13 de novembro de 2024

Família de paciente que morreu no HUT teve que comprar morfina e foi impedida de levar ventilador: ‘foi assassinato’

O paciente de 35 anos foi internado no HUT após complicações com uma infecção na perna. Dias depois, os médicos decidiram pela amputação. Mas o rapaz não resistiu e faleceu na quinta (7).
Família de paciente que morreu no HUT teve que comprar morfina e foi impedida de levar ventilador: ‘foi assassinato’
TV Clube
Os familiares do homem de 35 anos que morreu nessa quinta (7) por possível falta de antibióticos no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) relataram que tiveram que comprar morfina para ele, por solicitação dos médicos, para a cirurgia de amputação da perna. Os familiares contaram também que foram impedidos de levar um ventilador. O ar-condicionado do hospital não estava funcionando.
“Isso foi um assassinato, não foi uma morte. a gente perdeu uma pessoa da nossa família. Nunca mais ele vai voltar, nunca mais a gente vai ver ele. Os médicos diziam que estavam fazendo de tudo para salvar ele. os médicos não tem culpa, quem tem é a saúde pública.”
Em nota, a direção do HUT informou que a Fundação Municipal da Saúde, tem se empenhado para garantir que o hospital permaneça com estoques de medicações e insumos suficientes a atender a demanda dos pacientes. Leia a nota completa no final da reportagem.
HUT apura morte de paciente com infecção generalizada por possível falta de antibióticos
O rapaz de 35 anos procurou o Hospital do Dirceu no dia 18 de fevereiro por conta de uma infecção na perna. Após ser atendido algumas vezes e fazer uso de antibióticos, ele piorou e, no dia 23, ele foi internado numa Unidade de Pronto Atendimento.
Dois dias depois, em 25 de fevereiro, ele foi transferido para o HUT. Nesta quinta-feira (7), ele faleceu vítima de uma infecção generalizada e necrose da perna.
Médicos pediram morfina para fazer amputação
Segundo uma pessoa da família do rapaz, que terá sua identidade preservada, na última segunda-feira (4), os médicos avisaram à família que precisariam amputar a perna do rapaz. Para isso, pediram que a família comprasse três caixas de morfina. Eles conseguiram comprar apenas uma. Dois dias depois, a cirurgia foi desmarcada.
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“Fizeram uma raspagem na perna dele, tiraram muita secreção. Fizeram uma revisão da cirurgia, e decidiram teriam que ser feita a amputação. Mas depois disseram que era complicado, porque ele não aguentaria, que poderia morrer”, disse um familiar do paciente.
A amputação foi então marcada para esta sexta-feira (8). Entretanto, o rapaz não resistiu e faleceu na quinta (7).
Infecção grave
Apenas depois da morte a família foi informada que ele estava com uma infecção por um tipo de bactéria multirresistente a alguns tipos de medicamentos, sendo necessários antibióticos específicos.
“Só falaram para a gente [da infecção] depois do óbito. Se tivessem falado que faltava algum remédio para matar essa bactéria, a gente ia correr atrás, né. Mesmo não sendo nosso papel fazer isso”, disse.
Família foi impedida de levar ventilador
Segundo a família, todos os dias em que visitavam o rapaz, encontravam ele e os outros pacientes da enfermaria cobertos de suor. Os aparelhos de ar-condicionado estavam desligados. Em um desses dias, perguntaram que poderiam levar um ventilador, para aliviar o calor do rapaz. Mas não foi permitido.
“E no calor que faz em Teresina, quem aguenta? Sem remédio, sem higiene, sem os cuidados necessários?”, questionou.
Falta de antibióticos
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Divulgação/HUT
O Hospital de Urgência de Teresina (HUT) está apurando a morte do paciente por possível falta de antibióticos na unidade. Após inúmeras denúncias a respeito da falta de medicamentos, equipamentos e insumos, o Sindicato dos Médicos do Piauí (Simepi) relatou o óbito do homem, de 35 anos, na quinta (7), que sofreu necrose na perna e infecção generalizada decorrente da grave lesão.
