Homem afirma ter trabalhado durante cinco anos na empresa. Segundo ele, colaboradores eram orientados a ‘maquiar’ os problemas, como a sujeira do local e os quartos em condições inadequadas. Prefeitura e empresa defendem prática porque pousadas são espaços privados. Tabela com datas de vistoria na Pousada Garoa
Reprodução/RBS TV
Um ex-funcionário da empresa que administra as pousadas da rede Garoa, dona da pensão onde um incêndio matou 10 pessoas, afirma que as fiscalizações feitas nos locais eram previamente avisadas por uma servidora da Prefeitura de Porto Alegre. De acordo com o homem, que prefere não ser identificado, colaboradores eram orientados a “maquiar” os problemas, como a sujeira do local e os quartos em condições inadequadas.
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“Tinha uma pessoa lá da FASC [Fundação de Assistência Social e Cidadania] que sempre avisava direto o dono da pousada antes, e daí o que era possível esconder ele mandava esconder. Era assim que funcionava”, relatou o ex-funcionário à RBS TV.
Veja abaixo o que dizem a servidora citada, a prefeitura e a rede Garoa.
Ex-funcionário de empresa que administra as redes de pousadas Garoa faz denúncia
Em reportagem que foi ao ar no Jornal do Almoço, da RBS TV, nesta segunda-feira (29), o repórter Giovani Grizotti revelou uma tabela, referente a julho de 2023, com datas das inspeções que seriam realizadas em cada unidade.
A planilha de vistorias incluía a pousada que pegou fogo na sexta-feira (26). As fiscalizações no local teriam sido feitas nos dias 5, 13, 19 e 27 de julho.
“Fiscalização não é visita. Visita é essa, agendada. Não se faz essa marcação em hipótese alguma, porque, evidentemente, que aquele estabelecimento, se está irregular, vai se fazer o possível para mascarar essa irregularidade”, avalia o especialista em gestão pública, José Luiz Blaszak.
Tabela com datas de vistoria em pousadas da rede Garoa
Reprodução/RBS TV
Os fiscais que deveriam ter identificado as irregularidades nas pousadas da rede não tinham livre acesso aos prédios. Troca de mensagens entre funcionários indicam que a entrada de servidores da prefeitura era barrada. Um segurança, identificado como Sanchez, teria impedido as inspeções.
“Todo e qualquer local onde há ausência da fiscalização e a atuação rigorosa de quem contrata por meio do processo licitatório, nós estamos sempre correndo um alto risco de tragédias. E não foi diferente agora”, conclui Blaszak.
Nesta segunda, começaram as vistorias da prefeitura em unidades da rede garoa após o incêndio da última semana. O trabalho é feito por equipes técnicas e não pode ser acompanhado pela imprensa, para preservar a identidade dos acolhidos.
Mensagem sobre fiscalização em pousadas da rede garoa
Reprodução/RBS TV
O que dizem os envolvidos
A servidora da prefeitura que, segundo o ex-funcionário da rede de pousadas, avisava os locais sobre as fiscalizações confirmou que a Garoa sabia previamente quando as vistorias eram feitas. Ela disse que isso era necessário por uma “questão de privacidade dos hóspedes” e porque “algumas pensões ficam trancadas durante o dia e era preciso ter alguém para abrir a porta”.
O secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, Léo Voigt, também defendeu o aviso prévio das vistorias. “Claro, nós estamos entrando em espaço privado, nós não temos nenhuma ordem judicial para entrar lá e nós não somos fiscais. Se ele tem uma inadequação estrutural, ele vai rapidamente fazer uma reforma para nos receber? Do ponto de vista estrutural, nada acontecerá”, sustenta Voigt.
A direção da rede Garoa alega que o aviso prévio das vistorias é necessário, porque os locais são privados. O responsável também desqualifica o autor das denúncias, afirmando que o ex-funcionário responde a vários processos judiciais.
Print de mensagem sobre pousada da rede Garoa
Reprodução/RBS TV
O incêndio
Na madrugada de sexta-feira (26), uma pousada na Avenida Farrapos, no Bairro Floresta, ficou em chamas. Os bombeiros chegaram por volta das 2h para combater o incêndio, que só foi controlado três horas depois. Entre as vítimas, duas foram encontradas no primeiro andar; cinco, no segundo; e, no terceiro, mais três pessoas.
A origem do incêndio ainda é desconhecida. O Corpo de Bombeiros afirma que o incêndio se espalhou rapidamente, comprometendo a saída das pessoas do local. Também diz que não havia plano de prevenção contra incêndio (PPCI) nem alvará para funcionar como atividade residencial.
A Prefeitura de Porto Alegre afirma que a documentação da empresa dona da pousada junto ao município estava em dia e que havia autorização para a operação como hospedagem.
A Polícia Civil busca ouvir as pessoas que estavam no local na hora do incêndio, os responsáveis pelo prédio e quem fiscalizou o imóvel.
Em nota divulgada no sábado (27), os responsáveis pela Pousada Garoa afirmam que estão “colaborando plenamente com as autoridades competentes para esclarecer os detalhes deste acontecimento”.
“A segurança de nossos hóspedes e colaboradores são nossa prioridade. Nosso total empenho em fornecer todo o apoio necessário perante as pessoas. Além disso, continuamos nosso trabalho de assistência à população de rua, reforçando nosso compromisso social”, diz o comunicado.
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