20 de outubro de 2024

Fábrica de produtos químicos que explodiu em Sertãozinho, SP, foi multada duas vezes antes do acidente

Autuações por descarte irregular de produtos químicos somam R$ 10.107 e foram aplicadas entre outubro de 2023 e julho de 2024. Caso completa uma semana com duas mortes em decorrência de ferimentos causados por queimaduras. Empresa de Sertãozinho foi autuada duas vezes antes de acidente
Antes mesmo da explosão que houve na sexta-feira passada, a Innove Química já tinha sido autuada pelo menos duas vezes. As multas somam R$ 10.107,00 e foram aplicadas pela Prefeitura de Sertãozinho (SP) por descumprimento às leis ambientais.
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Em nota enviada à EPTV, afiliada da TV Globo, a administração municipal confirmou que autuou a empresa por duas ocasiões, em outubro de 2023 e em julho de 2024, por causa de lançamento indevido de efluentes na via pública.
A prefeitura disse também que as notificações foram encaminhadas à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) para que as providências necessárias fossem tomadas. Procurada pela EPTV, a Innove Química informou que pagou as multas.
Ainda segundo a prefeitura, o depósito da empresa também foi alvo de autuação por irregularidades constatadas pelas autoridades municipais e também encaminhadas à Cetesb.
Bombeiros suspeitam que galões com clorito de sódio podem ter explodido em empresa em Sertãozinho, SP
Cacá Trovó/EPTV
O acidente, que aconteceu no depósito da fábrica de produtos químicos em Sertãozinho (SP) matou duas pessoas e deixou pelo menos outras três feridas. Duas delas seguem internadas em hospitais de Ribeirão Preto (SP).
Na quinta-feira (18), um dos funcionários terceirizados contratados disse que receberia R$ 200 pelo serviço de descarregamento de produtos do caminhão.
Ainda na nota, a Innove Química disse que o imóvel impactado pelo acidente era um depósito de embalagens vazias de grande porte.
“Não havia depósito de matéria-prima e produto acabado no local da ocorrência, com exceção do clorito de sódio que estava em transbordo, ou seja, sendo descarregado para ser levado a outro local”, diz trecho.
Moradores denunciaram empresa antes do acidente
A EPTV teve acesso a um relatório de outubro de 2023 emitido pela Secretaria do Meio Ambiente de Sertãozinho, que recebeu um áudio de uma moradora sobre descarte de produtos químicos em via pública que eram despejados na rede de esgoto.
Segundo o documento, a fiscalização foi ao local, mas não constatou o fato. O técnico, no entanto, verificou que havia rastro de vazamento de produto químico na calçada, que deixava uma poça do produto na guia. A prefeitura fez auto de infração ambiental no valor de R$ 3.369,00.
Em julho 2024, o Núcleo de Fiscalização Ambiental recebeu uma nova denúncia de moradora do entorno da Innove sobre forte odor de produtos químicos que acontecia de “tempos em tempos, muitas vezes às sextas-feiras, quando possivelmente o produto era utilizado pela empresa”.
A multa, desta vez, foi de R$ 6.738,00. Nos dois casos, a Cetesb foi informada.
Explosões vieram de dentro da fábrica
Segundo o funcionário terceirizado Samuel Bernardino, as primeiras explosões vieram do lado de dentro da fábrica.
Ele e o pai, Aparecido Olímpio Bernardino, que teve a morte confirmada no fim da noite de quarta-feira (16), trabalhavam como chapas e foram chamados para o serviço naquele dia.
“Vi de longe o fogo vindo pra nós, queimando nós diretamente. Foi ‘corre, corre, Rogério, corre, gente, deixa tudo pra trás’. Nem todos nós tiveram a sorte de correr e não se queimar, infelizmente três de nós não conseguiram”.
Samuel Bernardino chegou a ficar internado por inalar fumaça tóxica na explosão de fábrica em Sertãozinho, SP
Aurélio Sal/EPTV
Além de Aparecido, Estevão Felisberto Campanini, também morreu por conta das queimaduras causadas pelo acidente.
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Uma das vítimas, Rogério Soares foi de moto até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) atrás de socorro. Ele segue internado na ala de queimados do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) e o estado de saúde dele é estável.
Samuel disse que as famílias têm recebido assistência da empresa, mas, ainda assim, vê falhas dos responsáveis.
“Aquele descarregamento não podia ser feito ali fora no meio da rua. Eles deram EPI, uma luva pra nós, estão dando assistência para os familiares, estão dando remédio, a gente está tendo essa parte. Mas teve negligência da parte deles, que eles deveriam ter visto esse acidente antes”.
Caminhão com produto químico pegou fogo e as chamas atingiram empresa em Sertãozinho, SP
Cacá Trovó/EPTV
Galpões envolvidos no acidente foram demolidos
Segundo a Innove Química, os galpões envolvidos no acidente de sexta-feira passada já foram demolidos, diminuindo o risco de eventual desabamento.
Nesta sexta-feira, a empresa informou que finalizou a limpeza completa do local, seguindo os termos orientados pela legislação ambiental. As ruas Atílio Magon e José Venâncio do Carmo também passaram por limpeza e já estão com acesso liberado.
Ainda segundo a Innove, dois imóveis foram liberados para seus moradores também nesta sexta-feira. As outras residências afetadas pela explosão devem ser entregues aos proprietários em até 120 dias.
Imagem feita por drone na área da empresa de produtos químicos atingida por incêndio em Sertãozinho, SP
Cacá Trovó/EPTV
Explosões, feridos e desalojados
O incêndio começou por volta das 13h30 de sexta-feira (11), na Vila Industrial, em Sertãozinho, após diversas explosões em um caminhão estacionado na rua em frente à empresa, e também na parte interna dela.
Um vídeo de câmera de segurança obtido pela EPTV mostra o momento em que acontece a explosão que antecedeu o incêndio (veja abaixo).
Vídeo mostra momento em que caminhão com produtos químicos explode em Sertãozinho
O fogo se alastrou pelos imóveis vizinhos e comprometeu as estruturas. Um quarteirão inteiro teve de ser evacuado e moradores no bairro tiveram ao menos 12 casas interditadas pelas autoridades por causa de danos causados.
De acordo com a Prefeitura, no dia do incêndio, ao menos 30 pessoas, 11 delas com queimaduras, foram atendidas na UPA. Uma mulher e os quatro filhos, com idades de 2 a 10 anos, ficaram feridos.
Suspeita dos bombeiros é de que clorito de sódio foi o produto atingido por incêndio em empresa em Sertãozinho, SP
Cacá Trovó/EPTV
Duas vítimas do incêndio seguem internadas, uma no HC e outra no Hospital São Lucas Ribeirânia, ambas em Ribeirão Preto. Não há previsão de alta.
Um laudo da perícia ainda deve apontar as causas do acidente e indicar se houve imprudência das pessoas que manuseavam os produtos. Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a fábrica tinha permissão para operar no local, mas não podia manter depósito.
O inquérito policial que investiga o acidente aponta os crimes de homicídio, lesão corporal e incêndio.
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