Lançamento ocorreu no dia 1º de junho, no Parque das Águas, em Sorocaba (SP). Projeto começou em março do ano passado. Estudantes de Sorocaba enviam minissatélites à órbita da terra para estudos meteorológicos
Dois estudantes do 1º ano do ensino médio de uma escola estadual de Sorocaba (SP) participam de um projeto de monitoramento geoespacial. No dia 1º de junho, a dupla lançou o primeiro satélite para estudos de radiação e temperatura na cidade.
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Chamados de “CubeSat”, dois satélites em miniatura foram lançados no Parque das Águas com balões meteorológicos, que podem chegar a 35 quilômetros de altitude. A iniciativa faz parte do esforço para estabelecer Sorocaba como uma base operacional para experimentos científicos na baixa órbita.
A órbita baixa da terra, conforme especialistas, favorece observações e coletas de dados, uma vez que os satélites nesta localização conseguem completar até 16 viagens ao redor do nosso planeta por dia.
O Sorosat-1 foi projetado para coletar dados de radiação, enquanto o Sorosat-2 mede temperatura, pressão e altitude durante a subida. O objetivo é desenvolver pesquisas espaciais. Ambos cabem na palma da mão.
Projeto começou com alunos do ensono médio começou no ano passado, em Sorocaba (SP)
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Para o lançamento, a torre de comando do Aeroporto de Sorocaba foi informada, às 11h30 e autorizou o lançamento às 12h. De acordo com os organizadores, os satélites foram desenvolvidos para fornecer informações importantes sobre os níveis de radiação ionizante na alta atmosfera e seus impactos em instrumentos e células orgânicas
O grupo pretende enviar novos satélites para continuar o estudo, mas há alguns problemas, como o custo do gás hélio, e há a necessidade de apoio financeiro. O primeiro foi graças à doação da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Ainda conforme o grupo, mesmo com uma trajetória de sucesso nas três primeiras fases da Olimpíada Brasileira de Satélites do MCTI e a apresentação no Science Days, que ocorreu em março deste ano em Campinas (SP), os satélites quase não saíram do papel devido à falta de financiamento para o gás hélio.
O projeto começou em março do ano passado, de forma despretensiosa, no Programa de Ensino Integral (PEI), da escola estadual “Profª. Antônia Lucchesi”, que fica no Jardim Leocádia. Ele foi inspirado na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), na Mostra Brasileira de Foguetes (MobFog) e nos projetos experimentais da Olimpíada Brasileira de Satélites (OBSAT). Com o tempo, o projeto ganhou destaque e agora opera de forma independente.
Grupo pretende novos satélites de baixa órbita para continuar o estudo em Sorocaba (SP)
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Do ponto de vista didático, conforme os organizadores, o projeto é uma imersão na cultura “Steam” (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). “O desenvolvimento dos satélites proporcionou aos participantes a oportunidade de vivenciar o ciclo completo de gerenciamento e desenvolvimento de um projeto espacial. Isso permitiu o envolvimento direto dos estudantes no desenvolvimento e validação de tecnologias espaciais, promovendo a educação científica e contribuindo para a agenda do desenvolvimento sustentável”.
“Esse projeto é de grande valor também para o município, pois, com a validação das tecnologias embarcadas nos satélites, elas poderão ser utilizadas em outras missões, fortalecendo a participação de Sorocaba no cenário nacional da área espacial.
Dois professores atuam nos trabalhos, que começou com três alunos do 9º ano do ensino fundamental. Atualmente, Caio de Andrade Nogueira e Luiz Fernando Alves Santos, que estão no 1º ano do ensino médio e cursam técnico em automação industrial na ETEC Armando Pannunzio, seguem na iniciativa.
Estudantes de Sorocaba (SP) participam de projeto com lançamentos de satélites
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Caio atua na área de desenvolvimento de jogos, sites e aplicativos desde 2020. “Anteriormente ao projeto, já tinha conhecimento de algumas linguagens de programação, como Python […] algumas que eu dominava na época e ainda utilizo com muita frequência”, conta.
Ele descreve como chegou ao projeto. “Atualmente, já possuo um conhecimento mais vasto da área e com isso sinto que tive grande participação no projeto. Fiquei sabendo no início de 2023 pela professora Yolanda, quando me foi informado a equipe ainda estava ‘separando’ funções para trabalharmos de forma organizada”, diz.
Ainda conforme Caio, a princípio os outros membros já tinham conhecimento de projetos que ele fazia utilizando de diversas linguagens de programação. “Em uma decisão da equipe eu me tornei responsável pelo desenvolvimento computacional e a manutenção e utilização de qualquer ferramenta digital para o desenvolvimento do satélite.”
“Hoje sinto que o projeto já tem grande impacto na minha vida acadêmica e profissional, tudo isso de forma extremamente positiva, visto que, esse projeto desde o início, só teve a adicionar aos membros selecionados. Dessa forma, o projeto também me proporcionou total admiração e respeito pelo trabalho dos professores orientadores do projeto, não só pelo apoio que queríamos mas também pela oportunidade que precisávamos.”
Luiz, que tem 16 anos, falou dos desafios do projeto. “O projeto foi algo desafiador em diversos aspectos. Tivemos que aprender muita coisa em um curto período de tempo, mas com muito esforço e dedicação conseguimos terminar o nosso satélite, ainda mais com o apoio dos professores Cesar Hipólito e da Yolanda”, diz.
Ele também tem consciência sobre os valores, é grato pelo apoio recebido. “Outro desafio, foi o custo, pra um lançamento desse o preço não é barato. Tentamos pedir apoio do Parque Tecnológico de Sorocaba, mas não obtivemos resultados. Foi então que apareceu uma proposta de lançamento em parceria com o ITA e o UFABC. Simplesmente incrível, me traz um pouco de esperança saber que ainda tem pessoas que apoiam a ciência em nosso país.
🎲Análise de dados
Os satélites levaram cartões de memória, que registraram os dados meteorológicos. “Nosso balão caiu em Mogi das Cruzes e está na base da GCM de lá. No sábado (15), nossa equipe irá resgatar o balão com os ‘cubesats’. Daí passaremos para a fase de análise dos dados”, explica Yolanda.
A professora acredita que o impacto maior do projeto está na divulgação, promoção e desenvolvimento da ciência, que segundo ela, impacta positivamente, não só os alunos, como toda a sociedade.
“No Brasil temos aproximadamente 700 cientistas por milhão de habitantes, enquanto nos países desenvolvidos este número é 10 vezes maior, isso impacta diretamente o desenvolvimento do país, por consequência o do nosso município também.”
“Com este projeto demonstramos que a ciência e a tecnologia de ponta também podem começar nos anos finais do ensino fundamental. Não precisamos deixar que os estudantes cheguem ao nível superior para que tenham contato com as ciências e as tecnologias.”
Um novo lançamento está previsto para dezembro deste ano.
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