Os barrigudinhos são colocados sempre em espaços controlados, onde não há contato com águas de rios e lagoas. Uma precaução para evitar um possível impacto ambiental com a reprodução dos peixes. Espécie de peixe ajuda no combate à proliferação do mosquito da dengue
Neste verão já tão marcado pela multiplicação dos casos de dengue, algumas prefeituras estão usando uma espécie de peixe para combater a proliferação do mosquito.
Em tempos de epidemia de dengue, até a paisagem pode virar fonte de preocupação.
“Vira. Muito. Eu moro ali, então vejo mosquito. Agora, a gente não cheira mais a perfume, a gente cheira a repelente”, diz a aposentada Leda Ferraz.
Para ajudar a eliminar as larvas do mosquito em ambientes assim existe um aliado: o nome dele é poecilia reticulata, mas é popularmente conhecido como barrigudinho – uma espécie de peixe que se alimenta de larvas de mosquito, inclusive as do aedes aegypti, transmissor da dengue.
“Aqueles peixinhos, barrigudinhos, que eu tinha na minha casa quando eu era garoto. Aí não tem mosquito de jeito nenhum, eles comem todos os ovinhos”, conta o aposentado Luiz Alberto.
“O ideal é não ter água parada. Mas onde tiver grande quantidade de água acumulada e que a gente sabe que aquele problema não vai se resolver em curto período de tempo, o uso do barrigudinho é uma estratégia de sucesso que a gente vem usando de forma sistemática e regular”, afirma Rafael Pinheiro, coordenador de Vigilância em Saúde Ambiental.
Na cidade do Rio de Janeiro, eles já são usados pela Vigilância de Saúde. Os peixes são criados em tanques e, depois, soltos em locais como piscinas abandonadas, chafarizes, tanques, espaços onde há grande quantidade de água e que podem ser focos da dengue.
Além de se alimentarem de larvas de mosquitos, os peixes barrigudinhos têm uma outra característica importante: a resistência para sobreviver em ambientes com poluição, o que também facilita o uso deles nesse tipo de estratégia de combate à dengue, principalmente em áreas urbanas.
“Eles se reproduzem bastante e eles são pequenininhos. Então, eles conseguem transitar naqueles pequenos espaços de vegetação ou de presença de lixo e eles podem fazer o controle do aedes aegypti. Ou seja, se alimentar deles nesses locais aonde outros peixes maiores talvez não conseguissem alcaçar”, explica Rafael Pinheiro.
Avanço da dengue no Brasil obriga prefeituras a reforçar o combate ao aedes aegypti
Os peixes são colocados sempre em espaços controlados, onde não há contato com águas de rios e lagoas. Uma precaução para evitar um possível impacto ambiental com a reprodução dos peixes.
Outros locais do Brasil também usam os barrigudinhos para combater a dengue. Em Uberlândia, Minas Gerais, quase 600 locais já receberam os peixes. Esses pontos seguem sendo monitorados pela Embrapa, responsável pelo projeto que também acontece em Parnaíba, no Piauí. O pesquisador Luiz Carlos Guilherme foi responsável por implementar a iniciativa.
“Essa ação, na década de 1930, foi utilizada em São Paulo e no Rio de Janeiro, com ênfase no combate à malária. Nós refinamos a parte de pesquisa para validação dentro do campus. O peixinho é capaz de comer até 70, 80 larvas durante o dia. Ele é mais uma ferramenta para que as pessoas e os municípios possam trabalhar melhor o controle da dengue durante o ano”, explica o pesquisador da Embrapa.
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