5 de outubro de 2024

Ex-prefeita, coronel, professora, PM e fundador de partido: quem são os vices dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas à Prefeitura de SP

Marta (PT), Antônia de Jesus (PRTB), coronel Mello Araújo (MDB), José Aníbal (PSDB), e a professora Lúcia França (PSB) compõem as respectivas chapas de Boulos, Marçal, Nunes, Datena e Tabata. Nos últimos 20 anos, três dos cinco vice-prefeitos acabaram assumindo de forma definitiva o comando da cidade. Fachada da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Cá, Centro de SP
Reprodução/Google Street View
Nos últimos 20 anos, três dos cinco vice-prefeitos que a cidade de São Paulo acabaram assumindo de forma definitiva o comando da prefeitura.
Na disputa deste ano, as chapas dos cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa são compostas pela ex-prefeita Marta (PT), pela policial militar Antônia de Jesus (PRTB), o coronel Mello Araújo (MDB), o fundador do PSDB, José Aníbal, e a professora Lúcia França (PSB).
A principal função do vice é ficar na chefia do poder Executivo municipal caso o prefeito tenha que se ausentar por alguma razão, de forma temporária ou não.
O g1 fez um levantamento sobre a história e os posicionamentos dos vices das cinco chapas com maior índice intenção de votos segundo a pesquisa Quaest divulgada em 30 de setembro.
Confira os perfis abaixo por ordem alfabética:
Antônia de Jesus (PRTB) – vice de Pablo Marçal
Pablo Marçal (PRTB) e sua candidata a vice, Antonia de Jesus (PRTB)
ROBERTO SUNGI/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Nome: Antônia de Jesus Barbosa Fernandes
Idade: 45 anos
Naturalidade: Ubatã (BA)
Profissão: Policial Militar
Escolaridade: Ensino Médio completo
Bens declarados: R$ 292 mil — terreno, imóvel e carro
Nascida no interior da Bahia, Antônia de Jesus se mudou para São Paulo aos 16 anos para ajudar na criação dos sobrinhos, que já viviam na capital paulista.
Em 2001, ela se tornou soldado da Polícia Militar, sendo promovida a cabo anos depois. Seu marido, com quem mantém uma relação discreta nas redes sociais, também é membro da corporação.
Com posicionamentos claros e conservadores, Antônia se diz contra o aborto em qualquer situação, inclusive naquelas em que o procedimento é previsto por lei — estupro, gravidez de risco e anencefalia fetal.
Segundo ela já mencionou em entrevistas, acredita que casos de gravidez decorrentes de estupro podem ser resolvidos com pílula do dia seguinte, “coquetéis” antivirais, tratamento psicológico e adoção.
Apesar disso, ela levanta a bandeira do cuidado com a saúde das mulheres e da importância de acabar com as filas de espera por atendimento e exames.
“Olha, quando a saúde da mulher tá em dia, tudo funciona em casa, porque aí ela não vai tá cansada, com queixas, a casa vai tá limpa. Então, mulher, você não está mais sozinha, eis-me aqui pra te servir. Eu vou tirar você dessa fila, como um dia minha mãe já esteve nessa fila”, afirmou em entrevista a um podcast policial.
Coronel Mello Araújo (MDB) – vice de Ricardo Nunes
Candidato à reeleição para a Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o vice da chapa Coronel Mello Araújo (PL)
ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Nome: Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araujo
Idade: 53 anos
Naturalidade: São Paulo (SP)
Profissão: Policial Militar
Escolaridade: Ensino Superior completo
Bens declarados: R$ 3,6 milhões — investimentos, conjunto comercial, apartamentos, casa e carros;
Coronel aposentado da Polícia Militar e ex-comandante da ROTA (uma das tropas de elite da PM), Ricardo Augusto vem de uma família de militares e pertence à terceira geração que atua na Segurança Pública de São Paulo.
Em 2020, foi convidado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) para assumir a presidência do Ceagesp. Quatro anos depois, foi indicado pela mesma figura para compor a chapa de Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela prefeitura, em troca de apoio político.
Conservador, Mello Araújo se coloca como o representante da Direita na corrida eleitoral. Ele afirma ter sido escolhido pelo ex-presidente para ser seus “olhos, ouvidos e braços” no Executivo da maior cidade do país.
Assim como seu padrinho político, Ricardo Araújo também acredita que população armada é sinônimo de uma sociedade segura, e utiliza os Estados Unidos como exemplo disso.
