30 de janeiro de 2025

Eventos climáticos ficaram mais intensos na capital paulista nos últimos anos, apontam dados da USP


Volume das chuvas cresceu a cada ano na cidade, além de haver mais dias com chuva severa. Crescimento urbano é um dos fatores que contribuem para mudanças climáticas. Eventos climáticos ficaram mais intensos na capital paulista nos últimos anos, apontam dados da USP
Dados levantados pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP) mostram que, ao longo dos anos, cresceu o volume das chuvas registradas na cidade de São Paulo.
De acordo com medições feitas na Estação Meteorológica do IAG-USP, entre 1933 e 2023, o acumulado de chuva na capital paulista cresceu, em média, 5.5 mm por ano.
Em 2023, o volume acumulado de precipitações foi de 1784.5 mm — mais que o dobro do registrado no início da série histórica, em 1933, quando o acumulado foi de 849.8 mm.
Volume de chuva acumulado por ano em São Paulo
Arte 1
Chuva severa
Ao longo das décadas, também cresceu a quantidade de dias em que é registrada chuva severa — quando são registrados mais de 80 mm de precipitação dentro de um único dia.
Entre os anos de 1941 e 1950, por exemplo, só houve dois dias em que foram registradas chuvas de mais de 80 mm. Entre 1961 e 1970, foram seis dias.
Já entre os anos de 2001 e 2010, 12 dias tiveram registro de chuvas severas. Na última década analisada, que compreende de 2011 a 2019, foram 13 dias.
Cresce o número de dias em que é registrada chuva severa em São Paulo
Arte 2
Formação de chuva
O professor de Geociências do IAG-USP Edmilson Dias de Freitas explica que o aumento tanto no volume anual da chuva quanto na quantidade de dias de chuvas fortes é esperado em um cenário de crescimento urbano, que é o caso da cidade de São Paulo.
A chuva resulta de uma combinação de fatores, como o aquecimento e a umidade.
Além do calor natural, que vem do Sol, em um cenário urbano há o aquecimento proveniente das atividades humanas, como, construções, veículos, indústrias e até mesmo atividades como a utilização de ar-condicionado — uma vez que, para que ele resfrie o ambiente, ele gera calor.
Já a umidade, na região Sudeste, tem influência da região amazônica, da evapotranspiração das plantas e, principalmente, da brisa marítima. A circulação atmosférica faz com que, ao longo do dia, a umidade do oceano se desloque para a cidade de São Paulo. Essa brisa costuma chegar no fim da tarde.
Esse período coincide com o aquecimento que a cidade recebeu o dia todo do Sol e de atividades humanas. A combinação desses dois fatores — aquecimento e umidade — é o que resulta nas chuvas de verão no final das tardes quentes, por exemplo.
Já os eventos de chuva severa costumam ocorrer quando esse cenário é combinado com a chegada de uma frente fria. A massa de ar seco da frente fria é mais pesada que o ar, portanto, o ar úmido sobe e forma as nuvens.
Quanto mais calor, mais profundas serão as nuvens e, consequentemente, mais intensos serão a chuva e os ventos — uma vez que as correntes de ar também se formam nas nuvens.
Velocidade dos ventos também cresceu
A velocidade média dos ventos na capital paulista registrou, em 2023, valores mais altos que a média histórica.
Em março, por exemplo, a média histórica é de ventos de 44,2 km/h. Em 2023, a média para esse mês ficou em 57,6 km/h.
Já no mês de novembro, que possui a média histórica de ventos de 50,1 km/h na cidade, em 2023, o registro de ventos foi de 75,6km/h.
Também foi o mesmo período em que São Paulo registrou, durante uma tempestade, rajadas de até 103,7 km/h, o que, na ocasião, foi a maior velocidade de vento registrada nos últimos cinco anos.
Para medir a força das rajadas, os pesquisadores explicam que é preciso levar em consideração que a estação de medição esteja na região onde o vento mais forte da cidade ocorreu, porém isso nem sempre acontece.
Além disso, hoje existem muito mais estações de medição do que em anos anteriores, ou seja, a capacidade de registro de ventos fortes é muito maior atualmente.
Cenário para 2030
Um estudo do IAG-USP analisou o cenário climático para a cidade de São Paulo em 2030, levando em conta o crescimento urbano.
Foram analisadas a verticalização da cidade, ou seja, o aumento no número de edifícios, além da expansão da população e da quantidade de veículos que circulam na capital.
O estudo conclui que as tempestades devem ser ainda mais intensas, como já é possível perceber nos últimos eventos climáticos.
No entanto, é possível que o crescimento populacional não seja acompanhado por um aumento na geração de calor por atividades humanas. Por exemplo, se ele vier acompanhado do uso de vegetação.
Nos eventos severos, quando as árvores caem, por exemplo, elas causam muitos danos. Mas, se a inclusão da vegetação for feita de forma organizada, controlada e bem feita, ela é um fator que contribui para um menor aquecimento das cidades.
Além de sombra, a vegetação é capaz de retirar água do solo, o que deixa o ambiente mais úmido. Locais mais úmidos possuem uma amplitude térmica menor, enquanto locais que são secos aquecem muito mais.
“Não podem ser árvores que destruam calçadas, por exemplo, existem árvores apropriadas para áreas urbanas. Além disso, tem que cuidar da saúde dessas árvores, das podas, ter um manejo mais eficiente”, diz.
Outros exemplos que ajudariam a reduzir o aquecimento na cidade — que é um dos fatores que causam precipitações mais intensas — são a priorização do transporte público para reduzir o número de veículos circulando nas ruas e a troca de motores a combustão por elétricos.

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