23 de setembro de 2024

Estudante que teve matrícula negada por não ser considerado pardo começa aulas na USP após determinação da Justiça: ‘Sempre foi meu sonho’

O jovem conseguiu na justiça o direito de cursar a universidade. Ele teve a vaga de cotista negada pela USP por não ser considerado pardo pela banca julgadora. O jovem de Cerqueira César (SP) foi aprovado pelo Provão Paulista no curso de medicina da USP, mas perdeu a matrícula
Alison Rodrigues/Arquivo pessoal
O estudante Alison dos Santos Rodrigues, de Cerqueira César (SP), que teve a vaga de cotista negada pela Universidade de São Paulo (USP) por não ser considerado pardo pela banca julgadora começa a frequentar o curso de Medicina da universidade nesta terça-feira (9).
📲 Participe do canal do g1 Itapetininga e Região no WhatsApp
A Justiça havia determinado um prazo para que a instituição efetivasse a matrícula do estudante, sob pena de multa de R$ 500 por dia. Ao g1, Alisson contou que está muito feliz e ansioso para iniciar as aulas.
“Ajudar as pessoas sempre foi meu sonho e agora que isso vai acontecer me sinto cada vez mais completo”.
Jovem que teve matrícula negada conseguiu na justiça direto de ir à USP
Reprodução
O jovem estudante disse ainda que vai aproveitar cada segundo. “Não existem palavras para representar o que estou sentindo de verdade, estou muito alegre por essa conquista, eu e minha família”, completa.
A universidade chegou a justificar a negativa da matrícula alegando que o estudante não possui o conjunto de características fenotípicas de uma pessoa negra. A universidade foi convocada pelo TJ-SP a prestar esclarecimentos no processo que o estudante, de 18 anos, que se autodeclara como pardo, move para tentar efetivar a matrícula com base na lei de cotas.
Conforme a advogada que representa a família de Alison, Giulliane Jovitta Basseto Fittipald, a universidade informou que o candidato tem pele clara, boca e lábios afilados, cabelos raspados impedindo a identificação, não apresentando o conjunto de características fenotípicas de pessoa negra e, por isso, não pode usufruir de uma das vagas reservadas a pretos, pardos e indígenas.
Relembre o caso
Alison foi aprovado na primeira chamada do Provão Paulista no curso de medicina, porém, teve a matrícula cancelada após uma banca julgadora não o considerar como pardo. Ele recebeu a notícia em seu primeiro dia de aula, em 26 de fevereiro. Desde então, ele não acompanha as aulas.
A universidade teve o prazo de cinco dias úteis para apresentar a justificativa do cancelamento da matrícula ao recurso administrativo apresentado pelo Alison ao Conselho de Inclusão e Pertencimento. O processo correu pela 2ª vara da Justiça em Cerqueira César.
Ao g1, Alison contou que sempre se autodeclarou como pessoa parda.
“Tive o desprazer de saber da notícia que eu não fui aprovado, mesmo me identificando formalmente como pardo. E tudo aquilo que aconteceu me deixou sem chão, parece que o mundo acabou porque foi algo muito difícil de conquistar.”
Justiça determina que jovens que perderam vagas cotistas na USP frequentem aulas
Como funciona a avaliação
A Universidade de São Paulo declarou que a análise é feita por fotografia e que, por meio de duas bancas de cinco pessoas, são avaliados somente os fatores fenotípicos: a cor da pele morena ou retinta, o nariz de base achatada e larga, os cabelos ondulados, encaracolados ou crespos e se os lábios são grossos.
Caso a foto do candidato não seja aprovada na primeira avaliação, ela é direcionada automaticamente para a outra banca. “Nenhuma banca sabe se a foto está sendo analisada pela primeira ou segunda vez, o que garante uma dupla análise cega das fotografias”, afirma a USP em nota.
Ainda de acordo com a instituição, se as duas bancas não aprovarem a foto por maioria simples, o candidato é automaticamente chamado para uma oitiva presencial.
Veja mais notícias no g1 Itapetininga e Região
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

Mais Notícias