25 de janeiro de 2025

Figurante e microfonista de ‘Ainda Estou Aqui’ celebram indicações ao Oscar e exaltam atuação de Fernanda Torres: ‘Surreal’


Júlia Fernandes Cerione e Ana Carolina Cruz Augusto, de Jundiaí (SP), foram convidadas a participar do filme dirigido por Walter Salles e tiveram a oportunidade de conhecer a atriz principal. Longa teve três indicações ao Oscar 2025. Júlia Fernandes Cerione (à esquerda) e Ana Carolina Cruz Augusto (à direita) durante gravações de ‘Ainda Estou Aqui’
Arquivo pessoal
Desde que “Ainda Estou Aqui” e Fernanda Torres foram incluídos nas concorridas listas de indicados ao Oscar 2025, não há um brasileiro que não esteja contando os dias para a cerimônia da principal premiação do cinema mundial. A ansiedade é ainda maior para Júlia Fernandes Cerione e Ana Carolina Cruz Augusto, que, não só se sentem representadas pelo feito brasileiro, como fizeram parte da produção do filme.
📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp
Júlia nasceu em Jundiaí, no interior de São Paulo, mas, em 2015, se mudou para a capital paulista para cursar cinema na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Uma vez formada, a cineasta trocou São Paulo pelo Rio de Janeiro (RJ), onde passou a trabalhar como técnica e diretora de som em diferentes curtas e, depois, em longas.
Em meio a estes projetos, conheceu pessoas importantes da área de som e, aos poucos, acabou se tornando conhecida no mercado. O currículo, recheado de séries como “Segunda Chamada”, “Irmandade”, “Sintonia” e “Dias Perfeitos” e de filmes como “Medusa”, que participou do Festival de Cannes de 2021, na França, fez com que o caminho dela se cruzasse com o de Laura Zimmerman, a técnica de som de “Ainda Estou Aqui”.
Walter Salles e Fernanda Torres nos bastidores de ‘Ainda Estou Aqui’
Divulgação
Foi então que, em junho de 2023, surgiu o convite para integrar a equipe de som do filme, chefiada por Laura e que, além de Júlia, contava com mais um microfonista. O trabalho deles era, basicamente, fazer a gravação do som durante as filmagens. À jundiaiense coube a função de microfonar o elenco e, depois de tudo pronto, operar um segundo microfone direcional, o boom.
“A Laura já estava na pré-produção do filme desde o início do ano. Eu entrei na fase das filmagens e fiquei até agosto. Foram três meses filmando. Teve uma pausa e eles voltaram a filmar em outubro, mas eu já estava em outro projeto no Rio e não pude participar do final em São Paulo. Mas eu considero este o auge da minha carreira. Por ser um filme do Walter Salles, não tem como falar que não”, conta.
Júlia integrou a equipe de som do filme ‘Ainda Estou Aqui’
Arquivo pessoal
Júlia atuou, em sua maioria, nas gravações das cenas que se passam nos anos 70, o que fez com que ela tivesse bastante contato com os atores principais, Fernanda Torres e Selton Mello, e com o diretor, Walter Salles.
“Fernanda e Selton são maravilhosos e muito engraçados. Eles são atores muito experientes. Mesmo quando estavam se preparando para uma cena difícil de fazer, estavam dando risada, conversando, contando piada. Na hora de ensaiar, eles entravam no personagem e faziam algo surreal. Eles sempre foram muito abertos e sempre respeitaram muito o meu trabalho. Eu aprendi muito com eles”, relata.
“Sobre o Walter Salles, não tem nem o que falar. O trabalho dele como diretor é muito delicado e sensível. Como o filme foi gravado em película, não dava para ficar gastando negativo, então a gente ensaiva muito, e ele fazia isso muito bem. Foi muito especial trabalhar em um projeto autoral como esse, porque tinha muito cuidado a cada cena.”
Após o fim da produção, Júlia, hoje com 28 anos, acabou recusando alguns projetos por conta da rotina intensa de gravações. No momento, ela está de volta a Jundiaí e deixou de trabalhar com cinema.
Durante o projeto, Júlia teve bastante contato com Selton Mello e Fernanda Torres
Arquivo pessoal
Figuração especial
Assim como a cineasta, Ana Carolina também mora em Jundiaí. A advogada, de 24 anos, nunca havia tido contato com o mundo do cinema até que, por meio de um amigo da faculdade que trabalha com filmagens, recebeu o convite para atuar como figurante no longa dirigido por Walter Salles.
“O requisito era ser uma figurante advogada. Então, enviei uma foto minha profissional e ele encaminhou para a produção. Na mesma semana, recebi a confirmação de que fui aprovada, e já marcaram um dia específico para eu ir experimentar o figurino. Mas, até então, eu não sabia de qual filme era, qual seria a minha participação exatamente, o que eu iria fazer, eu não sabia nada”, relata.
Participação de Ana Carolina como figurante no filme ‘Ainda Estou Aqui’
Arquivo pessoal
