3 de outubro de 2024

Entenda por que ondas de calor e até queimadas podem afetar produção e preço dos peixes

Produtores no interior de São Paulo enfrentam dificuldades com falta de chuvas, estresse dos animais e ração mais cara. Calor excessivo prejudica criação de peixes na região de Campinas
As ondas de calor frequentes e a falta de chuvas vêm provocando dificuldades para a produção de peixes na região de Campinas (SP). Segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), o preço dos pescados ainda não teve alta significativa, mas a situação pode se agravar.
A crise climática está afetando a piscicultura em diferentes aspectos, da baixa oxigenação dos tanques, o que provoca a diminuição da qualidade da água, até a saúde dos peixes afetada pelo estresse das altas temperaturas.
Indiretamente também são impactados pelas queimadas que acometeram a região nos últimos meses, pois elas acarretaram um aumento do preço da ração.
📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp
Entenda porque calor e baixa umidade podem afetar o preço dos peixes
Reprodução/EPTV
☁️ Falta de oxigenação
As condições climáticas adversas têm um impacto direto na piscicultura. A eficiência da atividade está ligada ao controle dos parâmetros da água: disso dependem o crescimento, a saúde e a sobrevivência dos peixes.
Para controlar o nível de oxigênio da água, é utilizada uma máquina de aeração, ela solta jatos constantes de água nos tanques para aumentar o elemento dissolvido no líquido que facilita a troca de gases.
No entanto, o uso prolongado desse equipamento aumenta os custos com energia elétrica.
“Temperatura muito alta começa a esquentar muito a água, a demanda por oxigênio para os peixes é maior, então tem que fazer um tempo de aeração maior”, diz o piscicultor Pedro Gabriel Polettini.
Entenda porque calor e baixa umidade podem afetar o preço dos peixes
Reprodução/EPTV
Aumento do preço da ração
A ração, composta de soja, milho e farinha de carne, está até 15% mais cara, segundo o produtor.
Além disso, ele também informou que estão ocorrendo atrasos na entrega e isso levou a equipe da fazenda a usar farelo de frango para alimentar os peixes.
Estresse térmico
Mas segundo os produtores, o pior é o chamado “estresse térmico”, pois o calor extremo pode estar provocando problemas à saúde dos peixes.
“Os olhos esbranquiçados, praticamente uma catarata, parece que ele está cego, mas não está […] mesmo dentro da guelra, dá para perceber que ela não está avermelhada como deveria estar. A gente vai encontrar a presença de parasitas. Não é problema da água de cultivo, é problema de variabilidade térmica que estressa o animal e predispõe a entrada deste tipo de patógenos e de doenças”, explica o engenheiro agrônomo Maximilino Leonello Junior.
O aumento da temperatura também pode fazer com que as algas vermelhas “Oscillatoria” saiam do controle nos tanques.
Por precaução, os donos de uma fazenda em Mogi Mirim (SP) optaram por retirar os peixes antes que a situação piorasse.
Entenda porque calor e baixa umidade podem afetar o preço dos peixes
Reprodução/EPTV
Diminuição do fluxo de água
Em uma fazenda de piscicultura em Itapira (SP), o uso dos recursos naturais está sob atenção redobrada. Na propriedade, Marcos de Souza Pádua, engenheiro agrônomo e diretor presidente da Associação Paulista de Pscicultores, já percebeu que o fluxo de água que vem de um ribeirão próximo está bem menos abundante.
“Nós estamos com uma vazão aí de cinquenta, sessenta por cento menos de fluxo d’água. E isso demanda custo maior para nossa produção”, diz o engenheiro.
Em uma fazenda de Mogi Mirim (SP) a barragem usada para fornecer parte da água está baixa. Apensar disso, a fazenda segue produzindo alevinos, peixes jovens de até 40 dias, para outras fazendas da região e até para pesqueiros.
“Conforme muito, muito quente assim, você vai ter que abrir mais o colo da rede para eles terem mais espaço para trabalhar e não apertar tanto o peixe”, fala o pscicultor Pedro Gabriel Polettini.
Segundo o piscicultor, o processo de retirada dos peixes do tanque fica mais difícil no calor. Evitar a superlotação nos tanques também tem ajudado a manter a qualidade dos peixes.
O principal investimento para não faltar água foi feito em acordo com as autoridades ambientais. Há 30 anos, na década de 1990, os donos das terras concordaram em reflorestar a área que cerca uma nascente. Esse reflorestamento tem garantido uma reserva de água mais estável, mesmo em anos de seca intensa.
“Nós estamos com 300% do volume da água original que tinha das nascentes. A seca é um pouco contribuição nossa mesmo, o ser humano tá acabado com isso e tá na hora da gente trazer de volta. Recuperar de novo as nascentes para a gente ter um controle sobre essas secas tão perigosas e desastrosas que a gente está tendo”, finaliza
VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas

Mais Notícias