Ainda como comandante da Rota, em 2017, Mello Araújo se envolveu em uma polêmica devido a uma declaração feita em entrevista ao UOL.
“Você pega o policial que trabalha nos Jardins, a forma como ele vai lidar com a comunidade ou com as pessoas que transitam por lá é totalmente diferente do policial que trabalha na periferia. Ele usa a mesma técnica, ele vai trabalhar com a mesma doutrina, mas a forma de se abordar e de se falar com a pessoa é diferente, porque aquela comunidade numa região periférica, seu eu colocar o policial do Jardins pra trabalhar, ele vai ter, no começo, uma dificuldade pra se adaptar a essa realidade. É uma outra realidade, são pessoas diferentes que transitam por lá. Se ele for abordar a pessoa da mesma forma que abordaria uma pessoa no Jardins, ele vai ter dificuldade, ele não vai ser respeitado. Da mesma forma, se eu coloco um da periferia pra lidar, falar da mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode ser grosseiro com uma pessoa do Jardins que tá ali andando. Até a forma de falar, o policial tem que se adaptar àquele meio que ele tá naquele momento.”
Durante a participação em um podcast policial, no último mês de agosto, o coronel relembrou a fala e negou as acusações de que estaria defendendo um tratamento diferenciado da PM nas áreas nobres de São Paulo.
Ele afirmou que estava apenas relatando que há protocolos diferentes para cada situação, o que, ele disse, inclui desde linguagem corporal ao uso de gírias e expressões para se comunicar com as diferentes realidades.
Em entrevista recente à Folha de S. Paulo, Mello Araújo declarou que optou por não vacinar os filhos contra a Covid-19 e questionou a eficácia dos imunizantes utilizados no combate à doença. O coronel também defendeu a atuação do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia.
José Aníbal (PSDB) – vice de Datena
Datena (PSDB) e seu candidato a vice, José Anibal (PSDB)
FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO
Nome: José Aníbal Peres de Pontes
Idade: 77 anos
Naturalidade: Guajará-Mirim (RO)
Profissão: Economista e político
Escolaridade: Ensino Superior completo
Bens declarados: R$ 991,8 mil — terreno, joias, obras de arte e carro
Um dos primeiros integrantes da história do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), José Aníbal tem uma longa trajetória política, na qual atuou como vereador, deputado federal e suplente no Senado.
Em 1973, teve que deixar o país por conta da Ditadura Militar, se exilando no Chile, no Panamá e, por último, na França, onde continuou os estudos na área de Economia e se envolveu na criação de comitês pela anistia dos perseguidos políticos no Brasil, para onde retornou seis anos depois.
Aqui, participou da coordenação do movimento Diretas Já e se filiou ao recém-criado PSDB, em 1990.
Dentre os marcos de sua carreira está o envolvimento nas articulações para aprovação do Plano Real no Congresso Nacional. Ainda como deputado, fez oposição aos dois primeiros governos Lula.
Atualmente, é membro da Executiva Nacional do PSDB e presidente do diretório municipal do partido em São Paulo. Ele é crítico do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de sua atuação como Ministro da Infraestrutura, no governo Bolsonaro.
“Há toda uma ideia com relação ao Tarcísio que eu questiono muito”, afirmou em entrevista recente à CNN. “Ele disse que ia fazer 10 mil, 5 mil quilômetros de rodovia, ia contratar duzentos e tantos mil trabalhadores e investir R$ 300 bilhões. Num jornal há um tempo atrás eu mostrei, não tem 1 km de ferrovia, não criou um emprego, não teve um real de investimento”.
Como defensor da tradicional participação do PSDB nas eleições da capital paulista, Aníbal votou pela expulsão de mais de 50 filiados que se opuseram à candidatura de José Luiz Datena e manifestaram apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) se utilizando da marca tucana.
Lúcia França (PSB) – vice de Tabata Amaral
Tabata Amaral (PSB) e sua candidata a vice, Lúcia França (PSB)
ROBERTO SUNGI/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Nome: Lucia Massis de Gouvêa França Gomes
Idade: 62 anos
Naturalidade: São Paulo (SP)
Profissão: Professora e diretora de escola
Escolaridade: Ensino Superior completo
Bens declarados: R$ 770 mil — ações e investimentos
Nascida na capital, Lúcia se mudou para o litoral do estado aos 12 anos, onde iniciou a carreira de professora.
