19 de setembro de 2024

Feiras culturais promovem comércio local e cena artística de Sorocaba; conheça iniciativas

O g1 conversou com as organizações de duas feiras culturais de Sorocaba (SP), que explicaram como os eventos ajudam a conectar pessoas e quais as dificuldades enfrentadas para mantê-los. Expositores reforçam que as feiras são essenciais para o crescimento e a sobrevivência do comércio local. Feiras culturais contribuem com o comércio local e se tornam pontos de encontro em Sorocaba (SP)
Reprodução/Redes sociais
Oportunidade de negócio para o comércio local, espaço para debate de ideias e símbolo de resistência, as feiras culturais de Sorocaba (SP) são importantes aliadas da cena artística da cidade e conectam artesãos independentes ao público.
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O g1 conversou com as organizações e artistas que participam de duas feiras culturais que são realizadas na cidade: a Feira Beco do Inferno e a Feira Selvagem.
Feira Beco do Inferno
Feira Beco do Inferno começou em 2016 e se tornou símbolo cultural de Sorocaba (SP)
Reprodução/Redes sociais
Criada em 2016 a partir da necessidade de exibir e vender produções artísticas, a Feira Beco do Inferno já foi encarada como um evento temporário. A ideia, no entanto, cresceu, se consolidou e “fincou raízes” na Praça Frei Baraúna. É o que conta uma das organizadoras, Flávia Antunes Aguilera, que participa desta trajetória desde o início.
“Mudou bastante, aumentou a proporção de tudo, a quantidade de expositores, público, pessoas envolvidas, estrutura, burocracias, relação com o poder público. Além do local, em 2018 começamos a montar a feira na Praça Frei Baraúna, em busca de mais espaço para realização do evento e chamando a atenção para o abandono da Oficina Cultural Grande Otelo”, relembra Flávia.
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A intenção é fazer o evento a cada dois meses, mas nem sempre isso é possível, de acordo com Flávia. Este ano, a primeira edição foi em maio e a organização planeja a próxima para 14 de julho.
Em dia de evento, a Praça Frei Baraúna fica cheia de barracas com produtos diversos: artesanatos, roupas e acessórios, decoração, ilustrações, produtos de higiene e beleza, além de culinária. Para participar, o expositor precisa pagar uma taxa, que é revertida para a manutenção do evento.
“Qualquer artista que produza a sua arte de forma manual pode participar. Os expositores não são fixos, procuramos preservar uma rotatividade, pois, em cada formulário de inscrição para cada edição, chegamos a receber 425 inscritos, e a cada evento selecionamos 180.”
Desde 2018, a Feira Beco do Inferno é montada na Praça Frei Baraúna, no Centro de Sorocaba (SP)
Reprodução/Redes sociais
Dificuldades de acesso
Segundo Flávia, a feira abre espaço somente para artesãos e artesãs independentes, sendo que 90% deles são mulheres que complementam sua renda ou vivem exclusivamente do que produzem.
“Na cidade, não há oportunidades destes artistas mostrarem seus trabalhos com chance de venda. Nestes oito anos, [a feira] conquistou um público muito fiel e, hoje, todos os participantes vendem muito bem.”
Mulheres artesãs expõem trabalhos na Feira Beco do Inferno, em Sorocaba (SP)
Reprodução/Redes sociais
Uma dessas mulheres é Hercilia de Oliveira, de 60 anos. Filha de costureira, ela enxergou no artesanato e nas feiras uma oportunidade de se estabelecer financeiramente.
“Quando os filhos se formaram, eu falei ‘quero viver do meu artesanato’ e comecei a trabalhar só com isso. E aí aconteceu de conhecer a Feira do Beco. Achei bacana ter esses outros espaços para nós, mulheres artesãs. Senti que era algo que estava faltando em Sorocaba”, conta.
Hercilia soube da feira logo na primeira edição e “abraçou” a ideia.
“Foi difícil para a organização no começo. Vi a dificuldade de aceitação quando o movimento nasceu, assim, bem descontraído, bem diversificado. A Flávia me incentivou a participar como expositora, me orientou como vender, como falar com o público.”
