9 de janeiro de 2025

Família descobre maus-tratos contra alunos autistas de escola pública do DF após colocar gravadores nas mochilas


Polícia investiga caso como crime praticado contra criança e adolescente. Regional de Ensino de São Sebastião diz que apura caso por meio de processo sigiloso. Áudio de professora que teria cometido maus-tratos contra gêmeos com autismo, no DF.
A família de um casal de gêmeos com transtorno do espectro autista denunciou maus-tratos contra as crianças em uma escola da rede pública do Distrito Federal. Ao perceber a mudança de comportamento do menino e da menina, os pais colocaram um gravador na mochila das crianças (ouça áudios acima).
“Empurra ele, joga ele, não deixa ele fazer mal com vocês. Eu não posso empurrar e me defender, mas vocês podem”, disse uma professora em uma das gravações.
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O caso foi na Escola Classe Morro da Cruz, em São Sebastião. O pai dos gêmeos, que preferiu não se identificar, disse que o problema começou no primeiro semestre de 2024. Segundo ele, a escola também teria negado dar água para as crianças (veja detalhes mais abaixo);
A família então procurou a polícia e fez a denúncia. Desde agosto, o caso é investigado como crime praticado contra a criança e o adolescente;
A Secretaria de Justiça disse que a denúncia está sendo apurada e a Regional de Ensino de São Sebastião disse que o caso é apurado por meio de um processo sigiloso desde setembro do ano passado;
O Conselho Tutelar afirmou que acompanha a família.
Gravadores nas mochilas
No primeiro semestre de 2024, a família percebeu mudança no comportamento dos gêmeos. As crianças começaram a ter medo de ir para a escola.
“Primeiro a gente presenciou na menina, minha filha. A gente foi deixar ela na porta sala de aula, um comportamento brusco por parte da professora arrastando a criança e ela chorando”, conta o pai.
Após colocar o gravador na mochila das crianças, os áudios mostraram agressividade por parte de profissionais da escola.
Escola teria negado água para as crianças
Escola Classe Morro da Cruz, em São Sebastião.
TV Globo
Uma das preocupações da família é com o consumo de água pelas crianças, já que elas não costumam pedir. Em e-mail enviado para a escola em junho, o pai faz um pedido para que as professoras tivessem atenção com a hidratação.
Mas o pai conta que uma outra professora, que não trabalha mais na escola, revelou que a direção impedia de dar água aos dois alunos.
“A gente perde o rumo. A gente acreditava que a o sistema educacional brasileiro pudesse fazer parte da nossa rede de apoio e para minha surpresa, não. Você não tá produzindo inclusão, você tá produzindo exclusão”, afirma o pai.
Avaliação psicológica
Avaliação psicológica aponta ‘sofrimento emocional’ de gêmeos que sofreram maus-tratos em escola no DF.
TV Globo
A família levou as crianças para uma avaliação psicológica e a profissional que atendeu os gêmeos afirma que, durante as sessões, o menino demonstrou comportamentos indicativos de sofrimento emocional, ansiedade e retraimento social.
Com os áudios e o laudo da psicóloga em mãos, a família resolveu procurar a polícia. O caso chegou até a Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção, que repudiou as atitudes dos educadores.
Os pais pararam de levar os filhos à escola, enquanto aguardam uma resposta da Secretaria de Educação.
“No caso de maus tratos e bullying, você vai para a esfera criminal, através do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas também tem o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que pune a discriminação com pena de 1 a 3 anos”, diz Flávia Amaral, presidente da comissão de defesa dos direitos dos autistas da OAB-DF.
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