Médico e influenciador está em Salvador para divulgação de estudo da comunidade LGBTQIA+. Em entrevista ao g1, Fred ressaltou a responsabilidade de inspirar pessoas pretas e não heteronormativas. Fred Nicácio fala sobre rompimento com a família
“A ruptura foi determinante, porque se não eu não seria quem eu sou”, afirma o médico, influenciador digital e ex-BBB Fred Nicácio sobre o afastamento dos pais, que não aceitaram a sua orientação sexual. A história do carioca fez com que ele se tornasse ativista LGBTQIA+ e um dos embaixadores de um estudo inédito sobre geração de renda da comunidade, que foi apresentado em Salvador na quinta-feira (29).
Fred Nicácio em entrevista ao g1 Bahia
Redes sociais
Vindo de um lar evangélico e militar, para o carioca os pais não conseguiram se distanciar das crenças limitantes e decidiram pela não convivência. Apesar do sofrimento, Fred preferiu não se podar para manter o núcleo familiar.
“Se fosse um pouco mais negociável, parte de mim seria podada, parte de mim não estaria aqui. E a minha felicidade é inegociável, não negocio meu espaço interno e não me diminuo para poder caber em espaço nenhum”, afirmou.
Foi esse posicionamento que o tornou um dos embaixadores do estudo do Instituto Matizes e do Fundo Positivo: “Inclusão Econômica e Geração de Renda da População LGBTQIA+ no Brasil: Desafios, Iniciativas e Financiamentos”. Lançada no Pelourinho, a pesquisa tem como objetivo fazer um diagnóstico do problema e apresentar possibilidades de soluções.
“A gente sabia de forma qualitativa que existiam muitas dificuldades para entrar no mercado de trabalho, mas queríamos mensurar. Neste ponto nos surpreendeu, ainda temos gargalos muito grandes a serem cumpridos tanto na iniciativa pública, como na privada”, explicou Lucas Bulgarelli, o coordenador do projeto.
A pesquisa ouviu 104 organizações LGBTQIA+ espalhadas pelo Brasil entre 2023 e 2024. Um dos dados apurados é que, apesar de existirem projetos para incluir a comunidade em empresas, no máximo 1 em cada 4 participantes conseguiu um trabalho formal com carteira assinada, conforme 57,5% das organizações e iniciativas.
Fred Nicácio fala de estudo inédito sobre inclusão econômica da população LGBTQIAP+
Para Fred Nicácio, as empresas costumam usar desculpas para não lidar com os desafios de integrar uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ na equipe. Quando existe a oportunidade, muitas vezes ela não vem acompanhada de investimentos e boas condições de trabalho.
“Muitas empresas até contratam, mas porque é moda, na verdade elas ‘não estão nem aí’. As pessoas que se importam precisam estar nesses lugares de decisão de poder”, afirmou.
Recorte racial
Fred Nicácio fala o poder da representatividade
Como homem negro e gay, Fred acredita que o recorte racial sempre será determinante para a forma que as pessoas o veem – desde o Big Brother Brasil até uma revista policial.
Os obstáculos causados pelo racismo existem, mas o médico também ressalta um outro lado de ser um homem preto em lugar de destaque: servir de inspiração para meninos e meninas. Ele percebeu a responsabilidade pela primeira vez em 2017, quando atendeu uma idosa de 74 anos e o neto dela, de nove. Ele foi o primeiro médico negro que os dois viram na vida.
“Dona Eunice levou sete décadas para ver o primeiro médico negro da vida dela, que fui eu. O neto dela, antes de completar a primeira década, já pode querer ser médico”, disse.
Fred Nicácio e Dona Eunice, paciente de 74 anos que se emocionou ao conhecer “primeiro” médico negro
Redes sociais
Para Fred, é difícil não se emocionar com situações como essa. Diariamente, ele recebe mensagens inspiradoras nas redes sociais, como adolescentes que não desistiram do vestibular por causa dele e mães que torcem para que os filhos sejam felizes e bem sucedidos como ele.
Tantos retornos positivos ofuscam as ofensas racistas que, infelizmente, ele segue recebendo. “Geralmente eu ‘não estou nem aí’, são só letrinhas de pessoas projetando a própria frustração em mim”, afirmou.
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