Fogo se alastrou por casas na sexta-feira (11) e deixou 11 pessoas feridas, sendo que três ainda estão em estado grave. Vinte pessoas permanecem fora das residências por causa de riscos nos imóveis. Seis casas são interditadas após incêndio em fábrica de químicos em Sertãozinho, SP
Moradores de 12 casas no bairro Vila Industrial em Sertãozinho (SP) tiveram suas casas interditadas no sábado (12) pelas autoridades por causa de danos causados por um incêndio de grandes proporções em uma fábrica de produtores químicos. O fogo se alastrou pelos imóveis vizinhos na sexta-feira (11) e comprometeu as estruturas.
A empresa Innove Química informou que vai reformar as residências. Até que o trabalho seja concluído, os moradores serão alojados em casas alugadas pela empresa ou em hotéis.
Até a noite deste sábado, três pacientes feridos continuavam internados na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE) em Ribeirão Preto (SP). Dois deles estavam no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e um na unidade de queimados.
Outras duas crianças e um adulto que tinham sido levados ao HC-UE na sexta-feira tiveram alta. Ao todo, 15 médicos, 10 enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e assistentes sociais foram envolvidos no atendimento às vítimas.
O g1 mostra, abaixo, o que se sabe sobre o incêndio.
Imagem feita por drone na área da empresa de produtos químicos atingida por incêndio em Sertãozinho, SP
Cacá Trovó/EPTV
Onde aconteceu o incêndio
O incêndio de grandes proporções começou na sexta-feira (11), por volta das 13h30, na Rua José Venâncio, no bairro Vila Industrial.
Equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas para atender a ocorrência na Innove Química, empresa de segmento de produtos químicos voltados ao agronegócio e que está no mercado há 12 anos.
A Prefeitura de Sertãozinho informou que a empresa está regularizada e com o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) em vigência.
Como o fogo começou
Em nota, a Innove Química informou que, por volta das 12h, ocorreu um princípio de incêndio em um caminhão de uma empresa terceirizada no momento em que funcionários faziam o manejo e o transbordo de produtos usados na linha de produção da indústria. As causas do fogo ainda são desconhecidas.
Segundo a empresa, apesar de cumpridos todos os procedimentos técnicos de segurança, houve uma onda de choque e explosões múltiplas nos insumos. O fogo atingiu o caminhão, a fábrica e imóveis vizinhos.
Moradores relataram o barulho das explosões. A dona de casa Silmara Santos se preparava para almoçar com a família quando tudo aconteceu.
“Eu estava no fundo [da casa], a gente estava tudo sentado pra almoçar. De repente escutei um estrondo, achei que fosse trovão. Aí, os vidros do fundo da minha casa começaram a tremer, a gente saiu tudo correndo pra fora. No que eu olhei pra baixo, só vi explosão, explodindo tudo, caminhão explodindo. Foi uma [explosão] atrás da outra, foi muito feio”, disse.
Uma densa fumaça preta se formou e liberou um gás tóxico, o que levou as autoridades a evacuar as casas em um raio de seis ruas ao redor da fábrica.
“Eu pensei que estava acabando o mundo porque minha casa entrou um topete de fumaça. Saiu de lá [empresa] e entrou tudo aqui dentro. Eu estava sozinha e Deus. Eu saí correndo e tinha uma multidão na rua. Eu fui ao trabalho do meu esposo. Fiquei muito preocupada com os vizinhos. A hora que eu voltei, só vi tudo preto”, diz Maria Dalva Jardim Coelho.
Como foi o atendimento aos feridos
Imagens que circulam nas redes sociais mostram um homem com o corpo completamente queimado sendo socorrido por moradores do bairro. Outro vídeo compartilhado mostra pessoas tentando ajudar um ferido enquanto as explosões continuam perto dele (assista abaixo).
Moradores tentam socorrer homem ferido em incêndio de fábrica em Sertãozinho, SP
A técnica de enfermagem Ana Paula Machado, que mora na região, ajudou nos primeiros socorros a uma das vítimas.
“Quando teve a explosão, a gente saiu correndo e o senhor parou na frente de casa e estava sem roupa, bem machucado. Tentei preservar a imagem dele, mas a pele estava saindo do corpo. Ele inalou bastante fumaça e era nítido ver o cheiro de soda. Eu vi duas pessoas queimadas, mas tinha mais gente. Quando saíram correndo, tinha bastante gente tentando arrancar a roupa e tentando proteger o rosto”, diz.
Restos de roupas queimadas usadas pelas vítimas foram deixados no meio da rua.
De acordo com a Prefeitura de Sertãozinho, ao menos 30 pessoas, 11 delas com queimaduras, foram atendidas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Quatro irmãos com idades de 2 a 10 anos e a mãe deles ficaram feridos.
Quatro adultos e duas crianças precisaram ser transferidas para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas em Ribeirão Preto. Em nota, a instituição informou que o atendimento mobilizou cirurgiões, emergencistas, pediatras e plásticos.
O que é o clorito de sódio
Segundo o major do Corpo de Bombeiros Jean Gomes Pinto, o material atingido pelas chamas é o clorito de sódio. Ele é matéria-prima usada na fabricação de diversos produtos, como para higiene bucal, tratamento de água, indústria de papel e setor sucroenergético.
“Em contato direto com água, em grande volume, o clorito de sódio produz gases e reage violentamente. Foi necessário o uso de água, mas em forma de neblina para que fosse feito o combate.”
A área foi completamente isolada para o trabalho de combate. As chamas foram extintas no fim da tarde, mas causaram danos às estruturas da fábrica de imóveis vizinhos.
Cetesb foi acionada para atuar com agentes neutralizadores de produtos químicos, em fábrica que pegou fogo Sertãozinho, SP
Fabio Marchiselli/CBN Ribeirão
De acordo com Otávio Okano, gerente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o caminhão transportava 20 mil quilos de clorito de sódio.
“Em contato com a água, o clorito de sódio pode causar uma reação e ser tóxico. Na indústria vazaram 20 mil quilos de uma mistura de ureia com ácido fosfórico. Se eles não aspiraram o produto, não acontece nada, porque ele é problemático quando você inala o produto. Ele ataca as vias respiratórias, a traqueia, o esôfago e outras partes do organismo.”
Equipes fizeram a limpeza do local.
Investigação
As causas do acidente estão sendo apuradas por toda equipe técnica da empresa.
De acordo com o advogado da Innove Química, neste sábado, a Defesa Civil e a Polícia Civil fizeram uma vistoria nas casas abaladas, sendo que seis imóveis foram interditados — três na Rua José Venâncio e outros três na Rua Atílio Magon. Ao todo, 20 pessoas serão realojadas.
“A gente não vai poder voltar. Vão arrumar uma casa para nós e agente vai sair daí. Mexeu na estrutura e o muro pode cair a qualquer momento. Vão reformar a casa pra gente voltar. Agora está em perigo e pode colocar a nossa vida em risco”, diz a dona de casa Mayra Lorena.
Uma sétima casa foi parcialmente interditada na esquina da Rua Atílio Magon para reparos no telhado. Ela deve ser liberada na terça-feira (15).
A empresa informou que 20 pessoas poderão escolher entre serem alojadas em casas alugadas ou ficarem hospedadas em hotel.