26 de dezembro de 2024

Família de homem morto por policiais suspeitos de forjarem confronto pede indenização de quase R$ 3 milhões

Crime aconteceu em abril deste ano, no Setor Jaó, em Goiânia. Advogado da família diz em documento que a indenização é justa, visto que nada mais vai trazer vítima de volta. PM é filmado atirando contra carro e colocando arma dentro de veículo
A mãe e dois dos nove irmãos do autônomo Junio José de Aquino, de 40 anos, que foi morto em uma ação de policiais do Comando de Operações de Divisas (COD), suspeitos de forjarem o confronto, pediram uma indenização de R$ 2,9 milhões ao Estado de Goiás por danos morais. O crime aconteceu em abril deste ano e também deixou mais um homem morto, no Setor Jaó, em Goiânia.
✅ Clique e siga o canal do g1 GO no WhatsApp
O g1 pediu um posicionamento da defesa dos policiais sobre o caso, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. A Procuradoria Geral do Estado de Goiás disse ao g1 que ainda não foi intimada sobre a questão e que no momento oportuno, adotará as providências pertinentes no processo judicial.
Segundo o advogado da família, Walisson dos Reis, a indenização serve para garantir que os familiares tenham condições de uma vida digna após o crime. Por outro lado, também serve para punir o estado e educar instituições, e pessoas que o provocaram por meio de seus agentes.
A compensação pelos danos morais deve ser exemplar e proporcional ao sofrimento da família, de modo a funcionar como um mecanismo de prevenção contra ações semelhantes à descrita nos autos, segundo o documento.
O documento de pedido de indenização diz que o mínimo que o Estado pode oferecer aos familiares da vítima é uma indenização justa, visto que nada mais vai trazer Junio de volta.
R$ 1,5 milhão para a mãe da vítima
R$ 706 mil para o irmão da vítima
R$ 706 mil para o irmão da vítima
Conforme o documento, a mãe e os dois irmãos perderem Junio após ser executado por agentes de segurança pública. A dor de perder um ente querido já é imensurável, pois só quem passa por isso sabe, mas perder nas condições do caso, ou seja, uma morte covarde e brutal, é ainda mais doloroso e triste. Veja como foi feita a divisão do pedido no documento:
LEIA TAMBÉM
MENTIRAM: PMs mentiram para tentar justificar mortes de homens em confronto, conclui investigação
DENUNCIADOS: PMs do COD viram réus por morte de dois homens durante confronto simulado em Goiânia
RELEMBRE: PM é filmado atirando com fuzil contra carro onde estavam suspeitos de crimes
TROCA DE COMANDO: Polícia Militar troca comando do COD após suspeita de que policiais simularam confronto com dois mortos em Goiânia
Marienes Pereira Gonçalve e Junior José de Aquino Leite, mortos em ação da Polícia Militar (PM), em Goiânia, Goiás
Reprodução/Redes Sociais
Informantes dos PMs
Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), Marines Pereira Gonçalves e Junio José de Aquino eram informantes dos policiais e tiravam proveito de crimes junto com eles. Os dois foram mortos no suposto confronto que aconteceu no Setor Jaó, a 1,5 km do batalhão do COD, na tarde de 1º de abril.
Um vídeo que vazou nas redes sociais no dia seguinte revelou que os homens não reagiram à abordagem, mas foram baleados com um fuzil. A filmagem mostra a possível simulação de confronto, em que um dos PMs saca uma pistola e atira duas vezes, e outro tira outra arma de uma sacola.
Encontro minutos antes
Conforme apurado pela TV Anhanguera, minutos antes do suposto confronto os policiais se reuniram no Tribunal de Contas do Estado (TCE), que também no Setor Jaó. As filmagens mostram a chegada da viatura do COD e de dois veículos da PM, além de uma conversa entre os militares por oito minutos.
As imagens estão no processo judicial e, conforme apurado pela TV Anhanguera, são apontadas pela Polícia Civil (PC) como prova de que os policiais planejaram a ação. A polícia aponta que foi uma emboscada e que, após o crime, os policiais trocaram de celulares para dificultar a investigação.
Vídeo mostra policiais do COD reunidos momentos antes de suposto confronto
Réus
Em 18 de junho, a Justiça de Goiás tornou réus os seis PMs que participaram da simulação. Os policiais foram acusados de duplo homicídio triplamente qualificado, por agirem sem dar chance de defesa às vítimas, com motivo fútil e de forma dissimulada, marcando um encontro sem levantar suspeitas “quanto às intenções homicidas”. São eles:
1º Tenente Alan Kardec Emanuel Franco
2º Tenente Wandson Reis Dos Santos
2º Sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira
3º Sargento Wellington Soares Monteiro
Soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva
Soldado Diogo Eleuterio Ferreira
A denúncia, segundo o órgão, explica a atuação de cada um dos policiais, assim como os meios usados por eles para esconder o crime e reforçar a ideia de que tudo não passava de um confronto, em que a equipe apenas revidou tiros que tinham sido disparados primeiro pelas vítimas.
Policiais militares Wellington Soares Monteiro, Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira, Wandson Reis dos Santos, Pablo Henrique Siqueira e Silva, Allan Kardec Emanuel Franco e Diogo Eleuterio Ferreira em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Para os promotores, os policiais Marcos, Wandson, Wellington e Pablo Henrique participaram ativamente das mortes. Já Allan Kardec e Diogo, agiram descaracterizados para ajudarem na execução.
Armaram encontro
Segundo a denúncia do MPGO, os policiais armaram um encontro com as vítimas para que “algo” fosse entregue. Um vídeo, divulgado pelo g1, reforça a afirmação ao mostrar Júnio dizendo que tinha um compromisso para buscar um “trem” na sede do batalhão do COD, ao meio-dia de uma segunda-feira.
O local em que os dois homens foram executados fica a aproximadamente 2,2 quilômetros do batalhão. O crime também aconteceu, exatamente, em uma segunda-feira.
Segundo o MPGO, o carro das vítimas estava estacionado próximo ao meio-fio do Centro de Treinamento do Vila Nova Futebol Clube. Marines estava dentro do carro, sentado no banco do motorista, enquanto Junio estava em pé do lado de fora, próximo à porta dianteira direita, quando os policiais se aproximaram e dispararam contra as vítimas.
Uma investigação feita pela Corregedoria da Polícia Militar também concluiu que os PMs mentiram para justificar as ações e dificultar as investigações. No inquérito, é revelado que os policiais apresentaram diferentes versões sobre motivações, disparos e até horários da ocorrência.
📱 Veja outras notícias da região no g1 Goiás.
PM é filmado atirando contra carro e colocando arma dentro de veículo durante ação policial em Goiânia, Goiás
Reprodução/Redes Sociais
VÍDEOS: últimas notícias de Goiás

Mais Notícias