20 de setembro de 2024

Especialistas avaliam que falta de incentivo do governo piorou crise da Avibras, companhia bélica brasileira que deve ser vendida

Comunicado publicado pela própria Avibras nesta segunda-feira (1°) revelou que a companhia tem negociações avançadas para ser vendida para uma empresa australiana. Avibras em Jacareí, SP
André Luís Rosa/ TV Vanguarda
A negociação para venda da Avibras – companhia bélica brasileira que enfrenta uma crise financeira – para a DefendTex, empresa australiana, tem repercutido nesta terça-feira (2).
Um comunicado emitido em conjunto pelas duas empresas nesta segunda-feira (1°) revelou que as tratativas para conclusão do negócio estão avançadas – leia mais detalhes abaixo.
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Indústria brasileira do setor de Defesa, a Avibras enfrenta uma crise há pelo menos dois anos. Em março de 2022, a empresa pediu recuperação judicial alegando dívida de R$ 600 milhões.
Desde então a situação piorou. O último relatório de atividades da empresa aponta para uma divida de quase R$ 640 milhões. Desse valor, mais de R$ 74 milhões são por salários e rescisões em atraso até dezembro de 2023. O Sindicato dos Metalúrgicos afirma que os funcionários estão há 11 meses sem receber salário.
Empresa australiana negocia aquisição da Avibras, companhia bélica brasileira
De acordo com o professor da Unicamp e especialista em indústria aeronáutica Marcos José Barbieri Ferreira, a crise da Avibras é consequência da falta de incentivos do Governo Federal para exportação de produtos de Defesa fabricados no país.
“O que é destinado ao investimento em Defesa no Brasil é insuficiente. Um volume de recursos muito pequeno. Além disso, é um volume irregular. Há uma variação muito grande de investimentos de um ano para o outro”, avalia Marcos.
Já para o pesquisador do núcleo de estudos de defesa da UFF-RJ Eduardo Brick, a situação da Avibras também é reflexo de um problema estrutural que o Ministério da Defesa enfrenta há anos.
“Ela (a empresa) é mais importante do que uma unidade militar combatente. Você monta uma unidade militar combatente em poucos meses, mas uma Avibras demorou 60 anos para ser construída. Ela envolve muito mais coisas. É muito mais complexa”, ponderou.
A Rede Vanguarda procurou o Ministério da Defesa pra saber se o governo federal autorizou a venda da Avibras, mas eles não confirmaram a informação. A Avibras também foi questionada sobre essa autorização, mas a empresa disse que vai se posicionar apenas por meio do comunicado que já foi divulgado.
Avibras
Reprodução/ TV Vanguarda
Negociação para venda
A empresa DefendTex, da Austrália, negocia a aquisição da Avibras, indústria brasileira do setor de Defesa que enfrenta uma crise financeira há pelo menos dois anos.
Segundo a Avibras, que está em processo de recuperação judicial, a negociação está avançada e visa a sua recuperação econômica. Confira trecho do comunicado publicado pela Avibras:
“A Avibras Indústria Aeroespacial e a DefendTex comunicam que vêm mantendo tratativas avançadas para viabilizar um potencial investimento que visa a recuperação econômico-financeira da Avibras, de forma a manter suas unidades fabris no Brasil, retomar as operações o mais breve possível e manter o fornecimento previsto nos contratos com o governo brasileiro e demais clientes.
O comunicado diz ainda que as duas companhias estão empenhadas “para finalizar os termos e condições específicas do investimento e manterão o mercado informado”.
O Sindicato dos Metalúrgicos informou que é contra a venda da Avibras e que considera a negociação um ‘ataque à soberania nacional’. A associação que representa a categoria disse ainda que seguirá mobilizando os metalúrgicos pela regularização dos salários (que estão atrasados há 11 meses) e pela ‘estatização da Avibras’.
Trabalhadores da Avibras fazem manifestação contra atrasos nos salários em São José dos Campos, SP.
José Eymard/TV Vanguarda
Salários atrasados
No último dia 14 de março, trabalhadores da Avibras fizeram uma manifestação em frente à empresa. O protesto reuniu cerca de 100 funcionários. O protesto foi para reivindicar o pagamento de salários atrasados.
Ainda segundo o sindicato da categoria, ao todo, cerca de 800 trabalhadores estão em greve e outros 400 funcionários estão em layoff, que é o modelo de suspensão temporária dos contratos de trabalho.
O Sindicato dos Metalúrgicos alega que quer uma decisão sobre a situação, com a empresa efetuando o pagamento dos salários atrasados, já que a situação está se estendendo por anos.
Funcionários da Avibras fazem manifestação em Jacareí
Recuperação judicial
Em 22 de março de 2022, a Avibras pediu recuperação judicial, alegando uma dívida de R$ 600 milhões. Em julho de 2023, credores aprovaram o plano de recuperação judicial da empresa.
A recuperação judicial serve para evitar que uma empresa em dificuldade financeira feche as portas. É um processo pelo qual a companhia endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça.
Fábrica da Avibras em Jacareí
Reprodução/TV Vanguarda
Demissões e greve
A crise na Avibras se arrasta há alguns anos. Em 18 de março de 2022, a empresa demitiu cerca de 400 trabalhadores na fábrica em Jacareí. Na época, o Sindicato dos Metalúrgicos informou que não houve nenhum comunicado prévio ou tentativa de negociação sobre medidas para evitar as demissões, como adoção de um layoff (suspensão de contratos), por exemplo.
A fábrica alegou que teve de adotar “ações de reestruturação organizacional da empresa, mantendo as atividades essenciais para o cumprimento dos compromissos contratuais assumidos junto aos seus clientes”. Ao mesmo tempo em que fez o corte, pediu à justiça a recuperação judicial alegando dívida de R$ 600 milhões.
Trabalhadores da Avibras protestam contra atrasos de salário e estatização em trecho da Rodovia dos Tamoios
Divulgação
A entidade recorreu à Justiça do Trabalho e conseguiu reverter o corte porque o juiz entendeu que não seria possível ter recuperação, se não havia força de trabalho na empresa.
Com a readmissão, a empresa colocou os funcionários em layoff. Os trabalhadores da Avibras de Jacareí entraram em greve, reivindicando a garantia de estabilidade para todos os funcionários, pagamento dos salários atrasados e também para que a empresa adote um sistema de trabalho rotativo, no qual os grupos se revezem entre o layoff e o trabalho na fábrica.
Trabalhadores da Avibras estão em greve há um ano
Histórico da Avibras
A Avibras Aeroespacial é maior indústria bélica do país. Foi fundada em 1961 por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP). Ela é uma das primeiras empresas nacionais a atender o setor aeroespacial.
Foi fundada em 1961 e desenvolve tecnologia para as áreas de Defesa e Civil. A organização foi uma das primeiras no Brasil a construir aeronaves, desenvolver e fabricar veículos espaciais para fins civis e militares.
Astros II Avibras São José dos Campos
Divulgação/Avibras
A empresa tem sede em Jacareí, no interior de São Paulo. A Avibras está presente no mercado nacional e internacional. Desenvolve diferentes motores foguetes para a Marinha do Brasil e para a Força Aérea Brasileira, além de produzir sistemas fixos ou móveis de C4ISTAR (Comando, Controle, Comunicação, Computação, Inteligência, Vigilância, Aquisição de Alvo e Reconhecimento) e Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) – o Falcão.
A Avibras recebeu a certificação do Ministério da Defesa como “Empresa Estratégica de Defesa – EED”.
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