25 de setembro de 2024

Entenda relação direta entre solo e mudança climática: ‘Manejo correto é capaz de sequestrar carbono’, aponta cientista da USP

Dscarte inadequado de resíduos no solo impacta o meio ambiente e a saúde pública. Cientistas consultados pelo g1 explicam a relação direta entre o solo e as mudanças climáticas. Exemplo de solo não saudável
Carlos Eduardo Cerri/Arquivo pessoal
Recurso natural essencial, o solo tem papel vital na produção de alimentos e funcionamento dos ecossistemas, inclusive na manutenção dos recursos hídricos e clima. Limeira (SP), a segunda maior cidade da área de cobertura do g1 Piracicaba e região, retirou 319 toneladas de resíduos e lixo das redes que compõem o sistema de esgoto em 2023 que, se não coletados, poderiam chegar aos lençóis freáticos. Neste ano, entre janeiro e março, a concessionária contabilizou 84 toneladas, de acordo com a concessionária BRK responsável pelo serviço de água e esgoto no município.
O descarte inadequado de resíduos no solo impacta o meio ambiente e a saúde pública. Cientistas consultados pelo g1 explicam a relação direta entre o solo e as mudanças climáticas – 👇Leia na, reportagem, abaixo.
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No Brasil, o Dia Nacional da Conservação do Solo foi instituído pela Lei Federal 7.876, de novembro de 1989, e é celebrado em 15 de abril.
De acordo com a BRK, concessionária responsável pelos serviços de água e esgoto em Limeira, frequentemente são encontrados nas tubulações da cidade resíduos de:
🏗️construção civil
🧻descartes de banheiro como papel higiênico, fio dental, preservativos, cabelo
🪀brinquedos
👕tecidos
🛍️sacos plásticos
🛢️fluídos como óleo de cozinha, gordura
A concessionária ressalta que, como agravante, fluídos como óleo de cozinha, gordura, chorume proveniente do acúmulo de lixo e agrotóxicos se infiltram no solo e podem alcançar os lençóis freáticos. Ainda segundo a BRK, estudos apontam que um litro de óleo de cozinha pode poluir um volume de um milhão de litros de água.
“A quantidade de resíduos e lixo retirada das tubulações reflete a urgente necessidade de conscientização da população sobre a importância do descarte responsável. Cada item descartado de forma incorreta representa uma ameaça ao meio ambiente e à saúde pública”, destaca Alexandre Leite, gerente de operações da BRK em Limeira.
Lavagem preventiva das redes de esgoto de Limeira
BRK Ambiental Limeira/Reprodução
📝Nesta reportagem você vai ver:
Quais são os resíduos mais prejudiciais ao solo?
Como isso afeta a saúde dos seres humanos e animais?
Quais são os exemplos mais comuns de resíduos?
Existem resíduos menos prejudiciais ao solo?
Como mitigar esses impactos?
Qual é direta entre manejo adequado do solo, emissão e sequestro de carbono?
E o agro nisso…?
O sequestro de carbono é o processo de transformação de gás carbônico (CO2) em oxigênio, que remove o CO2 da atmosfera.
O g1 entrevistou o professor e pesquisador da Esalq, o campus da Universidade de São Paulo em Piracicaba (SP), Carlos Eduardo Cerri, que também é coordenador do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (Ccarbon) da instituição e o engenheiro agrônomo Marcos Siqueira-Neto, doutor e especialista em projetos de carbono na agropecuária, com atuação na Biofílica Ambipar Environment.
Quais são os resíduos mais prejudiciais ao solo?

O professor Carlos Eduardo Cerri aponta que os resíduos mais prejudiciais ao solo “são os plásticos, porque não decompõem, então ficam acumulando no solo, e também aqueles que contêm metais pesados em sua constituição. O problema dos metais pesados é que eles não ficam só no solo. Então as plantas que crescem nesse solo podem e irão absorver parte desses metais”, salienta.
Como isso afeta a saúde dos seres humanos e animais?
Cerri explica ainda que a presença desses metais não está só no solo, mas também na planta. “Podemos consumir essa planta. Um animal podem consumir essa plantão e, depois, um humano consumir a carne do animal, fazendo com que esses metais cheguem até os seres superiores. Os animais, vertebrados, nós seres humanos. E isso causa uma série de desordens fisiológicas e problemas neurológicos, problemas de saúde, etc. O problema é esse, os metais pesados eles se acumulam na cadeia trófica”, alerta.
Solo bem manejado
Carlos Eduardo Cerri/ USP/Arquivo pessoal
Quais são os exemplos mais comuns de resíduos?
O engenheiro agrônomo Marcos Siqueira-Neto aponta que as principais causas da poluição do solo são o “acúmulo de lixo sólido, lixo doméstico, materiais de descartes de prestadores de serviço, como por exemplo, eletricistas, mecânicos, empresas de limpeza etc; materiais industriais (embalagens de produtos químicos. restos de metais e baterias etc.), descarte de componentes tecnológicos, como placas, pcs, celulares e resíduos organo-minerais, os combustíveis, óleos, graxas, entre outros”, lista.
“Em empresas agrícolas os maiores problemas ocorrem com embalagens e metal, além de resíduos de fertilizantes, pesticidas e herbicidas”, ressalta Siqueira Neto.
Existem resíduos menos prejudiciais ao solo?

