22 de setembro de 2024

Filha de Ziraldo diz que pai era nerd dos quadrinhos e voltará a ser ‘poeira de estrela’

‘Ele falava que se achava pouco valoroso como o autor de literatura justamente por ter uma vida assim de grande afeto, de grande felicidade, de grande harmonia’, afirma Daniela Thomas, filha do cartunista. Daniela Thomas: ‘Eu despedi dele mil vezes’
Morto neste sábado (6) aos 91 anos, o cartunista Ziraldo tinha a percepção de que o momento em que sua alma ficou em esplêndida forma foi durante a infância. Mais especificamente, quando ele tinha sete anos. É o que diz a cineasta e diretora teatral Daniela Thomas, a filha mais velha do desenhista.
Ao Fantástico, Daniela disse: “As memórias que ele tem de Caratinga beiram — falo ‘beiram’, ‘tem’, porque eu tô no presente ainda… As memórias que ele tem de Caratinga beiram à obsessão. Ele identifica a infância com o paraíso”.
“Ele falava que se achava pouco valoroso como o autor de literatura justamente por ter uma vida assim de grande afeto, de grande felicidade, de grande harmonia”, contou a cineasta
Segundo Daniela, “A Turma do Pererê”, uma das séries de HQs mais famosas do país, surgiu da realização de um sonho de infância de Ziraldo. Isso porque quando criança ele foi “um nerd da história em quadrinho”.
Protagonizado por Pererê, um personagem negro, a série também refletia a maneira como o autor enxergava o país, afirma sua filha.
Ziraldo
Foto: divulgação
“Ele entendia o Brasil como um lugar da diversidade, não um país de personagens brancos. Um país de múltiplas etnias, personalidades”, diz Daniela. “Eu sinto isso muito orgulho do quão visionário ele foi.”
Ziraldo tinha orgulho da sua trajetória na luta contra o regime militar brasileiro. Preso três vezes durante a ditadura e fundador do jornal “O Pasquim”, ele também teve uma carreira voltada ao humor político.
Ziraldo e seus personagens
Arte/g1
Daniela conta que chegou a vistar o pai na cadeia, numa das vezes em que ele foi preso pelo regime.
“Ele ficou um mês numa solitária, o que pra mim foi das coisas mais violentas, porque meu pai era um cara que vivia em companhia da manhã à noite. Então, ficar numa solitária… Eu fui visitar ele e fiquei muito impressionada em ver como ele tava mudado, fragilizado, angustiado e solitário.”
O escritor e cartunista Ziraldo posa para foto durante entrevista concedida na cidade de São Paulo, em 13 de maio de 1993.
MÁRCIA ZOET/ESTADÃO CONTEÚDO
Tentaram, mas nunca conseguiram censurar Ziraldo. O cartunista ficou mundialmente conhecido. “Menino Maluquinho” foi publicada em 10 países.
Durante a carreira, o desenhista publicou mais de 130 livros.
A morte de Ziraldo vem seis anos após um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que vinha prejudicando sua saúde.
“Ele foi paulatinamente embora, então, a gente despediu. Eu despedi dele mil vezes. Eu tive mil conversas. Mil carinhos. Mil trocas”, diz Daniela.
A filha afirma que fica tranquila por saber o pai teve uma vida plena.
“Eu realmente desejei muito que ele partisse e parasse de sofrer. Fosse ser a cor da lua, fosse se encontrar lá no espaço. Ele sempre foi apaixonado pelo espaço, então… Eu não acredito em céu, essas coisas, mas no espaço eu acredito. Como a gente é poeira de estrela, ele vai voltar a ser poeira de estrela, então, ele tá realmente no seu elemento.”
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