Desde 1988, ela faz parte da militância do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e chegou a concorrer a vice-governadora nas eleições de 2022, na chapa do então candidato Fernando Haddad (PT).
Lúcia é casada com Márcio França e já foi primeira-dama de São Paulo. Nesta época, presidiu o Fundo Social do estado.
França foi anunciada como vice de Tabata após Datena desembarcar da candidatura da deputada e ser lançado candidato pelo PSDB. Quando anunciou sua intenção de concorrer à prefeitura, Tabata pretendia ter Datena (PSDB) como vice.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Lúcia disse que não se via como uma segunda opção, exaltou o ineditismo de uma candidatura de duas mulheres e prometeu retomar uma secretaria voltada às demandas e necessidades do público feminino.
“Nós vamos voltar a ter a secretaria da mulher na cidade porque isso faz toda a diferença.”
Ela defendeu pautas voltadas para a educação como prioridade de uma possível gestão. Dentre as metas citadas, está a de alfabetizar 100% das crianças na idade adequada e garantir que terminem o ensino fundamental com conhecimento de lógica.
“As nossas histórias (dela e Tabata) são muito parecidas, nós tivemos a vida transformada pela Educação. Nós temos uma diferença grande de idade, mas é incrível como a cidade de São Paulo continua cometendo os mesmos erros com quem mais precisa. Então assim, a educação é nossa bandeira número 1, saúde e segurança”, disse ao jornal.
Marta Suplicy (PT) – vice de Guilherme Boulos
Guilherme Boulos (PSOL) e sua candidata a vice, Marta Suplicy (PT)
RENATO S. CERQUEIRA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Nome: Marta Teresa Suplicy
Idade: 79 anos
Naturalidade: São Paulo (SP)
Profissão: Psicóloga e política
Escolaridade: Ensino Superior completo
Bens declarados: R$ 14,1 milhões — ações, investimentos, terrenos, casas, conjuntos comerciais, carros, joias e obras de arte
Psicóloga de formação, o primeiro cargo eletivo de Marta foi o de deputada federal (1995-1998) pelo PT. Em 2002, derrotou Paulo Maluf (PP) e foi eleita prefeita de São Paulo. À época, teve 3,2 milhões de votos.
Dentre os feitos de sua administração, estão a criação dos corredores de ônibus, do bilhete único e os 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs) que construiu.
Os complexos, localizados em áreas de pobreza, reúnem creche, educação infantil, fundamental, além de piscinas e atividades culturais. Recebeu o apelido de “martaxa” por ter criado as taxas de lixo e de iluminação pública.
A construção dos túneis da avenida Faria Lima, na Zona Oeste, também foi foco de crítica, seja pelo questionamento de sua necessidade, seja pelo custo.
Foi ministra do Turismo do segundo governo Lula (PT) e da Cultura da primeira gestão de Dilma Rousseff (PT). Foi eleita senadora pelo PT em 2010.
Em 2015, ela deixou o partido do qual fez parte por 33 anos e filiou-se ao PMDB. No ano seguinte, disputou o comando da capital pela legenda e na chapa com Andrea Matarazzo (PSD).
No ano passado, deixou o PMDB parar retornar ao PT para ser vice de Guilherme Boulos, em uma aliança costurada pelo presidente Lula com o PSOL.
Em entrevista ao jornalista Chico Pinheiro para o material de campanha, ela afirmou que aceitou o convite principalmente para lutar contra o bolsonarismo.
“Eu não quero o bolsonarismo na cidade de São Paulo. Não vai construir nada esse negócio de arma, raiva, polarização. Quero alguém que tem experiência com o povo, que gosta do povo, que tenha a trajetória do bem.”
Em diferentes pesquisas de avaliação de governo, é apontada como a melhor prefeita que São Paulo já teve.
Durante a campanha, Marta ela também disse que comentou com Boulos que deseja cuidar da parte ambiental da prefeitura em uma possível gestão.
“Eu conversei com ele que gostaria muito de cuidar das árvores da cidade. São Paulo tem que ser a cidade mais arborizada do Brasil e não é. E nós temos que pensar isso. (…) A gente tem que começar a plantar árvore na cidade inteira.”
Ela também destacou os que considera as principais qualidades do candidato do PSOL. “Ele é uma pessoa que trabalhou muito sempre para os mais pobres, ele é filho de médicos, ajudou a criar muita casa para sem-teto, eu acho bom você ter um prefeito que é muito preparado.”

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