Itamar Silva Barbosa, de 64 anos, era conhecido como “Mestre Peixe” e teve morte cerebral, confirmada nesta quinta-feira (9). A família chegou a protestar no hospital e entrar com uma ação judicial para obter vaga no CTI. O g1 procurou a Prefeitura de Duque de Caxias, que informou que Itamar deu entrada no hospital por meios próprios com dor no peito, dificuldade na fala e perda de força em membro superior esquerdo. Familiares chegaram a protestar na porta do hospital e a entrar com uma ação judicial para garantir vaga no CTI do HMAPN
Reprodução
Familiares de um mestre de capoeira que foi internado no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, alegam que ele sofreu negligência médica durante a internação após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Eles afirmam o tratamento ineficiente da equipe médica agravou seu estado de saúde, resultando em uma morte cerebral, confirmada nesta quinta-feira (9). A família, que chegou a protestar no hospital e entrar com uma ação judicial, também diz que larvas de moscas foram encontradas no nariz do paciente, uma infestação conhecida como “miíase”.
Itamar Silva Barbosa, de 64 anos, era conhecido como “Mestre Peixe”. Ele foi um dos fundadores da tradicional Roda Livre de Caxias, além de mestre do Grupo Unificar.
O g1 procurou a Prefeitura de Duque de Caxias, que informou que Itamar deu entrada no hospital por meios próprios com dor no peito, dificuldade na fala e perda de força em membro superior esquerdo (MSE). A direção do HMAPN informou que o paciente passou por exames de imagem (tomografia), que evidenciou um AVC isquêmico extenso, com pequenos focos hemorrágicos.
Itamar Silva Barbosa, 64 anos, era mestre de capoeira e conhecido como ‘Mestre Peixe’.
Maria Buzanovsky
Família alega negligência hospitalar
Segundo a família, antes de morrer, o idoso passou por 7 dias de internação. Ele deu entrada no HMAPN no dia 2 de janeiro com quadro de AVC isquêmico. Thais de Brito Barbosa, filha de Itamar, afirma que o médico responsável pelo primeiro atendimento minimizou a gravidade do caso, afirmando que o AVC era transitório e que o paciente receberia alta em 48 horas.
Entretanto, Itamar teria ficado em uma maca no corredor do hospital por pelo menos um dia, sem ser transferido.
“O médico e a enfermagem nos orientaram ir ao setor do Núcleo Interno de Regulação (NIR) e serviço social cobrar um leito, e disseram que seria o máximo que o paciente conseguiria.”
A família diz que perguntou se não haveria classificação de risco para transferir o idoso para um atendimento especializado, mas a equipe do hospital teria respondido que o atendimento acontece por ordem de chegada.
Mesmo sendo transferido para uma outra ala no dia 3 de janeiro, Itamar seguiu sem o atendimento adequado, diz a família.
“Eles disseram que o paciente com o quadro de AVC isquêmico não tem critério para CTI (Centro de Terapia Intensiva). O máximo enfermaria e que eu deveria insistir no NIR”.
No dia 4 de janeiro, Thais conta que o pai apresentou sonolência e falta de responsividade, indicando uma piora significativa do quadro clínico. Ela alega que suas preocupações foram ignoradas pela equipe médica. Somente após a insistência da família e a intervenção de um outro médico, Itamar foi transferido para a sala amarela, um setor com melhor monitorização.
“Nesse momento, quando um outro acompanhante notou sinais clínicos relevantes, fomos em busca de outro médico. Ele não se opôs, foi ao setor, demorou muito para voltar. Retornou com maqueiro e enfermeiro do setor da sala verde para transferir meu pai para o trauma em setor melhor monitorado. O médico disse que ele fez um novo edema extenso e em região importante, que era uma piora importante e de gravidade”, disse Thais.
Ação judicial
Diante da falta de assistência adequada e da piora do quadro do paciente, a família entrou com uma ação judicial solicitando a transferência de Itamar para o Centro de Terapia Intensiva (CTI). No dia 6 de janeiro, o juiz deferiu a liminar, determinando a remoção do paciente para uma unidade de terapia intensiva da rede pública ou particular, às custas do município de Caxias.
Já no CTI, Thais registrou no celular as larvas de moscas encontradas no nariz do pai, o que, na avaliação da família, evidencia a ausência de cuidado hospitalar. Na quarta (8), o quadro de Itamar era gravíssimo, dando início a uma morte cerebral.
Itamar chegou a ter uma infestação de larvas de moscas no nariz quando esteve internado no CTI
Arquivo pessoal
O que dizem as autoridades
A deputada estadual Dani Monteiro publicou em suas redes sociais que a Comissão de Direitos Humanos da ALERJ irá acompanhar o caso e “buscar respostas que façam justiça à memória de Mestre Peixe”.
A Prefeitura de Duque de Caxias foi procurada pelo g1 para se manifestar sobre o caso e disse que Itamar chegou a ser reavaliado pela neurocirurgia na terça-feira (7), após realização de nova tomografia de crânio, que manteve sem condutas cirúrgicas. O agravamento do quadro neurológico do idoso, com a presença de lesões extensas e irreversíveis, evoluiu para morte encefálica.
Veja a nota da Prefeitura de Duque de Caxias na íntegra:
“A Prefeitura de Duque de Caxias, através da Secretaria Municipal de Saúde e direção do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), informa que o paciente Itamar da Silva Barbosa, 64 anos, deu entrada na unidade em 02/01/2025, às 18h22, por meios próprios, com dor no peito, dificuldade na fala e perda de força em membro superior esquerdo (MSE).
A direção do HMAPN informa que o paciente passou por exames de imagem (tomografia) que evidenciou um AVC isquêmico extenso, com pequenos focos hemorrágicos. Na manhã da segunda-feira (06/01) o paciente foi transferido da sala amarela para o CTI da unidade. Após admissão no CTI, paciente teve piora no rebaixamento do nível de consciência, evoluindo para entubação, devido ao quadro neurológico.
Informa ainda que, o paciente foi reavaliado pela neurocirurgia na terça-feira (07), após realização de nova tomografia de crânio, que manteve sem condutas cirúrgicas. O agravamento do quadro neurológico do paciente, com a presença de lesões extensas e irreversíveis, evoluiu para morte encefálica.
A direção informa ainda que foi aberto o protocolo de morte encefálica para o paciente no dia 08/01, às 19h, porém a gravidade do paciente não permitiu a finalização desse protocolo. O óbito do paciente foi confirmado às 13h07, desta quinta-feira (09/01), devido a complicações do acidente vascular encefálico. A família foi devidamente informada do óbito e o corpo será liberado, de acordo com os trâmites legais e da instituição”.