Hercilia de Oliveira, artesã, participa da Feira Beco do Inferno desde 2016
Arquivo pessoal
Projeto virou associação
Para contornar as dificuldades impostas pelo poder público para impedir a realização do evento, o grupo criou uma associação que reivindica o uso de espaços públicos.
“Sem a associação e as emendas parlamentares que estamos lutando para que sejam executadas, nós teríamos que pagar imposto sobre o uso do local, seriam mais de R$ 4 mil no total só para poder colocar o evento na praça”, revela Flávia.
Feira Beco do Inferno abre espaço para artesãos independentes e promove debates culturais em Sorocaba (SP)
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Origem e polêmicas com o nome
“Quem não conhece o significado, quando falamos Feira Beco do Inferno, responde ‘Deus me livre’. Quando o evento surgiu, inclusive, teve artista que não gostou [do nome]”, contou a organizadora.
O nome do evento não tem ligação com religiões, mas, sim, com a geografia de Sorocaba. Segundo Flávia, Beco do Inferno era o antigo nome da atual Rua Leite Penteado, no Centro, que foi o local das primeiras edições do evento.
“O mapa da planta de Sorocaba, feito pela pesquisadora Cássia Maria Baddini, retrata as ruas no perímetro urbano da cidade em 1840. Nesse mapa aparece o chamado Beco do Inferno, que depois se tornou a Rua Leite Penteado”, explica.
Mapa da planta de Sorocaba (SP) retrata as ruas no perímetro urbano da cidade em 1840 e mostra antiga rua chamada Beco do Inferno
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A origem pouco conhecida do nome também já causou problemas com o poder público, segundo Flávia.
“Houve uma tentativa de colocar a feira no calendário oficial da cidade, mas a Comissão de Justiça da Câmara vetou por causa do nome. Já houve, também, negativa de autorização do evento por parte da prefeitura pelo mesmo motivo”, denuncia.
Encontro de ‘tribos’
Mas as dificuldades não são capazes de impedir a permanência do evento. Para os organizadores, além da importância de movimentar o comércio local, a feira se posiciona como um espaço de encontro e celebração da cultura local: “você poder sentar no gramado, curtir shows e apresentações, usufruir da praça, que é um espaço público, de um jeito diferente do dia a dia”.
Segundo a organização, o público que frequenta o evento é bem diverso, mas dois grupos são os que mais marcam presença na feira: jovens, entre 18 e 27 anos, e adultos, de 30 a 60. São pessoas que estão ligadas de alguma forma com a arte e a cultura.
“Lutamos para que as emendas destinadas à feira sejam executadas de acordo, lutamos para poder permanecer no espaço.”
Organizadores da Feira Beco do Inferno relatam dificuldades enfrentadas para conseguir manter o evento
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Feira Selvagem
Feira Selvagem já realizou 14 edições em diferentes pontos de Sorocaba (SP); evento atrai público de todas as idades
Divulgação
Com uma trajetória um pouco mais recente, mas não menos significativa, a Feira Selvagem enfrentou a pandemia, porém, conseguiu se manter e expandir o projeto. A 1ª edição do evento foi realizada em novembro de 2019, em um espaço particular que fica no Jardim Magnólia.
“A Selvagem cresceu muito nas edições pós-pandemia, exigindo melhor infraestrutura e organização, mas o conceito e formato permaneceram os mesmos: um espaço para o público conhecer e comprar arte, artesanatos, produtos de casa, beleza, moda, brechós, de marcas autorais”, explica Marcio Bertasso, um dos idealizadores do projeto.
De 2019 para cá, 14 edições do evento foram realizadas em diversos locais da cidade: “as feiras maiores nós fizemos na Usina Cultural da Facens. Mas já montamos edições menores em via pública mesmo”, comenta.
Além de Marcio, a organização da feira conta com o apoio de Sophia Bertasso, Rafael Augusto e Beatriz Martinhão.
Rafael Augusto, Beatriz Martinhão e Marcio Bertasso fazem parte da organização da Feira Selvagem
Divulgação
Segundo o grupo, em cada edição é aberta a inscrição para os interessados concorrerem às vagas. Os expositores pagam taxas de 10% a 20% para participar.
