A multiartista Ella Monstra criou o evento em 2019 e, desde então, tem reunido quem deseja se divertir de um jeito inusitado. Festa ‘A Noite Mais Triste do Mundo’ mistura diversão e emoção em Fortaleza.
Sabe aquele momento da festa que toca uma música romântica e todo mundo canta a plenos pulmões? Então, já imaginaram uma festa toda assim? É a proposta d’A Noite Mais Triste do Mundo’, festa de Fortaleza que mistura diversão, emoção, nostalgia e um pouquinho de tristeza.
O g1 conversou com Ella Monstra, criadora da festa, produtora cultural e multiartista. Ella disse que a ideia da festa surgiu em 2019 — quando aconteceu a primeira edição. A ideia veio como escape para o cansaço que batia devido à rotina semanal de produção de festas.
“Em algum ponto, isso acabou mexendo comigo, porque nem sempre eu tava bem. Nem sempre tava alegre, disposta. E sentia que eu precisava estar pra fazer essas festas, pra tocar. Então, seria tudo uma noite em que eu pudesse não ter essa obrigação de estar feliz, sorridente, que eu pudesse só tá mais quieta, mais melancólica, triste. E passar por isso também com outras pessoas”, comentou a artista.
Além da tristeza, a festa também envolve muita nostalgia. “A festa tem uma camada também muito de músicas tristes dos anos 2000, uma coisa meio gótica. Uma coisa muito especial do projeto é que as pessoas, de uma forma muito espontânea, chegam junto e se sentem parte. Acho que por trazer a sensação da nostalgia”, explicou Ella.
Ella Monstra, multiartista criadora da ‘A Noite Mais Triste do Mundo’.
Ismael Soares/SVM
Neste sábado (31), a festa acontece na Estação das Artes, no Centro de Fortaleza. Em mais de 20 edições do evento, é a segunda vez que a ‘A Noite Mais Triste’ passa pelo equipamento público da capital. A produtora, inclusive, falou que tem recebido bons feedbacks dos locais contratantes, mesmo com a proposta tão incomum da festa.
“Na verdade, sempre é muito disputado o projeto. Tipo assim, as pessoas têm muita vontade de fazer, o estabelecimento, o projeto. As pessoas ficam muito empolgadas. Então, eu sempre tive a sorte de, em todos os lugares que eu fiz, sempre ser muito bem recebida”, disse.
“Eu acho que as pessoas têm vontade de fazer uma coisa diferente também. Eu acho que dentro do mercado de festas de Fortaleza, a gente tá passando por uma vontade, assim de fazer festas com propostas diferentes”, avaliou Ella.
Desafios e próximos passos
Ella comentou sobre os desafios de viver de cultura em Fortaleza.
Ismael Soares/SVM
Ella trabalha com outros projetos, mas revelou que a ‘A Noite Mais Triste’ tem sido o evento com maior retorno financeiro. Apesar dos bons feedbacks, ela não negou os desafios de trabalhar com cultura em Fortaleza.
“É desafiador ainda. Principalmente sendo uma travesti, que é produtora, existe um caminho que ainda é difícil de trilhar. Eu tenho a sorte de ter parceiros muito essenciais pro meu trabalho, sejam os contratantes, mas também a equipe”, comentou.
“O mercado de festas mesmo, principalmente de festas independentes, que não são organizações de donos de estabelecimento, que não têm patrocínio. Então, tem todo esse processo de ter que ir atrás de um estabelecimento, de fazer todo um processo de negociação. Nem sempre é tão vantajoso, mas tem sido um processo que eu tenho aprendido muito”, complementou.
Apesar da missão desafiadora de viver de festas em Fortaleza, Ella disse que o projeto tem dado passos maiores: a última edição foi o ‘Festival Mais Triste do Mundo’, onde ela conseguiu contratar nove atrações. Além disso, ela revelou planos de levar a festa para outras cidades, inclusive, fora do estado — o que ela chamou, inicialmente, de “A Turnê Mais Triste do Mundo”.
Relatos
O g1 conversou com quatro moradores de Fortaleza que já participaram da ‘A Noite Mais Triste do Mundo’; confira os relatos abaixo:
Eduardo Massey: “Eu fui achando que eu ia chorar. E eu chorei. A última vez que eu fui, tocou Olivia Rodrigo, tocou muito ‘Forró das Antigas, tocou Billie Eilish, tocou Paramore, tocou tudo que eu escutava e escuto até hoje, no ônibus, olhando pela janela, achando que eu estou num clipe melancólico. É muito bom quando a gente quer cantar bem alto, a gente quer gritar, quer dar uma chorada, quer deixar a tristeza tomar conta da gente”.
Raissa Bezerra: “É uma festa onde toca muita música para você cantar e sentir muita emoção e viver aquele momento assim, sentindo tudo mesmo. Então, é bem diferente de uma balada, e eu acho que você se diverte, compartilha com várias pessoas alguma coisa em comum, porque você vê que tá todo mundo curtindo a música do mesmo jeito. Eu prefiro festas onde toquem músicas, onde eu possa cantar, onde eu possa interpretar. Eu acho que é um rolê muito mais a minha vibe”.
Marília Torres: “Eu gosto muito de músicas tristes e eu sempre tive vontade de ouvir as músicas tristes que eu gosto em uma festa, em um ambiente que você pode estar cantando aquelas músicas tristes com outras pessoas que se identificam com você, se identificam com aquelas músicas, e não é sempre que a gente tem a oportunidade. Tocou muitas músicas que eu sempre gostei muito, desde pequena e que eu gosto atualmente, que normalmente você não escuta em outras festas”.
Vitor Alves: “Eu achei super legal a experiência da festa. Achei uma proposta bem diferente, porque não é uma proposta comum. Você vai para escutar músicas mais lentas, com letras mais tristes, que é totalmente diferente do conceito de uma festa tradicional, que você vai para se animar, para ficar pulando e cantando alto, dançando e tal. É outra proposta. A gente se conecta mais com as músicas, porque elas são mais lentas, mais calmas. E está todo mundo lá nessa vibe de música triste”.
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