24 de dezembro de 2024

Família relata tentativas de ‘salvar’ adolescente morta em Teresina; sonhava ser juíza e mãe guarda uniforme: ‘tem o cheirinho dela’


A família diz que ligou o sinal de alerta quando notou publicações da adolescente nas redes sociais: fotos em que fazia símbolos que a polícia diz terem relação com facções criminosas. Contudo, jovem garantia não ser integrante de nenhum grupo. Ela foi morta a tiros em 25 de agosto na Zona Sul da capital. Adolescente morta em Teresina sonhava ser juíza; família lembra tentativas de salvar jovem e lamenta falta de apoio
Maria Romero/g1
“A gente está se reconstruindo”, diz a autônoma Cristiane Kellma, de 44 anos. Às vésperas de seu aniversário, em 30 de outubro, a polícia prendeu o segundo suspeito de matar a sobrinha, Ketleen Silva, de 16 anos. Ao g1, dois meses após o crime, a família lembra sonhos que a garota cultivava e lamenta a falta de apoio na tentativa de “salvá-la” do fim que não foi possível evitar.
Ketleen foi morta com mais de 10 tiros na Estrada da Alegria, Zona Sul da cidade (leia mais ao fim da reportagem), na tarde de 25 de agosto deste ano. A notícia foi recebida quando a família, que vive no Bairro São Pedro, estava na igreja perto de casa. Ninguém esperava o que aconteceu e foram muitas as tentativas de ajudar a jovem.
A família ligou o sinal de alerta quando notou as publicações da adolescente nas redes sociais: fotos em que fazia símbolos que a polícia diz terem relação com facções criminosas.
A tia da adolescente diz que ela garantia não ser integrante de nenhuma facção criminosa, mas mantinha contato com possíveis envolvidos e saía muito de casa. Em uma dessas ocasiões, a família chegou a buscar a polícia por um possível desaparecimento. A partir de então, iniciou-se uma tentativa conjunta de “salvar” a jovem.
“A gente falava, aconselhava, buscava ajuda em todo lugar possível. Hoje eu não tenho remorso de nada, porque tudo que pudemos, fizemos. Em todos os lugares eu fui: Conselho Tutelar, CREAS, polícia, mas o apoio foi praticamente nenhum. Infelizmente aconteceu que hoje não temos mais ela. Eu não gosto de falar que nossa família foi destruída, mas estamos nos reconstruindo”, disse a tia.
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Keila Silva, mãe da adolescente, mantém intacto o quarto da filha e guarda sem lavar o uniforme que a adolescente usava
Maria Romero/g1
Keila Silva, mãe da adolescente, mantém intacto o quarto da filha e guarda sem lavar o uniforme que a adolescente usava como jovem aprendiz na Secretaria de Administração do estado.
“Nunca vai ser lavado, ainda tem o cheirinho dela”, conta, emocionada.
Ketleen trabalhava no local havia três meses e a família diz que, desde que conquistou a vaga, tinha mudado o comportamento: passou a sair menos de casa, ficava mais perto da família e tinha novos planos.
“Ela disse uma vez quando perguntamos o que ela queria fazer e ela disse que queria ser juíza. Desde que ela começou a trabalhar ela falava que conheceu novas pessoas, tinha novas perspectivas, dizia que lá era tudo diferente”, relatou a família.
A tia e a mãe lamentam, contudo, que a jovem tenha conseguido a vaga talvez “tarde demais”. Apesar do que a família chama de “más companhias”, a convivência com a família era bastante próxima e muito amor. A tia mostra as fotos em que a jovem aparece nas festas de aniversário, passeios em clubes e restaurantes e vários encontros que a família fazia questão de promover.
“Toda oportunidade que tive de dizer amava, eu disse. Sentei no meu colo, abracei, beijei, disse que ela poderia contar com a família dela para tudo. Hoje, quero Justiça e que outras famílias não passem pelo que estamos passando. Ainda não entendo os propósitos de Deus com o que aconteceu, mas talvez seja ajudar outras pessoas, pedir ajuda ao poder público e não permitir que outros jovens tenham a vida tirada assim”, disse.
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Segundo suspeito preso
Um homem suspeito do assassinato de Ketleen foi preso na quarta-feira (30), no bairro Parque Sul, Zona Sul de Teresina. Segundo a delegada Nathália Figueiredo, do Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), o homem é apontado como um dos executores do crime.
Na casa dele os policiais encontraram uma pistola .40, do mesmo calibre usado no crime, e uma moto com chassi adulterado. Ele foi a segunda pessoa presa por envolvimento no caso. A primeira foi uma mulher que estava no mesmo lugar que Ketleen Rhayane momentos antes do crime.
Quem era Ketleen Rhayane
Ketleen Rhayane dos Santos Silva, de 16 anos
Arquivo pessoal
Ketleen Rhayane dos Santos Silva, de 16 anos, era aluna do 9º ano do Centro Estadual de Tempo Integral (Ceti) Maria Dina Soares, localizado no bairro Pio XII, também na Zona Sul da capital.
A unidade escolar divulgou nota de pesar (veja ao fim da reportagem) lamentando a morte da estudante. As aulas foram canceladas no dia seguinte à morte dela.
Ela trabalhava como jovem aprendiz na Secretaria de Administração do estado e morava com a mãe, a tia, a irmã, avó e primas no bairro São Pedro.
O crime
Jovem é perseguida e morta com mais de 10 tiros em estrada na Zona Sul de Teresina
Reprodução
Ketleen Rhayane saiu de casa por volta das 14h de domingo, informando à mãe que iria para um banho. A adolescente esteve com amigos em uma churrascaria que também é um clube, no Povoado Torrões, na Estrada da Alegria, Zona Sul de Teresina.
Horas depois, o grupo pagou a conta e a jovem saiu em uma moto. Cerca de 2km de distância do local, por volta das 17h, ela foi assassinada com vários tiros. Ela sofreu aproximadamente 13 lesões no corpo. Nas costas, no rosto, no tórax, braços e nas mãos.
Testemunhas relataram à polícia que não chegaram a ver os criminosos, e já encontraram a jovem no chão, vestindo um traje de banho, sem vida.
Nota de pesar
É com profunda tristeza que o CETI MARIA DINA SOARES comunica o falecimento prematuro da aluna “Ketleen Rhayane dos Santos Silva”, que cursava o 9° ano do ensino fundamental neste CETI.
Por meio de sua administração, professores, funcionários, colegas e comunidade, lamenta intensamente esta fatalidade neste momento de perda e dor, transmite os sentimentos aos familiares e amigos.
Atenciosamente,
Equipe gestora.
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