25 de setembro de 2024

Estrela-das-montanhas: nova espécie de margarida é descrita no sul do Espírito Santo

Descrição do gênero Wunderlichia não era feita na Mata Atlântica há pelo menos 50 anos. Planta já é considerada criticamente ameaçada. Encontrada em 2023, Wunderlichia capixaba foi publicada em setembro de 2024
Dayvid Couto
Uma nova espécie de margarida, nomeada cientificamente como Wunderlichia capixaba, foi descoberta no município de Castelo, no sul do Espírito Santo.
A descrição da planta foi publicada no dia 9 de setembro, na revista científica Phytotaxa, por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).
Apelidada de estrela-das-montanhas pelos cientistas, a espécie é restrita aos afloramentos rochosos dessa região e foi considerada por eles como Criticamente Ameaçada (CR), segundo os critérios da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN.
De acordo com os autores, novas espécie do gênero Wunderlichia não são descritas na Mata Atlântica há pelo menos cinco décadas. As últimas descobertas foram feitas em 1973: Wunderlichia azulensis, W. bahiensis e W. senae.
“A estrela-das-montanhas é uma espécie da família Asteraceae, uma das maiores famílias de plantas com flores. Essa família inclui plantas bem conhecidas, como as margaridas, o picão, a alcachofra, a marcelinha, o girassol e as carquejas”, explica Aristônio Magalhães Teles, coautor do artigo.
Wunderlichia capixaba foi encontrada pela primeira vez em maio de 2023 nas proximidades das comunidades de Barra Alegre e Estrela do Norte, durante uma expedição científica para documentação da flora dos inselbergues – ecossistemas rochosos muito comuns no Espírito Santo.
Wunderlichia capixaba foi avaliada como Criticamente Ameaçada (CR)
Dayvid Couto
Por que tão ameaçada?
Segundo Teles, a nova espécie descrita é conhecida apenas de uma única localidade e possui uma população relativamente pequena, estimada em menos de 50 indivíduos. “Essa característica por si só torna a espécie extremamente vulnerável e criticamente ameaçada”, diz o pesquisador.
Além disso, a região onde ela ocorre abriga um dos maiores centros de mineração de pedras ornamentais do mundo, e o entorno do local é repleto de plantações de café.
Wunderlichia capixaba é restrita aos inselbergues da região sul do Espírito Santo, em locais acima dos 900 metros de altitude
Aristônio Magalhães Teles

Para agravar ainda mais a situação, o local onde as populações se encontram é muito visitado por praticantes de base jumping e wingsuit, que aproveitam a altura do local para a prática desses esportes.
O que são inselbergues?
Os inselbergs são formações rochosas, geralmente de natureza granítica, como o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Bastante antigas, essas formações abrigam um conjunto de plantas e animais próprios, muitas vezes não encontrados em nenhum outro lugar.
“Elas funcionam como ilhas terrestres no meio da floresta, isoladas da paisagem, criando microclimas que oferecem habitats variados e favorecem a diversidade de plantas e animais, atuando como refúgios de biodiversidade. Por isso, os inselbergs são tão especiais e possuem grande valor ecológico”, pontua Teles.
Importância na conservação
Para o autor, a existência de uma espécie que ocorre exclusivamente nesse local, e que até pouco tempo era desconhecida pela ciência, revela a existência de um ambiente especial e ainda pouco explorado do ponto de vista científico.
Conhecer essa e outras espécies raras de plantas significa também descobrir novas fontes potenciais de moléculas bioativas que podem ser utilizadas em medicamentos para tratar doenças ou cosméticos, por exemplo.
“Essas são questões que precisam ser respondidas, e isso só será possível se esses habitats forem protegidos e conservados, caso contrário corremos o risco de que espécies desapareçam antes mesmo de serem conhecidas”, finaliza Teles.
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