uma similaridade muito grande entre as sonoridades do Pará e da Bahia. Uma conexão que é ancestral. Acredito muito que as sonoridades acabam se conectando em algum lugar, que seja de forma mais visceral, através dos tambores, que na Bahia são tocados de um coro sintético, e aqui no Pará são tocados sentados, ou então no som das maracas”, analisa Jeff Moraes, cantor e compositor paraense., que se apresenta com o Cabokaji no Apoena.
Em 2021, Jeff lançou o primeiro álbum da carreira chamado “Tambor e Beat”. Cultura pop, afro afeto, Amazônia e ancestralidade são as palavras-chave da produção musical do artista, que é oriundo das batucadas das ruas e praças de Belém.
Já Flor de Mururé se apresenta no Na Figueredo, e soma seu talento e militância artística ao Cabokaji. Em CROA, primeiro disco do artista transgênero da Amazônia, a força do tambor também é um manifesto de resistência. Flor faz da arte e da fé seu principal instrumento de sobrevivência no país mais transfóbico do mundo.
Flor traz, de forma única, suas vivências como homem trans e a relação de afeto, cura e aquilombamento de corpos dissidentes através das religiões de matrizes africanas e originárias, que celebram orixás, voduns, guias e caboclos. “Eu nunca tinha visto um homem trans no palco. Então quis ser a minha própria referência. Pra mim, o que importa é nosso corpo-território vivo”, diz.
Serviço:
Programação musical do “CIRCUITO ARETÉ – Tempo de Festa”: nesta quinta-feira (24), às 20h, o show será no Na Figueiredo; e dia 27, às 19h, no Espaço Cultural Apoena. A entrada é franca. Pegue seu ingresso online.

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