Série do g1 resume, nas palavras dos próprios autores do carnaval das escolas do Grupo Especial, o que será levado para a Sapucaí. Veja o que Alexandre Louzada e Lucas Milato dizem sobre a homenagem ao primeiro terreiro de Candomblé do Brasil. g1 no carnaval: conheça o enredo da Unidos de Padre Miguel
“A gente celebra uma mulher, uma africana, que veio na condição de escravizada para o Brasil e que não deixou morrer a África dentro de si (…) e aqui plantou o primeiro axé do que nós hoje conhecemos como candomblé.”
A homenagem da Unidos de Padre Miguel à história do primeiro terreiro de candomblé no Brasil terá dois grandes protagonistas, a ialorixá (mãe de santo) Iyá Nassô e o próprio terreiro, a Casa Branca do Engenho Velho.
Alexandre Louzada e Lucas Milato falaram sobre o enredo “Egbé Iya Nassô” ao g1, para a série de reportagens em que os carnavalescos resumem o que as escolas contarão na Sapucaí (veja no vídeo acima).
Saiba tudo sobre o carnaval do Rio
O terreiro Casa Branca do Engenho Velho (ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká) foi fundado no século 19, na Barroquinha, em Salvador (BA), entre 1820 e 1830. Entre 1860 e 1870, o templo foi transferido para o Engenho Velho da Federação, onde está até hoje.
A escolha do enredo foi abençoada pelo conselho editorial da Casa Branca.
“Além de contar a história da saga, da coragem, de todo o enfrentamento de preconceito, existe essa similaridade que hoje todas as escolas de samba são legítimas representantes, são pequenas Áfricas que mantêm as suas tradições”, diz Alexandre Louzada.
Iyá Nassô, a princesa negra escravizada
Samba e Enredo: Unidos de Padre Miguel homenageia a história do primeiro terreiro de Candomblé do Brasil
A ialorixá Iyá Nassô foi uma princesa negra escravizada, que decidiu, junto com suas irmãs, enfrentar a guarda imperial para libertar seus filhos da revolta.
O enredo destaca o papel fundamental das mulheres, tanto no candomblé quanto na liderança da própria Unidos de Padre Miguel, refletindo sobre a relevância do poder feminino nas religiões de matriz africana.
A narrativa também reforça a forte conexão com a comunidade da Vila Vintém, considerada uma das muitas “pequenas África”.
Confira o samba-enredo
Awurê Obá kaô! Awurê Obá kaô!
Vila Vintém é terra de macumbeiro!
No meu Egbé governado por mulher
Iyá Nassô é rainha do candomblé!
Eiêô! Kaô kabesilê Babá Obá!
Couraça de fogo no orô do velho ajapá
A raça do povo do Alafin, e arde em mim
Rubro ventre de Oyó
Na escuridão nunca andarei só
Vovó dizia: Sangue de preto é mais forte que a travessia!
Saudade que invade!
Foi maré em tempestade
Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha)
Preceito é herança sem martírio
Airá guarda seus filhos no ilê da Barroquinha
É a semente que a fé germinou, Iyá Adetá
O fruto que o axé cultivou, Iyá Akalá
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Vou voltar mainha, eu vou
Vou voltar mainha, chore não
Que lá na Bahia
Xangô fez revolução
Oxê, a defesa da alma na palma da mão
No clã de Obatossi
Há bravura de Oxóssi no meu panteão
É d’Oxum o acalanto que guarda o otá
Do velho engenho, xirê que mantenho no meu caminhar
Toca o adarrum que meu orixá responde
Olorum, guia o boi vermelho seja onde for
Gira saia aiabá, traz as águas de Oxalá
Justiça de Ogodô, tambor guerreiro firma o alujá