20 de novembro de 2024

Ferrogrão: indígenas fazem protesto contra construção da ferrovia, no Pará


Durante o protesto realizado no rio Tapajós, manifestantes divulgaram a petição pelo fim do projeto da Ferrogrão. Até o momento, a petição reúne 39 movimentos e organizações da sociedade civil. Indígenas durante protesto no rio Tapajós
Divulgação
Indígenas realizaram um protesto pacífico no rio Tapajós, para impedir a construção da Ferrogrão. Cerca de 400 pessoas participaram do ato, que interrompeu o transporte de cargas no Território Tupinambá do Baixo Tapajós, em Santarém, oeste do Pará.
A manifestação ocorreu no sábado (17) e marcou o 7º Grito Ancestral do povo Tupinambá, que se posicionou contra a construção da Ferrogrão, o projeto de uma ferrovia que começa em Sinop, no Mato Grosso e termina no porto de Miritituba, em Itaituba, no Pará. Os indígenas afirmam que a obra afetará suas comunidades de forma direta e negativa.”
“Estão nos impedindo de pescar e matando o Rio Tapajós para exportar soja para a China e para a Europa. Se a Ferrogrão for construída, a situação vai piorar ainda mais”, diz Raquel Tupinambá, coordenadora do Conselho Indígena Tupinambá do baixo Tapajós Amozônia (CITUPI).
Manifestantes ocuparam o rio com 5 barcos, 15 bajaras e denunciaram os impactos do corredor logístico do Arco Norte. Segundo eles, os comboios de balsas, portos e terminais afetam negativamente o rio e os habitantes da região.
Estavam presentes representantes dos povos Tupinambá, Munduruku, Arapiun, Kumaruara, Jaraqui, Tapajó, Tapuia, Apiaka, Kayapó, e de comunidades ribeirinhas do baixo Tapajós e de Montanha e Mangabal.
Ao subirem nas balsas e comboios, os povos originários divulgaram a petição pelo fim do projeto da Ferrogrão. A petição contra o projeto, até o momento, reúne 39 movimentos e organizações da sociedade civil.
Enquanto a Conferência da ONU sobre o Clima (COP 29), ocorre no Azerbaijão, protestos estão acontecendo simultaneamente no Tapajós. Pedro Charbel, coordenador de campanhas da Amazon Watch, destaca a importância de chamar a atenção global para as ameaças impostas pela expansão da soja e do projeto Ferrogrão.
“Nosso país será sede da COP no ano que vem e os olhos do mundo estão voltados para o Pará (…) Temos que cancelar o projeto da Ferrogrão pelo bem do futuro do planeta”, diz.
Ao final do protesto, os indígenas denunciaram crimes ambientais ocorridos no rio Tapajós. “Minhas águas já mudaram de cor por causa do garimpo e estou cheio de mercúrio que envenena os peixes e os humanos que se alimentam do que eu ofereço. Minha querida Praia da Vera Paz, espaço sagrado dos meus povos originários e lugar de lazer de tantos santarenos, foi destruída pelo ferro e cimento dos silos de soja do porto da Cargill. Construído há 21 anos, sem licença e sem consulta, esse porto marca o início de um ciclo de destruição”, afirmam.
O que é o projeto da Ferrogrão?
Projeto Ferrovia Ferrogrão EF-170
Arte G1
O projeto da Ferrogrão prevê a construção de uma linha férrea que começa em Sinop, no Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, e termina no porto de Miritituba, em Itaituba, no Pará.
São mais de 900 quilômetros de extensão. O valor estimado do investimento é de R$ 12 bilhões. Os recursos serão injetados pela iniciativa privada e o prazo de concessão é de 69 anos.
A ferrovia seria uma alternativa à rodovia BR-163 conhecida como rota da soja, do milho e do algodão, construída na década de 1970 para ligar os dois estados.
A promessa é de que a construção da ferrovia consolide, a longo prazo, um corredor logístico capaz de reduzir distâncias e aliviar o bolso de quem paga para exportar produtos como soja e milho, tendo em vista que a estimativa é de recuo de 30% a 40% no preço do frete.
Por que os indígenas são contra?
O projeto prevê que os 933 km de trilhos devem passar por dentro da Amazônia e correr próximo a seis terras indígenas e 17 unidades de conservação. Com o projeto ainda no papel, os povos originários se posicionam contrários à construção da ferrovia
Segundo o engenheiro civil Sérgio Guimarães, que coordena um grupo de trabalho que estuda os impactos da ferrovia, o projeto, além de gerar desmatamento, depois de pronto tem o potencial de impactar seis terras indígenas.
A ferrovia visa aumentar e escoar a produção de soja e milho do centro-oeste do Brasil através do Rio Tapajós. De acordo com estudos preliminares apresentados pelo Ministério dos Transportes, os quase mil quilômetros de trilhos entre Sinop e Miritituba aumentariam o volume de exportação de grãos pelo rio em mais de 6 vezes até 2049.
Segundo Raquel Tupinambá, os índigenas temem que para aumentar o trânsito e navegabilidade de balsas no rio, sejam feitas obras de dragagem e explosão dos pedrais, que são sagrados para os povos indígenas.
A Ferrogrão vai aumentar o desmatamento para produzir mais soja e vai também aumentar a destruição do rio porque querem escavar o seu leito e explodir os pedrais, que são espaços importantíssimos para nós. A ferrovia vai aumentar os impactos do corredor logístico que já nos afeta, e até agora não fomos consultados”.
Karanhin Metuktire, liderança Kayapó e representante do Instituto Raoni (MT), reforça a necessidade de respeitar os direitos dos povos indígenas. “O projeto da Ferrogrão ser prioridade de setores do Governo Federal é um exemplo de como nossos direitos continuam sendo ignorados. Querem construir essa ferrovia sem respeitar a nossa existência e os protocolos de consulta de cada povo, como manda a Convenção 169 da OIT. Cada território tem suas próprias regras e formas de decidir, e isso precisa ser respeitado”, declara.
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