Siqueira-Neto afirma que não devemos classificar em menos prejudiciais. “Os diferentes resíduos, causam diferentes impactos e riscos tanto à saúde humana, quanto para a biodiversidade e demais serviços ecossistêmicos”, alerta.
Como mitigar esses impactos?

Segundo o especialista, aplica a “3R na prática: Reduzir, Reciclar e reutilizar. Para o lixo doméstico: eficiência na reciclagem e compostagem de produtos orgânicos (ambos política pública). Além de, economia circular, rastreabilidade de produtos e embalagens, criação de cadeias de valor para os materiais destacados”, afirma.
Cultivo mínimo com manutenção – palha sobre o solo
Maurício Cherubin/Carlos Eduardo Cerri/Arquivo pessoal
De que forma a preservação e a não preservação do solo influenciam nas mudanças climáticas?

Os pesquisadores consultados pelo g1 afirmam que existe uma relação direta entre manejo do solo e emissão de gás do efeito estufa e sequestro de carbono.
“O manejo e conservação do solo são uma das principais ações para mitigar as mudanças climáticas”, afirma Marcos Siqueira-Neto. “O solo armazena carbono como matéria orgânica. As alterações na matéria orgânica transformam o carbono do solo em CO2, principal gás do efeito estufa, que causa as mudanças climáticas”, explica.
“Existe um problema global, que é o aquecimento global e as consequentes mudanças no clima, um aumento exponencial na concentração do CO2 devido às nossas atividades, principalmente queima de combustível fóssil. Isso é o padrão global”, explica.
“[…] O que acontece é que esses CO2 e os outros gases estão em excesso na atmosfera, causando aquecimento porque reagem com a radiação no infravermelho. A Terra, com esse novo padrão de aumento de temperatura, tem que se ajustar. E uma das coisas é mudar o clima. Por isso, aquecimento global é causado por uma concentração muito alta de gases do efeito estufa”, explica Cerri.
Solo saudável com água brotando ao fundo
Carlos Eduardo Cerri/Arquivo pessoal
Onde entra o solo nessa história?

Se manejarmos adequadamente o solo, ele é capaz de sequestrar carbono. “O que significa isso? As plantas que estão vivendo neste solo ou acima dele, elas retiram o CO2 da atmosfera naturalmente, pelo processo da fotossíntese. Então, as plantas fazendo fotossíntese, tiram CO2 que está em excesso na atmosfera”, diz Cerre.
“Globalmente, o solo armazena mais carbono que as quantidades somadas da atmosfera, vegetação e seres vivos, incluindo nós, humanos. Entre 70 e 80% desse carbono está armazenado na superfície do solo, nos primeiros 50 centímetros. Assim, quaisquer alterações na superfície do solo impactam negativamente o armazenamento desse reservatório, ocasionando sua emissão para a atmosfera”, comenta Siqueira-Neto.
Qual é a relação direta entre manejo adequado do solo, emissão e sequestro de carbono?

O solo é um grande reservatório de carbono na forma de matéria orgânica. “As atividades humanas têm grande impacto nesse reservatório. No Brasil, a mudança de uso da terra (conversão de florestas em outros usos – como urbanização, mineração, agropecuária etc.) e a agropecuária são responsáveis por cerca e 75% das emissões de gases do efeito estufa – causadores das mudanças climáticas”, argumenta Siqueira-Neto.
“Assim, além de zerar o desmatamento, a adoção de melhores práticas na agropecuária, que envolvem o manejo conservacionista do solo e a intensificação sustentável da produção agropecuária, resultam num maior sequestro de carbono no solo, mitigando as mudanças climáticas, simultaneamente garantindo segurança alimentar e bioenergética”, acrescenta.
O professor Carlos Eduardo Cerri ressalta que a planta, por decomposição dos organismos do solo, vai transferir carbono para o solo. “Esse é o sequestro de carbono no solo. Sabe o que é interessante? Que esse carbono não fica solto lá. Ele fica na forma de constituintes orgânicos, na forma de matéria orgânica do solo. É essa matéria orgânica do solo que é decisiva para melhorar a saúde do solo”, comenta.
“A presença da matéria orgânica no solo, que é carbono em última análise que estava na atmosfera, passou pela planta e agora está no solo, melhora a saúde do solo, melhora atributos físicos, atributos químicos e biológicos. Então, não é só sequestrar carbono por sequestrar para tirar o excesso que está lá na atmosfera. A consequência desse sequestro, o fato de a gente ter esse carbono no solo, melhora a qualidade do solo, melhora a saúde do solo”, conclui.
E o agro nisso…?
O professor Carlos Cerri aponta que o setor no Brasil é dos mais sustentáveis no mundo.

“Sobre o setor de agricultura, pecuária e silvicultura, que claro, tem muito que melhorar, todos os setores têm que melhorar. Isso é uma melhoria contínua, mas eu não tenho qualquer dúvida de que agricultura, pecuária e silvicultura no Brasil é mas é a mais sustentável, a mais tecnificada, a mais avançada que se tem no mundo. Isso deveria ser um orgulho para nós”, finaliza.
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