21 de setembro de 2024

Família pede justiça em audiência que deve decidir policial penal que matou jovem após Expoacre vai a júri popular

Audiência de instrução não foi concluída nesta quarta-feira (3) por ausência de testemunhas. Família esteve na 1ª Vara do Tribunal do Júri no Fórum Criminal na Cidade da Justiça, em Rio Branco, para acompanhar audiência de Raimundo Nonato Veloso, acusado de matar Wesley Santos da Silva na última noite da Expoacre 2023. Justiça deve decidir se Raimundo Nonato vai ou não a júri popular
Reprodução
Começou nesta quarta-feira (3) a audiência de instrução que vai decidir se o policial penal Raimundo Nonato Veloso da Silva, acusado de matar Wesley Santos da Silva, de 20 anos, com um tiro na última noite da Expoacre 2023, vai a júri popular. A audiência iniciou pela manhã na 1ª Vara do Tribunal do Júri, em Rio Branco, mas não chegou a ser concluída porque algumas testemunhas faltaram.
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A defesa do policial informou que uma nova data deve ser marcada para conclusão. Ao todo, deve ser ouvidas cinco testemunhas de defesa e seis de acusação e o réu.
Nesta quarta, a Justiça ouviu a namorada de Wesley Silva, Rita de Cássia, que também foi baleada pelo policial penal. Em entrevista à Rede Amazônica Acre, contou que vive à base de remédios para suportar as fortes dores que tem e anda com ajuda de uma muleta. A jovem disse também que ainda tem dois projéteis alojados no corpo e está impossibilitada de trabalhar e seguir a vida.
“Além das dores no corpo, ainda tenho que aguentar a dor da saudade, que nunca vai embora. Volta e meia ainda preciso estar me arrastando com essa bendita muleta. Muitas das coisas que fazia antes agora já não posso mais. Fora o medo. Como que vou me sentir segura de sair na rua, agora mancando principalmente? Se num lugar onde era para ter tido segurança, levei quatro tiros e perdi quem mais eu amava?”, questiona.
A vítima complementa que o desejo da família é de justiça. “A mesma súplica que a gente vem fazendo há meses, é a de agora. É só justiça. Não tem muita coisa pra pedir. Não foi uma pessoa qualquer que está naquele túmulo. Foi a vida de um inocente. Ele tinha o poder e simplesmente se aproveitou dessa situação e eu como mulher não tinha muito que fazer. Hoje carrego a dor”, lamentou.
Rita de Cássia esteve no Fórum Criminal para ser ouvida como vítima de Raimundo Nonato
Melícia Moura/Rede Amazônica Acre
Além de Rita, ouvida como vítima, foram ouvidas ainda três testemunhas de acusação. O advogado de Raimundo Nonato, Wellington Silva, confirmou que o cliente segue preso.
Em outubro do ano passado, o policial foi denunciado por homicídio, tentativa de feminicídio, além de importunação sexual contra a jovem. A denúncia do Ministério Público foi aceita pela Justiça e o policial virou réu no processo.
“Audiência foi parcialmente realizada porque uma das testemunhas está de licença e a outra não foi intimada. Então, na verdade, do MP só foram ouvidas quatro de seis testemunhas. A gente está aguardando essas diligências para poder ser designada nova data para continuidade”, resumiu.
 Justiça decide se policial penal acusado de matar homem na Expoacre vai a júri popular
HC negado
Em outubro do ano passado, a defesa do policial penal entrou com um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a decisão da Câmara Criminal que revogou a liberdade provisória do acusado e decretou a prisão preventiva.
O pedido foi negado pelo STJ.
Raimundo Nonato, que já foi diretor do presídio de Senador Guiomard, foi preso em flagrante e solto em audiência de custódia, realizada no dia seguinte ao crime, e teria que cumprir algumas medidas cautelares.
Contudo, o MP-AC recorreu ao Tribunal de Justiça alegando que havia “pluralidade de crimes praticados, equívoco na tipificação inicial do crime e que não se justifica a alegação de legítima defesa.”
A Câmara Criminal decidiu, por unanimidade, que ele devia responder ao processo em prisão preventiva. Na decisão, a desembargadora relatora, Denise Bonfim, pontuou que as condutas do acusado são “gravíssimas” e causaram a morte de uma das vítimas, abalando assim a ordem pública.
Wesley Silva foi morto pelo policial penal Raimundo Nonato em agosto de 2023
Arquivo pessoal e reprodução
. O documento foi publicado nno Diário Oficial do Estado e reúne uma série de diretrizes que regem os direitos e deveres dos profissionais que atuam no sistema carcerário do estado em relação ao acesso a armas de fogo.
Vítima comemorava aniversário
O crime ocorreu quando o jovem de 20 anos estava na feira agropecuária comemorando o aniversário que tinha sido no dia 5 de agosto, dois dias antes do crime. A informação consta no depoimento da namorada dele, Rita de Cássia, que também foi ferida com vários disparos durante o ataque em um bar dentro do Parque de Exposições.
A Polícia Militar (PM-AC) informou na época que uma equipe tinha ido ao bar para finalizar a festa que ocorria no estabelecimento porque já havia ultrapassado o horário de funcionamento. Foi quando, na saída das pessoas, ouviu-se os disparos e se formou um tumulto. Segundo a PM, quando os policiais chegaram ao local, Wesley e Rita já estavam no chão baleados.
Em depoimento para a polícia, quando ainda estava no hospital, a namorada dele contou que Raimundo Nonato estava muito bêbado e estava se jogando em cima de mulheres e passando a mão. E que, em um momento, ele tentou se esfregar nela e se jogou e ela contou que o empurrou.
Mesmo após o empurrão, Rita disse que o policial continuou a importunando e foi aí que ela o agrediu pela primeira vez. “Na segunda vez que ele se jogou, dei um tapa nele. Quando ele foi retirado, outra mulher desconhecida que estava na festa disse que ele tinha feito a mesma coisa”, relatou no depoimento.
Já do lado de fora, após a PM encerrar a festa, o casal se encontrou novamente com o policial penal e o irmão dele. Segundo a vítima, os dois começaram a instigar novamente mais uma briga e ela mais uma vez agrediu Raimundo Nonato. Rita contou que neste momento Wesley também interferiu e foi quando o irmão alertou que os dois “levariam tiro”.
No meio da confusão e agressões, o policial puxou a arma e disparou pelo menos cinco ou seis vezes, segundo a jovem. Ela conta que ao sentir o primeiro tiro tentou proteger o namorado. Ela foi ferida na coxa, tornozelo e também no pé. O policial penal, que estava com o tio dele, foram contidos por populares e quase linchados, segundo a PM.
Portaria do Iapen
Em meio a polêmicas envolvendo policiais armados em festas e locais de aglomeração, o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC) publicou um decreto que regulamenta o porte de armas por policiais penais. O documento foi publicado no dia 25 de outubro no Diário Oficial do Estado e reúne uma série de diretrizes que regem os direitos e deveres dos profissionais que atuam no sistema carcerário do estado em relação ao acesso a armas de fogo.
Em agosto, uma audiência pública debateu a possibilidade de proibir agentes da Segurança Pública entrarem em locais de aglomeração armados.
Entre as principais definições, o texto permite que agentes portem armas em locais com aglomeração de pessoas, mas veda consumo de substâncias que reduzem capacidade física, psíquica e motora, além de determinar que conduzam a arma de maneira discreta, “visando evitar constrangimentos a terceiro”.
Colaborou a repórter Melícia Moura, da Rede Amazônica Acre.
VÍDEOS: g1

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