18 de novembro de 2024

Exclusivo: como peritos desvendaram o quebra-cabeça de pelo menos 10 mortes atribuídas ao serial killer de Alagoas

Investigações revelam que Albino Santos de Lima usava redes sociais para monitorar vítimas e mantém um registro macabro dos crimes cometidos. Investigação foi determinante para encontrar serial killer de Maceió
O Fantástico deste domingo (17) revelou com exclusividade como uma investigação levou até um homem suspeito de matar dez pessoas em Alagoas.
Albino Santos de Lima, de 42 anos, já é considerado pela polícia o maior assassino em série do estado, e os investigadores não descartam que o número de vítimas possa ser ainda maior.
“Quando eu soube da notícia, foi como se a pessoa tivesse arrancado o pedaço do meu coração. Eu não estava querendo acreditar que isso tinha acontecido comigo”, desabafou Helyzabethe Bezerra Santos, mãe de Ana Beatriz, de 13 anos, assassinada por Albino.
O homem seguia sempre um mesmo padrão: vestia roupa preta e usava boné para esconder o rosto. Foi assim que ele matou Ana Beatriz, em um bairro de Maceió.
Na noite do crime, Helyzabethe comemorava seu aniversário, enquanto Ana Beatriz saiu acompanhada da irmã mais nova e de duas amigas para dar uma volta no bairro. No caminho, a menina foi abordada e morta por Albino.
“Seguir a pessoa inocente, chegar ali e matar sem fazer nada com você? Isso não é um ser humano, não”, lamentou Regivaldo Rodrigues Tavares, pai de Ana Beatriz.
Investigação
A polícia começou sem informações sobre o assassino. Para ajudar na identificação, divulgou vídeos do suspeito circulando pelo bairro na imprensa local. Com isso, as primeiras testemunhas surgiram, confirmando sua identidade.
Os investigadores chegaram até Albino Santos de Lima, ex-segurança do sistema prisional de Alagoas e filho de um policial militar aposentado. Ele foi preso no dia 17 de setembro.
“Ele não reagiu à prisão e ficou tranquilo. Fizemos a busca na residência do pai dele, onde ele morava, e a equipe localizou a arma de fogo, uma pistola 380”, relatou a delegada responsável pelo caso.
Essa pistola foi a peça-chave para desvendar os crimes. Encaminhada à Polícia Científica, os peritos confirmaram que a arma foi usada para matar pelo menos outras nove pessoas.
As análises mostraram que os projéteis encontrados nos corpos das vítimas correspondiam aos disparados pela pistola de Albino. Para os investigadores, a evidência foi suficiente para confirmar que se tratava de um serial killer.
“Já vimos todo tipo de caso, mas um seriado como esse, com até agora 10 vítimas identificadas, foi a primeira vez”, afirmou Charles Mariano Pedrosa de Almeida, diretor do Instituto de Criminalística da Polícia Científica de Alagoas.
O DNA balístico da arma foi incluído em um banco nacional do Ministério da Justiça para possíveis conexões com outros crimes.
‘Histórico’ dos crimes
Os investigadores descobriram que Albino marcava no calendário as datas de seus crimes. Em alguns casos, ele chegou a visitar cemitérios e fotografar as lápides de suas vítimas.
“O celular foi formatado, mas conseguimos recuperar credenciais de contas dele. Com essas credenciais, recuperamos arquivos de mídia. Entre eles, havia dois diretórios específicos: um chamado ‘odiada Instagram’ e outro, ‘morte especiais'”, revelou Ivan Excalibur de Araújo Pereira, perito do caso.
“Os peritos encontraram várias fotografias de indivíduos que ainda estão vivos, seriam vítimas em potencial”, afirmou o delegado Gilson Rego Sousa, da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa.
Depoimento
O Fantástico teve acesso ao depoimento de Albino Santos de Lima, realizado nesta semana. No depoimento, ele confessou 8 dos 10 crimes atribuídos a ele pela polícia e admitiu que monitorava as vítimas por meio das redes sociais.
Albino afirmou que todas as suas vítimas faziam parte de uma organização criminosa, mas as investigações mostraram o oposto.
“Nós identificamos 10 vítimas e nenhuma delas tem envolvimento com facção criminosa. Dessas dez, três eram do sexo masculino e sete eram mulheres”, explicou a delegada responsável pelo caso.
“As mulheres tinham um perfil muito semelhante: morenas, jovens, geralmente com cabelo cacheado. Entre elas, havia uma mulher trans com esse mesmo perfil físico”, completou.
Durante o interrogatório, a delegada perguntou: “O senhor já tinha alguns alvos planejados para matar?” Albino respondeu: “Futuramente, eu iria começar a fazer outros planejamentos e outras execuções.”
Ao Fantástico, a polícia revelou que pretende reabrir inquéritos sobre homicídios ocorridos em 2019 e 2020, em que há uma forte probabilidade de envolvimento de Albino.
Por enquanto, o assassino confesso foi indiciado por homicídio qualificado e por três outros crimes.
“A cabeça dele é de uma pessoa doente, de um sociopata. Esse vai ser o caminhar da minha defesa, visto que ele tem direito. Mesmo sendo um serial killer e assim sendo confirmado, ele tem direito a defesa”, disse Geoberto Bernardo de Luna, advogado de Albino.
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