8 de novembro de 2024

‘Eu sou punk’: quem é Katy da Voz e as Abusadas, trio que vem ganhando a noite de SP com letra de funk proibidão e batida techno


Com um refrão de uma música que diz ‘vai tomar no c*, vai pra um caralh*’ e apresentações visuais marcantes, trio formado por Katy Da Voz, Palladino Proibida e Degoncé Rabetão lançou recentemente o disco ‘Ainda Mais Atormentadas Y Remixadas’ e virou presença certa nas festas da capital. Capa do disco “Ainda mais Atormentadas Y Remixadas”.
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De uma notícia publicada pela “Folha de S.Paulo” sobre uma sessão da estreia de Joker 2 – o filme da Lady Gaga – que foi interrompida e viralizou nas redes sociais, até críticas por apresentações mais rebeldes, a noite de São Paulo tem um novo nome que parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo: Katy da Voz e as Abusadas.
O trio, que surgiu em 2019 no Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, formado pelas travestis Katy Da Voz, de 27 anos, Palladino Proibida, de 26 anos, e Degoncé Rabetão, também de 27, mais uma vez ganhou a internet. O motivo: uma apresentação em uma festa no Rio de Janeiro, no último sábado (2), onde o público se incomodou com as letras das músicas.
Dois dias antes, em 31 de outubro, um show do trio também foi impedido pela polícia de acontecer em Campinas, no interior de São Paulo. Elas foram convidadas para cantar em uma festa realizada no Diretório Central de Estudantes (DCE) da Unicamp mas, antes mesmo de a apresentação começar, a polícia chegou ao local.
Em comunicado, a festa informou que houve “perseguição” ao trio. “A cena em Campinas já é superprecária, os eventos não se pagam. É extremamente difícil encontrar espaços que nos recebam, o verdadeiro boicote. Mesmo diante de todas as dificuldades, resistimos ano a ano”, afirmou a organização.
Em entrevista ao g1, Katy da Voz disse que o trio já sabia que a polícia estava no local do show antes mesmo de subir ao palco.
“Antes de subir no palco [em Campinas], estávamos cientes de que não iríamos fazer o show, a polícia estava lá nos brecando. A festa continuou. Os comentários sobre o Rio a gente está adorando, fomos pegas de surpresa. O show aconteceu normalmente, ensaiamos, estávamos animadas e fizemos o show, só depois vimos o que acharam da apresentação. Mas é sobre isso, um momento isso iria chegar, Katy da Voz e as Abusadas foi feito para incomodar, então quanto mais pessoas conhecerem, mais elas vão ficar surpresas.”
Em nota, a Unicamp informou que em 1º de novembro, “à 0h50, durante uma ronda na rua Sérgio Buarque de Holanda, a Secretaria de Vivência no Campus (SVC) registrou a chegada de uma viatura da Polícia Militar ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), em resposta a denúncias de perturbação de sossego feitas por moradores próximos. O supervisor do SVC confirmou a ocorrência de uma festa de estudantes no local e recomendou cautela aos policiais na abordagem devido ao número de presentes. Os policiais dialogaram com os organizadores da festa e solicitaram a redução do volume do som, o que foi atendido prontamente. A situação foi resolvida pacificamente, sem necessidade de novas intervenções”.
A artista Katy da Voz.
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As apresentações do trio são acontecem há três anos, mas somente agora começaram a chegar a mais pessoas. A música que incomodou o público no Rio, é “VTNC”, com participação da Urias. A letra conta sobre uma decepção amorosa que termina com uma revolta do personagem principal. Um trecho da música diz: “Vai tomar no c*, vai pra um caralh*, vai se f*der, vai seu arrombado”.
As músicas do trio geralmente são relatos de relações sexuais explícitas. Além das letras, Katy também faz performances teatrais durante as apresentações.
“Somos mulheres cantando sobre sexo. A verdade é que a mulher não pode fazer nada, somos travestis cantando funk sobre sexo – o homem cis sempre vai destruir a imagem feminina, sendo ela uma diva pop ou uma travesti. Então esse é o nosso público-alvo, é por isso que a gente incomoda”, completa.
Katy da Voz e as Abusadas e a cantora Urias.
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O grupo se juntou oficialmente em 2019 e, em 2021, iniciou na produção musical, quando o primeiro mixtape do trio foi colocado no SoundCloud – uma plataforma online de compartilhamento de áudio.
Em 2022, com o fim da pandemia de Covid-19, elas começaram a realizar shows, mesmo ano em que lançaram “Sacolão das Favelas”.
