Com o avanço da doença, os hemocentros perdem doadores em potencial, já que pessoas que foram infectadas precisam ficar um mês sem doar sangue. Doação de sangue precisa de reforço em São Paulo
O estado de emergência para dengue em São Paulo acendeu um alerta nos bancos de sangue.
No meio da tarde, o Hemocentro do Hospital das Clínicas de São Paulo, um dos maiores do país, estava com pouca gente doando sangue. O representante comercial Marconi Cavalcanti vai lá com frequência. A primeira vez que doou foi para salvar a vida de um amigo, há 45 anos.
“Acho que tinha 18, 19 anos. Um colega sofreu acidente de motocicleta e fui doar sangue e ficou”, conta.
Para manter as geladeiras abastecidas, o ideal seria ter pelo menos 9,5 mil doações por mês. Mas, desde o começo de 2024, o Hemocentro não consegue essa quantidade mínima de doadores. Resultado: só tem 35% das bolsas necessárias para atender os pacientes.
Com o avanço da dengue, os hemocentros perdem doadores em potencial, já que pessoas que foram infectadas precisam ficar um mês sem doar sangue. Para quem teve dengue hemorrágica, o prazo é ainda maior: seis meses. Por isso, o apelo dos profissionais para que as pessoas que estão com a saúde em dia ocupem essas cadeiras.
O analista de sistemas Alexandre Araújo de Barros doou pela primeira vez, aproveitando que acompanhava mãe, que está internada.
“Estava sem fazer nada, por que não? Veio oportunidade, desci aqui e fiz. Pretendo fazer mais vezes”, afirma.
Para quem já tomou a vacina contra a dengue, a Anvisa recomenda um intervalo de 30 dias para doar sangue. O mesmo prazo vale para quem teve relação sexual com pessoa infectada pelo aedes aegypti.
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O sangue doado enche uma bolsa e depois é separado de acordo com os seus componentes. Por isso, a médica responsável pela triagem de doadores do Hospital das Clínicas diz que uma única doação pode salvar até quatro vidas.
“É o que sempre digo: se todos os brasileiros que têm condições físicas, condições de saúde para doar, doassem duas vezes por ano. Poxa, isso já ia ajudar muitíssimo”, afirma Sandra Camargo Montebello, médica responsável pela triagem dos candidatos a doação e coleta de sangue do Hospital as Clínicas.
A publicitária Marina Lopes faz parte desse grupo disposto a ajudar. Doa sangue até três vezes por ano, estimulada pela família.
“Meu pai sempre foi doador, minha mãe doou por um tempo também. Às vezes, marco até na agenda ‘já posso doar’. Não tem erro, mas se eu esquecer meu pai lembra”, conta.
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