19 de outubro de 2024

Entenda como teste de DNA pode substituir papanicolau na detecção do HPV

Estudo pioneiro em Indaiatuba antecipa em 10 anos o diagnóstico do câncer de colo do útero e propõe mudanças no SUS; veja como funciona. Teste de DNA pode substituir papanicolau na detecção do HPV
Lúcio Camargo/Unicamp
Um projeto pioneiro implementado em Indaiatuba (SP) pretende revolucionar a forma de detecção do HPV, vírus relacionado ao câncer de colo do útero. A iniciativa, que começou em 2017, utiliza um teste de DNA no lugar do tradicional papanicolau e promete aumentar a eficácia do diagnóstico e a prevenção da doença em larga escala.
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⌛ O estudo, coordenado por médicos do Hospital da Mulher da Unicamp (Caism), está em fase avançada e trouxe resultados significativos, como a antecipação do diagnóstico em até 10 anos, segundo os pesquisadores.
De acordo com o professor Júlio Teixeira, coordenador do projeto e médico responsável pela pesquisa, o teste de DNA é realizado por meio da técnica de PCR, capaz de identificar 14 tipos de HPV que podem causar câncer de colo do útero.
“O teste tem uma sensibilidade próxima de 100%, o que significa que praticamente não há falsos negativos. Isso é um grande avanço em comparação ao papanicolau, que apresenta uma sensibilidade de cerca de 60% e está sujeito a falhas”, explica.
Teixeira também destaca que, enquanto o papanicolau precisa ser repetido a cada três anos, o teste de DNA garante um resultado confiável por até cinco anos. “Um resultado negativo no teste de DNA significa que a paciente pode ficar tranquila por esse período, com risco quase zero de desenvolver lesões pré-cancerosas.”
Resultados
🧬 O teste de DNA também foi implementado em algumas regiões de Recife (PE), mas os resultados dos cinco anos de aplicação em Indaiatuba indicam uma mudança na prevenção. “A cobertura que conseguimos em Indaiatuba é algo sem precedentes no Brasil”, afirma o professor.
Ele aponta que mais de 85% das mulheres que tiveram resultados alterados no exame foram avaliadas e tratadas, caso necessário. Isso inverteu o panorama nacional, em que dois terços dos casos de câncer de colo do útero eram diagnosticados em estágio avançado.
“Agora, conseguimos detectar a maioria dos casos em estágios microscópicos e curáveis”, ressalta.
Além disso, Teixeira menciona que, graças à sensibilidade do teste, foi possível identificar quatro vezes mais lesões pré-cancerosas que poderiam evoluir para câncer nos próximos anos. “Esse tipo de detecção precoce é fundamental para salvar vidas, especialmente em um país como o Brasil, onde o câncer de colo do útero ainda mata muitas mulheres”, afirma.
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Júlio Teixeira, coordenador do projeto e médico responsável pela pesquisa
Lúcio Camargo/Unicamp
Vantagens para o sistema de saúde
O teste de DNA também oferece vantagens significativas para o sistema de saúde, segundo os médicos. Além de aumentar a segurança das pacientes, permitindo uma abordagem mais eficiente, o método é mais econômico a longo prazo.
“Estudos de custo-efetividade realizados em Indaiatuba mostraram que o sistema de saúde gasta menos com esse teste do que já é investido no papanicolau, principalmente porque reduz a necessidade de tratamentos mais caros, como a radioterapia, que é essencial nos casos de câncer avançado”, explica Teixeira.
👉 Ele também salienta que, ao detectar a doença precocemente, o sistema de saúde pode redirecionar recursos para outras áreas. “Se continuarmos nessa direção, poderemos usar os equipamentos de radioterapia, por exemplo, para tratar outros tipos de câncer, já que menos mulheres precisarão desse tratamento para o câncer de colo do útero.”
Impacto nas políticas públicas
Para as políticas públicas de saúde no Brasil, a implementação desse teste em maior escala tem potencial de transformar a forma como o câncer de colo do útero é combatido, especialmente entre as populações mais vulneráveis, afirma Teixeira.
“Quem mais sofre com essa doença são as mulheres negligenciadas, de menor acesso aos serviços de saúde, e em sua maioria negras. Esse teste permite que todas elas tenham acesso à melhor prevenção disponível”, enfatiza o professor.
Além disso, Júlio destaca a importância de um sistema informatizado para garantir o sucesso do programa de rastreamento em todo o país. “Um sistema informatizado permite um controle mais eficiente da população-alvo, evitando exames desnecessários e garantindo que as pacientes com exames alterados sejam rapidamente convocadas para avaliação”, explica.
Cerca de 99% dos casos de câncer de colo do útero são causados pelo HPV
Próximos passos e desafios
O professor acredita que o estado de São Paulo pode liderar a transição para um modelo de prevenção mais eficaz, como foi feito em Indaiatuba. No entanto, ele alerta para a necessidade de planejamento.
“Assim como em Indaiatuba, São Paulo tem condições de ser um modelo para o restante do país. Mas é preciso que o sistema esteja preparado e que as adaptações necessárias sejam feitas para atender às especificidades de cada região”, afirma.
Com a perspectiva de expansão do teste de DNA em todo o Brasil, Júlio Teixeira projeta uma significativa redução nas mortes por câncer de colo do útero.
“No curto e médio prazo, só com a inversão dos estágios do câncer para fases microscópicas, poderíamos evitar 350 das 468 mortes mensais de mulheres no Brasil. As evidências estão aí, e o que precisamos agora é de ação política para salvar essas vidas. Não podemos mais esperar.”
Vista aérea de Indaiatuba
Eliandro Figueira/Prefeitura de Indaiatuba
*Estagiário sob supervisão de Yasmin Castro e Gabriella Ramos.
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