14 de outubro de 2024

Febre nas periferias, armas de gel não são consideradas brinquedos e podem ser perigosas, diz especialista

Armas de plástico, com munição feita de gel, estão se popularizando entre crianças e adolescentes, mas podem cegar se atingirem os olhos e são produtos destinados a adultos, segundo Marcelo Monteiro, do Inmetro. Uma nova tendência entre os jovens no mundo: as batalhas de arminhas de gel.
As armas de plástico com balas feitas de gel se tornaram uma febre nas periferias brasileiras, em que adolescentes e até crianças simulam guerras com o produto, que imita armas de fogo.
As batalhas são estimuladas por influenciadores digitais, caso do “comandante de Cabo Frio”, no Rio, o influenciador Maicon Douglas Mendonça Cereja. ”A gente começou a ver que estava virando uma tendência na internet e começou a gostar da adrenalina. Aí como a rapaziada é bem unida, a gente foi, gostou, se juntou e começou a brincar também.”
O “comandante de Rio das Ostras”, o também influenciador Arnaldo Carelli, faz doações das armas para seguidores. “A gente volta a ser criança. Meus seguidores são apaixonados nas arminhas”, ele conta.
A nova febre, que se expande nas periferias brasileiras, é um fenômeno global, com batalhas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Mas as arminhas de plástico podem causar hematomas e até cegar, caso atinjam os olhos.
“As armas de gel, que se tornaram comuns no mercado nacional, não são considerados brinquedos. São produtos destinados ao público adulto, ou seja, pessoas acima dos 14 anos. Crianças não devem portar ou usar esse produto”, afirma Marcelo Monteiro, coordenador executivo e de gestão da diretoria de avaliação da conformidade do Inmetro.
Segundo Monteiro, um brinquedo, para que possa ser definido como tal e ser liberado para crianças, passa por diversos testes de segurança.
“Deve ter algumas características no objeto para demonstrar que não é uma arma de verdade ou um simulacro. Um deles é a ponta laranja, indicando que não é uma arma. Só que o das armas de gel é destacável. O projétil dessa arma sai em uma velocidade muito maior do que a norma estabelece”, ele reforça.
As armas têm causado uma série de preocupações para a segurança pública.
“Imagina uma pessoa, um cidadão, andando pela rua à noite, vendo de repente um grupo de pessoas correndo, às vezes até com uniformes, brincando, simulando essas batalhas de gel com armamentos longos, e a pessoa tem que detectar se aquilo é um armamento real, se é uma brincadeira ou não. E pensa no policial, que na realidade que nós temos do Rio de Janeiro, se depara com alguém com alguma coisa semelhante a uma arma. Ele tem pouco tempo ali para poder identificar se aquela arma é real, se ela vai ser apontada ou se ela vai ser disparada. E a gente pode ter um incidente infeliz”, diz a tenente-coronel Cláudia Morais, coordenadora de Comunicação Social e porta-voz da PM/RJ.
No final de setembro, em uma das batalhas no Complexo da Maré, no Rio, um grupo de jovens abordou um caminhão da companhia de limpeza urbana, subiu na caçamba desse caminhão, e o motorista ficou muito assustado e eles foram alguns correndo na lateral.
No mesmo dia, no Rock in Rio, Mc Cabelinho e Mc Veigh subiram ao palco com as armas de gel na mão.
Em São Paulo, a PM divulgou um alerta depois que uma batalha acabou em confusão, no Jardim São Luis, na Zona Sul. Um homem que estava em uma tabacaria foi atingido no olho, segundo a polícia.
A batalha foi organizada por Luan Muniz, de 25 anos, e seus amigos. Dezoito pessoas foram levadas para a delegacia.
“Falaram que a gente estava atirando em todo mundo, fazendo vandalismo, mas isso aí foi mentira. Eu não acho que essas batalhas estimulam a violência, mas nessa noite terminou em confusão, infelizmente”, argumentou Luan.
Em bairros da periferia da capital paulista, como a Brasilândia, a febre foi adaptada. Sem dinheiro para os novos modelos dos equipamentos, jovens e crianças improvisam: o plástico das armas dá lugar a canos de PVC, e as balas de gel são trocadas por grãos de feijão.
O professor da FGV Rafael Alcadipani, especialista na área de segurança pública, alerta que a brincadeira pode se tornar um crime. “Perturbação do sossego é uma contravenção penal, a lesão corporal é um crime, então a brincadeira pode acontecer desde que ela não gere dano a terceiros e ela não gere nenhuma confusão no espaço público”.
Ouça os podcasts do Fantástico
ISSO É FANTÁSTICO
O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.
PRAZER, RENATA
O podcast ‘Prazer, Renata’ está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. Siga, assine e curta o ‘Prazer, Renata’ na sua plataforma preferida.
BICHOS NA ESCUTA
O podcast ‘Bichos Na Escuta’ está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito.

Mais Notícias