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O homem estava internado havia pelo menos 10 dias, conforme documentos obtidos pela Rede Clube. Ele chegou a passar por cirurgia e limpeza do ferimento. Havia ainda recomendação de amputação da perna atingida pela lesão. O paciente, além disso, já tinha sequela neurológica decorrente de traumatismo craniano sofrido anos antes.
Conforme o hospital, o caso está sendo apurado por comissões internas. A assessoria de comunicação, em nota (veja íntegra ao fim da reportagem), informou que em caso de “indisponibilidade pontual de alguma medicação no estoque da farmácia”, é possível a “substituição de tal medicação por outra, de igual classe e efeito similar que se encontre disponível”.
Na prescrição médica, contudo, havia a observação de que, embora recomendado o tratamento com antibioticoterapia, o paciente não estava recebendo as medicações “por falta de opções no HUT”.
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HUT apura morte de paciente com infecção generalizada por possível falta de antibióticos
Reprodução
O documento faz referência à necessidade de medicamento para MRSA, sigla para Multiple-resistant Staphylococcus aureus. Resumidamente, um tipo de bactéria multirresistente a alguns tipos de medicamentos, sendo necessários antibióticos específicos.
O problema do desabastecimento já havia sido relatado por profissionais de saúde do HUT, informando que cirurgias de urgência começaram a ser agendadas por falta de medicamentos. Além disso, familiares de pacientes precisaram comprar a medicação para pacientes internados.
Kelson Veras, médico intensivista do hospital, detalhou o problema em entrevista na última terça (5) e destacou óbitos decorrentes do problema.
“[Por falta de medicamentos já houve] tanto óbitos quanto prejuízos para a saúde daquele paciente, que já é grave”.
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Segundo o médico, outro problema nas UTIs é a falta de ar-condicionado, que pode levar à subida de temperatura dos pacientes que já estão febris devido a alguma infecção.
“Isso chama se hipertermia. E no ‘BRO bró’ [período mais quente do ano], por exemplo, nós tivemos mortes por conta de hipertermia”, contou.
Crise na saúde
Os relatos de problemas de infraestrutura e falta de medicamentos e insumos nos hospitais de Teresina, na gestão do prefeito Dr. Pessoa, acontecem desde o início de 2022, cerca de um ano após a posse do gestor.
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A Câmara de Teresina , o Ministério Público e o Tribunal de Justiça estiveram envolvidos em investigações e determinações contra a Prefeitura de Teresina e a Fundação Municipal de Saúde. Mais recentemente, o HUT, maior hospital de urgência do Piauí passou a sofrer com a crise na gestão da saúde.
Veja íntegra da nota do HUT:
A Diretoria do Hospital de Urgência de Teresina Prof. Zenon Rocha – HUT, vem, através da presente nota se posicionar diante de fatos que têm sido veiculados na mídia.
De saída, esclarecemos que dados sensíveis específicos de qualquer paciente estão resguardados por sigilo médico, de modo que não podem ser divulgados, exceto para o próprio paciente, ou familiares, em caso de impedimento deste.
Todavia, cumpre mencionar que tanto esta diretoria, como a presidência da Fundação Municipal da Saúde, tem se empenhado diuturnamente para garantir que o maior hospital de urgência do Estado permaneça com estoques de medicações e insumos suficientes a atender a crescente demanda dos pacientes.
Informamos ainda que em caso de indisponibilidade pontual de alguma medicação no estoque da farmácia, o médico assistente, com o auxílio de uma comissão permanente constituída com tal fim (Comissão de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (CCIRAS), avaliam, de plano, a substituição de tal medicação por outra, de igual classe e efeito similar que se encontre disponível, de modo a garantir o atendimento integral ao paciente.
Tal prática corriqueiramente ocorre tanto nesta unidade de saúde, como nos demais hospitais da rede pública e privada. Pontuamos ainda que o Hospital possui todas as comissões técnicas necessárias para avaliação de qualquer evento adverso ou inconsistências dentro dos processos hospitalares de assistência ao paciente.
Registramos ainda o empenho e brilhantismo da equipe de profissionais que atua nesse hospital, que se dedica a prover o melhor atendimento possível aos pacientes, inobstante o enorme volume de pacientes graves e urgentes que são recebidos diariamente nesta unidade de saúde.
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