Político, preso desde o dia 15 de dezembro, é investigado por fraudes em licitações, desvios de dinheiro e outros crimes. O ex-secretário e sobrinho, Claudinei Quaresemin, teria ajudado o tio com a emissão de passaporte italiano e identidade uruguaia, apontam investigações. Mauro Carlesse saiu do IML de Gurupi e seguiu para a unidade penal
Antoniel Cavalcante/Ronda Policial Tocantins
O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) completa 20 dias de prisão por suspeita de planejar fuga do Brasil. Ele é investigado por fraudes em licitações, desvios de dinheiro e outros crimes. Durante esse tempo, pelo menos sete habeas corpus foram negados pela Justiça.
O político está preso desde o dia 15 de dezembro de 2024. Ele foi detido quando estava a caminho de uma fazenda de sua propriedade na zona rural de São Valério, próximo a Peixe, no sul do Tocantins.
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O mandado de prisão preventiva expedido pela 3ª Vara Criminal de Palmas foi cumprido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPTO).
Em nota nesta sexta-feira (3), a defesa de Maruro Carlesse disse que a prisão é ilegal e que as ações penais contra o ex-governador estão suspensas porque os advogados não tiveram acesso às provas.
A defesa também alegou que o pedido de prisão preventiva foi expedido no dia 25 de novembro e cumprida apenas 20 dias após. O que comprovou que não existia risco de fuga (veja íntegra da nota no fim da reportagem).
Para a reportagem da TV Anhanguera os advogados do político disseram que foram protocolados dois novos pedidos de habeas corpus para o Tribunal de Justiça (TJ-TO) e Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O g1 questionou a defesa sobre estes dois novos pedidos, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.
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Pedidos de liberdade negados
Mauro Carlesse já teve pelo menos sete pedidos de habeas corpus negados pela Justiça desde o dia da prisão. O primeiro apresentado pela defesa foi negado pelo desembargador João Rigo Guimarães no dia 16 de dezembro.
Outros dois pedidos de liberdade também foram negados pelo desembargador Eurípedes Lamounier durante a semana. Depois, o juiz Márcio Soares da Cunha negou outro pedido após análise do caso. Mais duas solicitações foram negadas, pela desembargadora Angela Issa Haonat, do Plantão de 2ª Instância do TJ-TO.
Na decisão, Angela Haonat afirmou que a retenção do passaporte como medida cautelar à prisão não seria suficiente para evitar a possível fuga de Carlesse, pois o Uruguai é um integrante do Mercosul, o que permite a entrada de brasileiros no país sem o passaporte ou visto.
O ex-governador teve o pedido de liberdade apresentado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) negado ainda em dezembro.
Investigações contra Carlesse
Segundo investigação do Gaeco, Carlesse estaria arquitetando o plano de fuga do país, com ajuda do sobrinho Claudinei Quaresemin, ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins.
Quaresemin teria providenciado documento de identidade e autorização para residência fixa no Uruguai para ele e o tio. Mauro, que tem cidadania e passaporte italiano chegou a declarar residência em Marsciano (Perugia), na Itália, no vilarejo de Pieve Caina, para onde supostamente pretendia fugir. A prisão foi deferida e cumprida no dia 15 de dezembro.
Ao todo, Mauro Carlesse é alvo de pelo menos cinco investigações e responde a ações penais. Governador do Tocantins entre 2018 e 2021, ele foi afastado do cargo pelo STJ durante as investigações das operações Hygea e Éris, que apuram supostos pagamentos de propina no plano de saúde dos servidores públicos e aparelhamento da Polícia Civil. Pouco tempo depois ele renunciou ao cargo.
Já em abril de 2024 pela última operação foram encontradas conversas e indícios de um suposto plano. Em abril de 2024, Claudinei Quaresemin teria encaminhado uma imagem ao ex-governador que mostra um documento de identidade uruguaio no nome de Mauro Carlesse.
Em junho do mesmo ano, o sobrinho teria enviado mensagens sobre um pedido de residência permanente Mercosul, que foi aceito. Em entrevistas, Carlesse negou que queria fugir do país.
Identidade uruguaia e passaporte italiano de Carlesse fundamentaram pedido de prisão
Reprodução
Preso em fazenda
Conforme o Ministério Público Estadual (MPE), a prisão aconteceu porque existem indícios de que o ex-governador teria um possível plano de fuga para o exterior.
Carlesse negou o plano de fuga internacional durante entrevista à TV Anhanguera e afirmou que estava à disposição da Justiça.
Ele ainda afirmou ter passaporte e cidadania italiana para viagens de férias. Segundo ele, a identidade uruguaia que conseguiu está relacionada a transações comerciais.
“Por ser um cidadão italiano eu posso ter casa lá. Tinha que ter uma casa lá, tinha não, tenho. Pra quando eu for de férias, por algum motivo, ter onde ficar. O Uruguai é comércio, negócio. Fui várias vezes, vou várias vezes se precisar. É do Mercosul, nós temos muito interesse, inclusive do estado aqui, de levar produto e trazer produto”, disse Carlesse em entrevista à TV Anhanguera.
Além da prisão de Mauro Carlesse, a Justiça expediu outro mandado contra Claudinei Quaresemin, também investigado por envolvimento em um esquema de corrupção. Ele já está preso por outra investigação, a “Operação Overclean”, deflagrada no dia 10 de dezembro. Ele teria atuado, segundo a Polícia Federal, em fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro quando era secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins.
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Conversar sobre fuga
A TV Anhanguera teve acesso aos documentos que mostram trechos de conversas de Mauro Carlesse com o ex-secretário e sobrinho, Claudinei Quaresemin. As mensagens apontam que em julho, os dois pareciam estar esperando por uma operação policial. As mensagens são dos anos de 2023 e 2024.
Sobre as conversas, a defesa do ex-governador informou que nunca houve qualquer diálogo sobre fuga ou qualquer pedido de prisão e que o processo está suspenso por estar “faltando peças”. O advogado disse que Mauro Carlesse continua à disposição do Poder Judiciário e que não deixará de buscar os meios legais para “combater o abuso representado por essa prisão”.
O g1 tentou contato com a defesa de Claudinei Quaresemin, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Renúncia
Mauro Carlesse assumiu o Poder Executivo do Tocantins em 2018. Ele era presidente da Assembleia Legislativa e acabou na cadeira de governador porque Marcelo Miranda (MDB) e Cláudia Lelis (PV), então governador e vice, foram cassados por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, após condenação por uso de caixa dois na campanha eleitoral de 2014.
O político assumiu o mandato de forma interina e conseguiu se manter no cargo em uma eleição suplementar e depois novamente na eleição geral de 2018.
Ele ficou no cargo até outubro de 2021 quando foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça por suspeita de corrupção. Na época, a Polícia Federal apontou que Carlesse estava envolvido em um esquema de recebimento de propinas e interferência política na Polícia Civil.
Carlesse renunciou ao cargo antes da votação pelo impeachment na Assembleia Legislativa. Com a renúncia, Wanderlei Barbosa (Republicanos), seu vice, assumiu o mandato.
Íntegra da nota da defesa de Mauro Carlesse
A defesa considera ilegal a decisão que decretou a prisão. O processo a que o ex-governador responde está suspenso porque o Ministério Público não deu acesso a todas as provas produzidas.
E mesmo assim se decretou a prisão. Causa espanto o fato de a prisão ter sido decretada em 25/11 e cumprido somente 20 dias depois, o que comprova que não existiu risco de fuga. Ademais, os fatos imputados a ele são ainda de 2021 e não são atuais a ponto de se decretar prisão.
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