19 de outubro de 2024

Filha de Cupertino diz em júri que pai a prendeu por 8 meses ao saber de Rafael e ameaçou: ‘Só vai namorar depois dos 30’

Isabela Tibcherani tinha 18 anos quando namorou Rafael Miguel. Paulo Cupertino é acusado de matar ator e família a tiros em 2019 por não aceitar relacionamento. Júri foi cancelado após réu demitir advogado. Depoimento gravado da filha pode ser usado no novo julgamento. Filha e ex de Paulo Cupertino depõem em júri em SP
Vídeo gravado pela Justiça com o depoimento da filha de Paulo Cupertino mostra o que Isabela Tibcherani falou sobre o pai, na semana passada, durante o julgamento dele pelos assassinatos do namorado dela, Rafael Miguel, e dos pais do ator em 2019 em São Paulo.
O g1 teve acesso a esta filmagem de Isabela e também à gravação do que a mãe dela, Vanessa, outra testemunha no caso, disse no plenário sobre o ex-marido (veja acima). As duas se emocionaram e choraram nos depoimentos, que duraram mais de duas horas no total. Eles ocorreram em 10 de outubro no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste.
Vanessa foi a primeira a depor e contou que o ex-marido era agressivo e batia nela. Isabela falou depois e lembrou que também apanhava do pai, principalmente quando ele descobriu que a filha estava namorando Rafael. Chegando ao ponto, segundo Isabela, de mantê-la presa dentro da própria casa durante oito meses.
De acordo com ela, Cupertino ainda zombava da situação, dizendo que a filha só iria namorar depois dos 30 anos e apenas se ele deixasse.
Segundo o Ministério Público (MP), em 9 de junho de 2019, Cupertino matou com 13 tiros Rafael, de 22 anos, e o casal João Miguel, de 52, e Miriam, 50. De acordo com a acusação, o empresário cometeu o crime por ciúmes, por não aceitar o namoro da filha com o artista. Ela tinha 18 anos à época. Atualmente está com 23.
‘Oito meses sem contato’, diz Isabela

Isabela Tibcherani conta durante seu depoimento no júri de Paulo Cupertino que colocou as mãos nos ouvidos por causa do barulhos dos tiros
Reprodução/TJ-SP
A representante do Ministério Público perguntou a Isabela que punição Cupertino deu a ela quando descobriu que a filha estava namorando Rafael:
Promotora Soraia Simões – “Você ficou presa por quanto tempo?”
Isabela – “Oito meses, sem contato, sem celular, sem convívio com outras pessoas, só dentro de casa.”
A filha de Cupertino também lembrou que o pai a proibiu de se relacionar com Rafael ou com qualquer outro garoto e passou a monitorar o celular dela:
Isabela – “Ele falava em brincadeiras e conversas paralelas com pessoas conhecidas: ‘Você só vai namorar depois dos 30, se eu deixar’.”
Isabela ainda contou que, mesmo distante fisicamente de Rafael, usava o telefone da mãe para falar com o namorado. No total, o relacionamento dos dois durou pouco mais de um ano. E um dia eles resolveram se reencontrar. Seria a última vez que se veriam.
Rafael e os pais dele decidiram levar Isabela para a casa dela, mas, ao chegarem ao local, encontraram Cupertino abrindo o portão. Segundo Isabela, o pai a puxou para dentro, fechou a porta, e ela escutou tiros.
Isabela – “A mãe do Rafael, quando viu meu pai, ela falou: ‘Você que é o pai de Isabela?’ ‘Não, eu sou a mãe.’ Me puxou para dentro e fechou o portão de maneira agressiva. Mas aí veio o Rafael, falou: ‘Não, vamos conversar’. Segurou o portão (…) Eu já estava dentro de casa (…) E eu ouvi meu pai dizendo: ‘Conversar, nada’. E a partir daí eu só ouvi os disparos. Foram muitos disparos. Eu agachei no chão. Com as mãos no ouvido, gritava muito. Falava: ‘Não, não, não’ (…) E quando os disparos terminaram, eu saí e me deparei com a cena, que era o corpo do Rafa em cima do corpo da mãe dele, que estava perto da guia (…), que estava perto do carro, e o corpo do pai do Rafael estava no meio da rua (…) Eles não tiveram tempo de muita coisa.”
‘Mitomaníaco’, fala Vanessa sobre ex
Vanessa Tibcherani se emociona ao falar dos assassinatos de Rafael e dos pais do ator durante depoimento no julgamento de Paulo Cupertino
Reprodução/TJ-SP
Antes do julgamento da semana passada, a defesa de Cupertino chegou a dizer à imprensa que seu cliente alegou que não foi ele quem atirou nas três vítimas, mas uma outra pessoa não identificada, que, assim como o empresário, também fugiu após o crime.
Isabela e Vanessa não viram como Rafael, Miriam e João foram baleados, mas disseram que quem os matou foi Cupertino. Elas moravam numa residência na Estrada do Alvarenga, no bairro Pedreira, na Zona Sul. Câmeras de segurança gravaram o crime e a fuga de Cupertino. A ex o chamou de mentiroso e misógino.
Vanessa – “É muito estranho uma pessoa negar veementemente, veementemente, ser tão…. ah, eu tenho a palavra: mitomaníaco. Ao ponto de falar e afirmar com tanta firmeza de que não cometeu um crime quando, na porta da casa onde o corpo do Rafael tava, com um tiro na cabeça e vários outros pelo corpo, dona Miriam na calçada… Seu João Alcisio rolando pela rua… e o estabelecimento colado parede com parede… Uma câmera aqui, outra aqui. Desculpa, cara, é produção de prova contra si próprio.”

