26 de fevereiro de 2025

Filhos de médico francês acusado de agredir 299 menores depõem: ‘é difícil acreditar que meu pai fez isso’


Desde que o caso foi revelado, o mais jovem dos três filhos do réu diz que vem lutando contra ‘uma angústia diária’ e que passou a desconfiar de todos. Ilustração realizada no primeiro dia do julgamento do médico Joel Le Scouarnec, acusado de ter agredido sexualmente 299 pacientes, a maioria deles crianças.
Valentin Pasquier/AP
Os familiares de Joël Le Scouarnec, acusado de estuprar e agredir sexualmente 299 pacientes, começaram a testemunhar nesta terça-feira (25) na França. Eles afirmaram nunca terem desconfiado da atitude do médico, que pode pegar 20 anos de prisão.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
“No começo, foi difícil acreditar que era real (…) que realmente era meu pai”, resumiu o filho mais jovem de Joël Le Scouarnec, durante um longo depoimento.
Hoje com 37 anos, ele recordou o momento da revelação da violência sexual contra suas sobrinhas e centenas de pacientes entre 1989 e 2014. “Às vezes, sinto como se estivesse em outro mundo”, disse o rapaz.
Desde 2017, quando o caso foi revelado, o mais jovem dos três filhos do réu diz que vem lutando contra “uma angústia diária”. Ele afirma que, desde então, desconfia de todos.
“Se meu pai conseguiu fazer isso por anos, meu vizinho pode fazer, minha mulher pode fazer. Você fica meio paranoico”, diz ele. “Nunca deixo meu filho sozinho com ninguém, mesmo dentro da família, fico apreensivo”, relata.
“Sinceramente, eu me pergunto se nós também não tínhamos sido abusados”.
Ao mesmo tempo, ele diz ter lembranças muito boas do médico. “Acho que, no fundo, é por isso que, desde 2017, não tenho contato com meu pai, porque essa é a imagem que eu gostaria de manter dele”, explicou ao tribunal. Ele também afirmou que “a perversão” do pai “explodiu como uma bomba atômica na família”, e que “nunca poderá perdoá-lo”.
LEIA TAMBÉM
VÍDEO: Avião arremete para evitar colisão com jato que atravessava a pista nos EUA
Papa Francisco segue em estado crítico, mas não teve mais crise respiratória, diz boletim
Concurso mundial de fotografia anuncia finalistas, com brasileiros entre eles; confira
Caso Gisèle Pelicot: francês que dopava a esposa para estupros é condenado
Avô abusou sexualmente do neto
O rapaz também disse que não sabia que seu irmão mais velho havia sido agredido sexualmente pelo avô – o pai do réu. O caso, também revelado durante o processo, foi confirmado nesse segundo dia do julgamento pela própria vítima.
Seu irmão, hoje com 42 anos, contou durante seu testemunho ter sido molestado cerca de dez vezes, dos 5 aos 10 anos de idade. “Exibicionismo, toques, sexo oral… Tenho imagens que ficarão na minha memória a vida toda”, desabafa ao falar das agressões cometidas pelo avô.
A ex-mulher do réu, cujo aguardado depoimento estava marcado para o final do dia, chegou ao tribunal escondida sob um grande capuz preto, usando luvas pretas e uma máscara cirúrgica azul clara. Cercada pelas câmeras, ela teve de abrir caminho entre os jornalistas, tentando esconder o rosto com as mãos.
A ex-mulher do médico também afirma que nunca teve a menor suspeita de que seu marido fosse pedófilo, mesmo depois de sua primeira condenação em 2005. No entanto, provas datando da década de 1990 encontradas pela polícia sugerem o contrário.
Joël Le Scouarnec é alvo de 111 acusações de estupro e 189 de agressão sexual cometidos entre 1989 e 2014. Os casos são agravados pelo fato de que ele abusou de sua posição como médico e que 256 das 299 vítimas tinham menos de 15 anos quando foram agredidas.
O caso começou oficialmente em 2 de maio de 2017, quando a casa do cirurgião foi revistada pela polícia. Alguns dias antes, sua vizinha havia apresentado uma queixa. Ela acusou o cirurgião de atacar sexualmente sua filha de 6 anos através da cerca do jardim.
Três anos depois, em 2020, ele foi condenado a 15 anos de prisão por estupro e abuso sexual dessa menina, bem como de uma paciente e duas de suas sobrinhas.
Vitimas anestesiadas
Esse primeiro caso abriu uma “caixa de Pandora”, pois durante as buscas na residência do médico a polícia descobriu não apenas pornografia infantil, como também dezenas de diários nos quais ele descrevia minuciosamente seus crimes e suas vítimas.
As informações encontradas revelaram que as agressões já duravam mais de duas décadas e que centenas pessoas, principalmente crianças, teriam sido abusadas por Le Scouarnec.
No decorrer de suas investigações, a polícia cruzou os nomes das crianças com os registros dos locais onde Le Scouarnec havia trabalhado e conseguiu identificar as vítimas que, na maior parte dos casos, não sabiam que haviam sido agredidas, pois estavam anestesiadas.
Conselho de medicina criticado
Desde o início do processo manifestantes denunciam o fato de que as autoridades médicas, entre elas o Conselho de Medicina, já sabia há anos que Le Scouarnec poderia representar um risco para seus pacientes.
Em 2004, o FBI havia identificado o nome do médico durante uma investigação sobre a compra de pornografia infantil em sites russos. A polícia francesa foi informada e no ano seguinte ele foi condenado a quatro meses de prisão com sursis.
Dois dos hospitais para os quais o médico trabalhou desde então haviam sido informados das condenações. No entanto, Joël Le Scouarnec continuou a trabalhar com crianças até sua aposentadoria, em 2017.
VÍDEOS: mais assistidos do g1

Mais Notícias