“A Selvagem é uma grande vitrine para os expositores, pois toda a comunicação online e física da feira coloca em evidência a produção local e seus diferenciais, e a conexão com o público vai além do dia da feira, fazendo com que os expositores conquistem muitos novos clientes para depois da feira também.”
Marcio diz que enxerga a burocracia que existe por parte do poder público como um sistema de repressão: “mais do que garantir a legalidade do evento, cria dificuldades e barreiras para quem deseja promover cultura na cidade.”
Feira Selvagem promove encontro de expositores de diversos segmentos em Sorocaba (SP)
Divulgação
‘Me fez crescer’
Danielle Yasuda Sakuno, de 32 anos, voltou para Sorocaba após estudar design de produto em Curitiba (PR) com o desejo de montar o próprio ateliê de peças de cerâmica. Atualmente, ela também ministra aulas de modelagem manual no espaço e diz que encontrou nas feiras um espaço muito importante para chegar ao público-alvo do seu trabalho.
“As redes sociais são muito importantes para a divulgação, mas é nas feiras que temos contato com o nosso público e pessoas da região.”
Para a artista, expor na Feira Selvagem é uma oportunidade que combina ganho financeiro e troca de experiências profissionais.
“Foi a Feira Selvagem que me fez crescer como ceramista e me tornar conhecida na cidade. O bacana também é poder conhecer outros artesãos, trabalhos. São muitas pessoas talentosas em Sorocaba que não teríamos a oportunidade de conhecer se não fossem esses eventos.”
Danielle Yasuda Sakuno, ceramista, participa da Feira Selvagem em Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
Movimentar a cidade
A arte em grafite de Pedro Caboatan, conhecido artisticamente por Discórdia, pode ser vista em diversas ruas de Sorocaba. Foi ainda na adolescência que ele começou a grafitar e se especializou na arte urbana, por meio de cursos promovidos pela prefeitura.
Pedro já participou tanto da Feira Beco do Inferno quanto da Feira Selvagem. Assim como Hercilia e Danielle, ele enxerga nos eventos um meio de conectar o seu trabalho com o público-alvo. As obras do artista usam as técnicas do estêncil, serigrafia e xilogravura.
“Participo das feiras em Sorocaba desde 2016, mas acho que o ‘boom’ das feiras de vendas veio mesmo depois da pandemia. Os produtos que costumo levar para as feiras são produtos mais baratos para tornar mais acessível a todos que têm vontade de decorar suas casas com obras autorais”, comenta.
“A Feira Selvagem representa muito para mim. Acredito que ultimamente, se não fossem as feiras acontecendo na cidade, a situação artística estaria péssima. [As organizações] fazem um ‘corre’ gigantesco para movimentar a cidade culturalmente e também ajudar os artistas a crescerem. Dou muito valor”, salienta Pedro.
Obras do artista Pedro Caboatan, de Sorocaba (SP)
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Comércio, música e gastronomia
A organização reforça que, além do propósito de facilitar a venda de produtos do comércio local, o evento também explora o entretenimento musical e gastronômico. E também são as mulheres jovens que lideram o público mais frequente na feira, segundo a organização.
“O público tem oportunidade de conhecer artistas, suas histórias, valorizar a arte, a criatividade e o trabalho autoral.”
Feira Selvagem enfrentou período da pandemia e se tornou um evento para promover arte, cultura, música e gastronômia
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Como participar
Quem tiver interesse em expor o trabalho na Feira Beco do Inferno deve entrar em contato com a organização por meio do e-mail: feirabecodoinferno@gmail.com. Outras informações podem ser conferidas nas redes sociais.
Já o interessado que deseja participar da Feira Selvagem deve ficar atento às redes sociais do evento, pois é lá que são divulgados as datas das próximas edições e o formulário de inscrição.
À esquerda, edição da Feira Selvagem; à direita, edição da Feira Beco do Inferno
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De acordo com a Prefeitura de Sorocaba, os eventos em área pública são autorizados quando a solicitação é feita no prazo mínimo de 30 dias antes do evento, todos os documentos estejam de acordo com o decreto nº 27.521/23 e seja paga uma taxa. Confira mais informações.
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