Cupertino demitiu advogado após depoimentos
Cupertino, no destaque, durante julgamento
Divulgação/Tribunal de Justiça
Cupertino, que tem 54 anos e está preso, acompanhou algemado o depoimento da ex, de 44 anos. Mas não pôde ouvir o que a filha falou porque foi retirado do plenário por determinação da Justiça, a pedido dela. Em seguida, o réu, bastante irritado com a situação, demitiu no intervalo o seu advogado, Alexander Lopes, obrigando o juiz do caso, Antonio Souza, a cancelar o julgamento.
Em outras palavras, o magistrado dissolveu o Conselho de Sentença, ou seja, dispensou os sete jurados escolhidos para aquele júri. Cupertino terá de escolher um novo advogado para defendê-lo ou ser assistido gratuitamente pela Defensoria Pública.
Quando isso ocorrer, a Justiça marcará uma nova data para o julgamento do réu e escolherá novos jurados. Cupertino responde por triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas.
Amigos de Cupertino também são réus
No alto, da esquerda para a direita: Eduardo Jose Machado, Paulo Cupertino Matias e Wanderley Antunes Ribeiro Senhora. Os três são réus no processo que apura os assassinatos de Rafael e dos pais do ator
Reprodução/TV Globo e Arquivo pessoal
Além de Cupertino, os amigos dele, Eduardo Machado, de 45 anos, e Wanderley Senhora, de 59, são réus no mesmo processo e serão julgados no próximo júri. Eles são acusados de favorecimento pessoal por terem ajudado o empresário a fugir e se esconder após o crime. Ambos respondem em liberdade e, segundo as suas defesas, também negam as acusações.
Cupertino chegou a se esconder em outros estados e países. Ele só foi preso quase três anos após o crime, em 17 de maio de 2022, quando a Polícia Civil o encontrou escondido e disfarçado, com identidade falsa e nome de outra pessoa num hotel em São Paulo.
Cupertino chegou a dizer aos jornalistas que acompanharam sua prisão que ele é “inocente” e não matou “ninguém”. Apesar disso, ficou em silêncio quando foi interrogado na delegacia e ainda não falou nada à Justiça sobre os assassinatos e sua fuga.
O empresário está preso preventivamente no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Promotora pode usar vídeos dos depoimentos
Rafael Henrique Miguel e os pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Silva Miguel
Reprodução/TV Globo e Arquivo pessoal
Apesar de a promotora Soraia querer que Vanessa e Isabela compareçam ao novo julgamento no fórum para falar do crime, as duas não são obrigadas a ir. Além delas, outras 13 testemunhas deverão depor. “O ideal é ouvir as duas novamente”, disse a promotora.
“Os depoimentos colhidos podem ser exibidos no próximo julgamento. É prova do processo. O ideal é ouvi-las novamente no próximo julgamento para que os jurados possam protagonizar a prova. O depoimento da Isabela principalmente é muito impactante”, falou a represente do MP nesta quinta-feira (17) ao g1.
Depois, os réus serão interrogados. E os jurados votam para decidir se condenam ou absolvem os acusados. A sentença será dada pelo juiz.
Rafael era conhecido na mídia por ter interpretado o personagem Paçoca na novela “Chiquititas”, do SBT, e trabalhado em um famoso comercial em que uma criança pede brócolis à mãe. Ele também atuou em novelas da Globo, como “Pé na Jaca”, “Cama de Gato” e o especial de fim de ano “O Natal do Menino Imperador”.
Nos vídeos gravados dos depoimentos que deram na Justiça, mãe e filha lembraram com carinho de Rafael.
Vanessa – “Uma pessoa familiar para mim. Excelente. Não tem nada que desabonasse.”

Isabela – “Um menino doce, inteligente, engraçado, dedicado. Era apegado à família, apegado aos valores da família, frequentava a igreja. Ele era um menino excepcional.”
Isabel Tibcherani e Rafael Miguel eram namorados até o pai dela matar o ator a tiros em 2019
Reprodução/Redes sociais
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