Em 2023, foi lançado o EP “Prostitutions”, onde o trio conseguiu o seu primeiro milhão de reproduções em serviços de streaming. Neste ano, foi lançado o projeto “Remixadas Y Atormentadas”, um disco dividido em duas partes, com a participação de vários nomes que tocam na noite paulistana, como Cyberkills, FUSO!, Carlos do Complexo, D3lcu, MU540, Clementaum, Dj Dayeh e a cantora Urias (leia mais abaixo).
“Só agora isso viralizou. Então, como estamos saindo da nossa zona de conforto, estamos chegando em um público que tem dificuldade para aceitar a nossa música. A gente se conhece desde criança, a Degoncé eu conheço desde os 8 anos. A gente até brincava que tinha um grupo, eu dirigia tudo e ela era dançarina. A Palladino eu conheci por causa da Lady Gaga, a gente com 13 anos era fã e fomos virando amigas. Desde então nunca nos separamos, por isso que deu tão certo”, afirma Katy.
“Somos irmãs, nos amamos, nos conhecemos. Já passamos por muita coisa juntas, mas para mim é uma honra tê-las do meu lado. E eu fico muito feliz por tudo que estamos conquistando juntas. Sobre esses episódios que acontecem, eu sempre falo que vai ter momento que vamos ler coisas que não queremos sobre a gente, nosso corpo, nossa aparência e o que somos. Mas eu sempre tento preparar o grupo porque acho que ignorar é muito melhor do que lidar”, completa.
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Por que a música incomoda?
A música do trio nada mais é do que uma evolução do funk proibidão, com elementos da música eletrônica. Classificada pela própria Katy como punk, são produções com letras cômicas, muita citação de relações sexuais explícitas (como no funk) e, claro, barulho, o barulho do funk paulista que vem ganhando o carinho da gringa.
“Eu acredito que a música seja rebelde. Existem vários gêneros e várias vozes para que você possa estar alternando sempre. O funk de SP ou do Rio está sempre mudando, sempre alterando. Demorou muito para eu entender a arte. Primeiro precisava me entender como pessoa, como uma mulher trans, para depois entender de onde venho e quais são minhas dificuldades. Tudo isso foi colocado como desabafo na música, uma transgressão, uma coisa mais agressiva no som. Isso é ser punk, ser punk é destruir todo o sistema que está muito correto, muito certo e fazer daquilo a sua virtude. Eu sou punk”, diz Katy da Voz.
Palladino Proibida, Katy da Voz e Degoncé Rabetão
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Atormentadas Y Remixadas
Nas duas partes lançadas do disco “Atormentadas Y Remixadas”, Katy da Voz e as Abusadas fizeram uma homenagem para quem toca ou já tocou na noite de São Paulo. O disco juntou uma série de nomes que estão sempre presentes em festas de música pop e techno na capital.
É como se fosse uma versão do álbum de remixes de Charli xcx, o “Brat, and it’s completely different but also still brat”, só que da cena paulistana.
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Ele é dividido em três partes:
Funks, com diversos elementos que homenageiam o gênero, como o “gatinha se gosta mais de red label ou ice”, do MC Sapão. O “Aquecimento das Abusadas”, com MU540, tem todos os elementos de um funk relíquia, que tocava nos bailes há alguns anos;
Muito techno, que facilmente se escuta em festas como a popular Mamba Negra;
E house music, que vem ganhando espaço na noite de São Paulo, como o crescimento da festa Novo Affair.
“Na primeira parte, eu queria trazer produtores que a galera não conhece tanto na cena, tem muita gente que não abre o olho para DJ e produtor novo. Já aconteceu muito com a gente de as pessoas não convidarem para tocar em determinados lugares. Na segunda parte, pensamos em artistas com mais nomes, foi um desafio muito grande de trazer essa galera, mas pensamos muito no retorno que isso iria trazer para a gente. São pessoas que têm uma ascensão gigante em São Paulo, que têm fã”, afirma.
O lançamento do disco ocorre oficialmente na noite desta sexta-feira (8) no Vip Station, na Zona Sul da capital, com apresentação do trio e dos DJs e produtores que participaram do álbum. A entrada é gratuita para quem chegar antes de meia-noite, mas a festa está sujeita a lotação.
SERVIÇO:
Katy da Voz e as Abusadas: Atormentadas Y Remixadas
🗓️ Quando? Sexta (8)
📍Onde? Vip Station | R. Gibraltar, 346 – Santo Amaro, Zona Sul
💲Quanto? Grátis para quem chegar antes da meia-noite
➡️Mais informações e ingressos

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