Foram dois dias de trabalho pago em São Paulo com a equipe do filme: um para provar as roupas e outro para a gravação das cenas nas quais Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, vai ao Fórum João Mendes para buscar o atestado de óbito do marido, Rubens Paiva, que teve Selton Mello como intérprete.
“Tinha uma equipe gigantesca lá, toda preparada, com milhões de figurinos, araras e araras de roupa. No dia da gravação, eu cheguei super cedo e fui embora só umas 23h. Eles são muito profissionais. Vão selecionando: ‘ah, vocês todos aqui vão fazer a cena x’. Aí vai todo mundo lá para a cena e começa a gravar. As cenas são repetidas várias e várias vezes”, conta.
Apesar de curta, a participação de Ana Carolina na produção deu a ela a chance de conhecer a protagonista, o diretor e uma jovem atriz que interpreta uma das filhas do casal Paiva no longa.
“Quando os figurantes estavam na maquiagem, eu, por acaso, fui buscar coisas na minha bolsa em um lugar mais afastado e desci para o local da gravação. Nesse momento, eu desci de elevador com a Fernanda Torres, o Walter Salles e a filha no filme. Foram pequenas palavras trocadas, mas foi o maior contato que tive com eles”, lembra.
Ana Carolina participou das cenas nas quais Eunice Paiva vai ao Fórum João Mendes para buscar o atestado de óbito de Rubens Paiva
Arquivo pessoal
Trabalho coroado
Para Ana Carolina, as indicações de “Ainda Estou Aqui” ao Oscar de melhor filme e melhor filme internacional, e a indicação de Fernanda Torres à categoria de melhor atriz foram justas e apenas coroam um trabalho feito com maestria por toda a equipe envolvida no longa.
“Achei tudo muito bom, muito bem elaborado e pensado. Foi muito gratificante ver a atuação da Fernanda Torres de perto. Ver como ela faz tudo muito natural, nem parecia ser uma atuação. Nos passou realmente a tristeza e a angústia da Eunice Paiva. Nas gravações, é como se ela estivesse trabalhando mesmo, o pessoal não fica em cima dela para tirar foto, nem nada”, comenta.
Cineasta de Jundiaí (SP) com Fernanda Torres nas gravações de ‘Ainda Estou Aqui’
Arquivo pessoal
Júlia reforça a importância de uma produção brasileira estar concorrendo à categoria principal do Oscar, a de melhor filme, ao lado de longas de Hollywood e com orçamentos maiores.
“Eu vejo como um momento muito importante para o cinema brasileiro e para a história do Brasil como um todo, porque não é fácil fazer cinema no Brasil. Eu tive a sorte de conseguir trabalhar muito, mas não é fácil fazer um filme autoral no Brasil, um país onde a nossa cultura não é valorizada e a história é apagada, principalmente em tempos tão sombrios e retrocessos como estamos vivendo agora”, ressalta.
“Eu vejo esse filme como um portal aberto para o mundo e para a gente mesmo olhar para a nossa cultura, para o nosso cinema, para a nossa história e, principalmente, para que a ditadura militar nunca mais se repita no Brasil. O cinema é uma arma de comunicação que diz coisas que precisam ser ouvidas. Independente da sua posição política, isso é história, isso aconteceu, e nunca mais pode acontecer.”
‘Ainda Estou Aqui’: cineasta e figurante de Jundiaí participaram do filme
Expectativa para a premiação
A cerimônia do Oscar está marcada para o dia 2 de março, a partir das 21h, no Dolby Theatre, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O g1 terá uma cobertura completa e em tempo real, com as notícias mais importantes, análises e os melhores momentos da premiação.
Ainda falta pouco mais de um mês, mas Ana Carolina está otimista e já faz planos para assistir ao evento com a família e os amigos: “Estou muito animada, acredito que vai ser um sucesso. Melhor atriz já é nosso!”, opina.
E Júlia faz coro: “Não tenho nem palavras para descrever o orgulho. Só a indicação já é incrível, mas quero acreditar que temos chance de ganhar ‘melhor filme’, apesar de ser difícil. Se não, vamos levar o da Fernanda Torres, que merece para caramba!.”
Moradoras de Jundiaí (SP) estão otimistas para a premiação do Oscar
Arquivo pessoal
Como a cerimônia será em pleno domingo de carnaval, a cineasta estará no Rio de Janeiro, e também pretende fazer uma “reuniãozinha” com os amigos para acompanhar a premiação.
“Eu lembro muito bem onde eu estava quando li o roteiro do filme pela primeira vez: na minha casa. E chorei muito. Quando assisti, chorei muito também. Vi duas vezes e me emocionei demais. Fiquei muito feliz com o resultado do som, porque a Laura, além de pensar no som direto, pensa no som do filme como um todo. Ela gravou muita coisa fora do set de filmagem que compôs esse som. Achei lindo”, comenta Júlia.
O fato de ter feito parte deste marco na história do cinema brasileiro também emocionou Ana Carolina: “Saber de toda a história do filme e saber que eu participei e vivi um pouco daquilo foi uma experiência única. Ficará guardada em minha memória para sempre essa participação em um dos maiores filmes do Brasil.”
Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

Mais Notícias