13 de janeiro de 2025

Ex-candidata a vice-prefeita de Porto Velho fala pela 1ª vez sobre estupro: ‘Desde aquele dia minha vida está um caos’


Michelangelo Barroso, suspeito do crime, foi denunciado pelo Ministério Público de Rondônia à Justiça estadual. Duas audiências sobre o caso foram realizadas em dezembro e as partes aguardam a sentença. Cerca de dois meses após uma denúncia de estupro feita nas redes sociais, a ex-candidata a prefeita de Porto Velho pela Federação Rede-PSOL, Liliane Rodrigues, falou pela primeira vez sobre o caso em uma entrevista exclusiva ao g1 a Rede Amazônica.
“Foi muito doloroso, está sendo ainda e você precisa de um tempo para assimilar tudo o que aconteceu, tentar superar. Recordar isso a todo momento, é como se tivesse acabado de acontecer”, comenta.
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O caso foi investigado e judicializado. Michelangelo Barroso foi denunciado pelo Ministério Público de Rondônia à Justiça estadual. As advogadas de Lili atuam como assistentes de acusação. O suspeito passa pelo processo preso.
Michelangelo Barroso, acusado de estuprar ex-candidata a vice-prefeita de Porto Velho
Redes Sociais/Reprodução
“Então, temos procurado conversar bastante com a dona Lili, informar, orientar e isso envolve muito deixá-la ciente de que, nesses casos, infelizmente, a palavra da mulher é colocada em xeque, se não pelos órgãos oficiais, também pela sociedade. São casos em que não se acredita muito na palavra da mulher, as provas são um tanto quanto difíceis de se constituir e é um processo bem doloroso”, comenta a advogada Rosimar Francelino.
Durante o período que passou sem se pronunciar sobre o caso, Liliane conta que precisou buscar ajuda psicológica e psiquiátrica para lidar com o trauma.
“Desde aquele dia a minha vida está um caos. Relembrar tudo isso é muito doloroso ainda para mim. Estou em tratamento psiquiátrico, inclusive, para poder superar tudo isso e tentar continuar a minha vida normalmente”, aponta.
O dia a que ela se refere é 4 de outubro. Na denúncia feita à polícia, Lili relata que estava em uma reunião política na casa de sua namorada. O objetivo era prestar apoio a um candidato a vereador da área da saúde. O suspeito também participou do encontro.
“Eu tinha aproximação com eles por conta da minha namorada. Ela trabalhou com eles e eu fui justamente por isso, por conta de ser um apoio”, relatou.
Depois do encontro, Liliane deitou em um dos quartos e dormiu, até o momento em que foi surpreendida com o suspeito sobre seu corpo. Quando percebeu o que acontecia, a mulher fugiu e passou por um processo até conseguir fazer a denúncia, horas depois.
“Entre decidir se eu fazia a denúncia ou não, foram muitos questionamentos. Mas é uma responsabilidade minha, até mesmo porque eu presido um partido que busca justamente isso: justiça para mulheres vulneráveis. Eu me preservei, mesmo destruída, até tomar a decisão: ‘eu vou registrar uma ocorrência porque eu não aguento ser violentada dessa forma, principalmente sem ter defesa nenhuma, é você simplesmente nem ter esse teu momento de dizer sim ou não, você acordar brutalmente, como eu fui”, relembra.
Lili Rodrigues
Reprodução/Redes Sociais
Lili expôs o caso nas redes sociais nas vésperas das eleições municipais.
“Eu tive a necessidade de vir ao público para contar porque é o que acontece: a cada seis minutos uma mulher é violentada no Brasil e em Rondônia o índice de feminicídio, de violência contra a mulher é altíssimo. As mulheres têm que ter coragem para denunciar, não podem ficar caladas, não podem deixar no esquecimento como uma coisa normal”, reforça.
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O g1 entrou em contato com a defesa do réu que informou a incapacidade de se pronunciar, já que o caso corre em segredo de Justiça.
Violência em números
Os dados citados por Lili são do Fórum de Segurança Pública. De acordo com o anuário de 2024, Rondônia é o estado com a maior taxa de estupro do Brasil: 31,4 para 100 mil habitantes. Esse número é mais de 3 vezes a média nacional: 9,9.
O estado também tem uma taxa altíssima de estupro de vulnerável, ficando atrás somente do Estado de Roraima. Confira os dados:
Roraima: 88,7
Rondônia: 76,4
Quando o recorte é feminicídio, Rondônia também possui a maior taxa do país para 100 mil habitantes: 2,6. Ainda assim o índice apresenta uma redução em relação ao ano anterior, que registrou 2,9.
Leia também: ‘Machismo e cultura da violência’ – os pilares que sustentam Rondônia como o estado que mais mata mulheres no Brasil
Partindo para outro recorte, mais de 7,7 mil mulheres sofreram violência doméstica entre 2022 e 2023 em Rondônia. As taxas nos dois anos só perdem para o Mato Grosso: são as segundas maiores do Brasil.
Segundo a advogada Rosimar Marcelino, para passar por processos de justiça contra violências, é fundamental que as mulheres tenham apoio.
“E não só a rede de apoio, mas que toda essa rede de atendimento institucional seja também capacitada e tenha uma infraestrutura, um aparato tecnológico suficiente adequado para lidar com esses tipos de casos”, opina.
Lili contra com a Rede Lilás, além de amigos e familiares. Duas audiências sobre o caso foram realizadas em dezembro e as partes aguardam a sentença que deve sair ainda em janeiro.
“Eu quero justiça, eu quero que ela seja feita. Eu quero que isso não aconteça mais com nenhuma mulher, que a gente saiba e tenha noção dos nossos direitos”, cobra Liliane.
Canais de denúncia
Casos de violência contra a mulher, seja eles quais for, podem ser denunciados através dos telefones:
100
190
180
Em Porto Velho, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) funciona na Unisp da Zona Leste, localizada na Avenida Amazonas.
Também é possível pedir ajuda ao Ministério Público de Rondônia através dos canais:
Email: ouvidoriadasmulheres@mpro.mp.br
Whatsapp: (69) 999 770 127 e (69) 999 770 180
Assista também:
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