6 de janeiro de 2025

Filha de síndico grava vídeo com ofensas racistas, sugere esfolar vizinha para ‘clarear’ pele e diz que ‘pretos deviam morrer’


Gravações foram compartilhadas em grupo de WhatsApp de condomínio na Zona Norte de São Paulo.
Família de menina negra vítima dos ataques fez denúncia à polícia e pede responsabilização dos pais. Pais da menina negra de 12 anos vítima de racismo na Zona Norte de SP
Reprodução
A família de uma menina negra de 12 anos denunciou à Polícia Civil um caso de racismo, gordofobia e xenofobia em um condomínio de prédios na Zona Norte da cidade de São Paulo no mês de dezembro.
Em dois vídeos gravados por uma moradora de 11 anos e compartilhados em um grupo de WhatsApp de moradores, a criança, que é filha do síndico, faz diversas ofensas e sugere que uma das vizinhas deveria esfolar a pele até ficar “branquinha” e “mais bonita”.
Os pais da garota mencionada nos vídeos tomaram conhecimento do caso em 18 de dezembro, após serem avisados pela filha e também por outros moradores do mesmo condomínio.
As gravações, que juntas têm cerca de 14 minutos, foram apresentadas na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e obtidas pela GloboNews.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que o caso é investigado pelo 19º Distrito Policial (Vila Maria), responsável pela área dos fatos, para apurar o crime de injúria racial.
“As partes serão notificadas para a realização de oitivas. Diligências prosseguem para o esclarecimento dos fatos”, disse a pasta.
👉 Por envolver uma criança com menos de 12 anos, a legislação não prevê a responsabilização criminal ou enquadramento por ato infracional da menina que gravou e compartilhou os vídeos. Mas, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os pais também têm responsabilidade pelo comportamento, falas e atitudes da filha.
Para o advogado Diego Moreiras, que representa a família da vítima, não cabe nesse caso uma punição para a criança que gravou os vídeos, mas vai pedir na Justiça que ela passe por acompanhamento psicológico e orientação, como prevê o ECA.
Para ele, há evidências de que os pais foram negligentes em relação ao comportamento da menina e devem responder na esfera cível e criminal.
É necessário que nós tomemos as medidas para que essa situação não ocorra novamente, para que hoje as pessoas entendam que em pleno século 21 tem punição e que as atitudes têm consequências. Então é necessário que busquemos as autoridades públicas a fim de conscientizar toda a sociedade em relação a gravidade desses atos.
Ataques racistas, gordofóbicos e xenofóbicos
A reportagem optou por não identificar nenhuma das crianças para protegê-las, independentemente da participação nas gravações. Em um dos vídeos, a garota conversa com uma outra menina, que não aparece no vídeo, e deixa claro que se refere à uma determinada moradora.
“Você não acha que se eu arranhasse a (vítima) ela ficava branca? Ela podia se arranhar porque daí a pele dela ficava mais clara e ela ficava mais bonita”.
A menina também diz que “pretos são burros”, que “ser racista é bom” e que tem nojo de pretos. “Pretos são ridículos e pretos deviam todos morrer, o sangue deles deve ser mais escuro que o nosso, gente escura dá nojo, eu tenho nojo de gente escura”, afirma a garota.
Ao tomar conhecimento dos vídeos, a mãe da vítima disse ter ficado em choque.
“Foi pesado pra mim. É difícil falar sobre, porque no dia eu fiquei muito em choque. Sabe quando você não tem reação?”, disse a coordenadora de eventos Luana Anjos, mãe da vítima de racismo.
O casal procurou o pai da criança que fez as gravações e as compartilhou. Ele é síndico do condomínio. Mas, segundo a família, o acolhimento e o pedido de desculpas não foram imediatos e as medidas tomadas foram insuficientes para que a situação não se repita.
“Foi uma situação muito séria que eles estão levando na brincadeira. Eles estão levando na brincadeira, Só que de lá para cá é a gente que tem ficado preocupado”, lamentou o auxiliar de RH e músico Anderson Silva dos Anjos, pai da menina ofendida.
Nos vídeos, também são proferidas ofensas xenofóbicas e gordofóbicas em relação a outros moradores do condomínio.
“Se você conversar com ela, ela super se aceita, ela ama o cabelo, ela ama a cor, ela ama o peso dela, ama tudo. Não vou mentir, acabou com o Natal da família”, lamentou Luana Anjos.
Em uma mensagem publicada em um grupo de WhatsApp dias depois, o síndico diz lamentar o ocorrido e se retratou sobre o ato praticado pela filha. Ele disse ainda que não concorda com o que foi dito pela filha.
“Nós estamos arrasados como pais e acho que falhamos em algum momento”, escreveu na mensagem.
A GloboNews tentou contato com os responsáveis pela criança que gravou os vídeos, mas até a publicação da reportagem eles não tinham sido localizados.

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